Considera-se o motor da ModaLisboa?
Um motor com muitos motores. Eu sou um motor porque estou cá desde que isto nasceu. Sou aquele motor que é permanente. Tenho ultrapassado muitas crises.
Qual foi a edição mais marcante da ModaLisboa?
Em 27 anos é muito difícil dizer uma que tenha sido a mais marcante. Por exemplo a Five Stars, a Play, a Move ou a Luz, da edição passada.
Maior barraca/imprevisto que já aconteceu numa edição da ModaLisboa?
A maior e única propriamente dita foi a não vinda do Galliano. Deu história pública.
O que é que acontecia antes que não acontece agora na ModaLisboa?
Durante muitos anos, eu, o Paulo Gomes e o João Bacelar editávamos um jornal que era diário. Quando os dias de ModaLisboa acabavam, depois de um estoiranço, iam todos embora e nós ficávamos até as 06.00 da manhã. Era o DailyModaLisboa. Depois começou a ser só um para os três dias e agora há o digital. Tinhamos que editar, escolher as fotos, imaginar temas. Era uma loucura.
O que a orgulha mais nestes anos todos?
Estes anos todos. E todo o trabalho que foi desenvolvido ao longo dos anos, que permitiu que outros players estejam envolvidos neste mundo hoje.
O que mudou na moda em Portugal desde a primeira edição?
Tudo. O maior objectivo era que se deixasse a designação e ideia de indústria têxtil e se trocasse por indústria de moda. Agora é uma indústria muito mais rica, engloba tudo, todas as actividades inerentes à moda. Quando começámos nem moda havia, só fenómenos, como a Ana Salazar. Para um país que tinha essa indústria têxtil tão marcada, fazer essa mudança de paradigma era muito importante.
Se tivesse que escolher um designer para vir apresentar uma colecção à ModaLisboa qual seria?
Não sei quem escolhia. A história do Galliano traumatizou. Adorava ter um Alessandro Michele [da Gucci] mas nao faria sentido. Escolhia alguém da nova geração, mais disruptivo.
O que dizer às pessoas que vão à ModaLisboa só para aparecer?
Nada. Mas acho que hoje em dia isso já não acontece tanto, é residual. Moda não são camisas. Mas, em bom rigor, diria “olá, boa tarde”.
Há um look ideal para vir ver as modas?
Não. Não há looks ideais para ir a lado nenhum. Estamos a viver um momento em que as pessoas estão a viver uma grande liberdade individual.
É possível abrir a ModaLisboa ao público ou isso é uma utopia?
Nós já abrimos a ModaLisboa ao público, não podemos abrir tudo. Por uma questão de lotação e de segurança. Ainda na última edição, os desfiles da plataforma LAB foram todos abertos ao público, no jardim do Pavilhão Carlos Lopes. Mas são coisas que temos de comunicar mais em cima da hora. Se fizermos uma comunicação massiva podemos não ter a segurança necessária.
Se a ModaLisboa tivesse orçamento ilimitado, o que mudava?
Imensa coisa. Crescíamos. Nem precisava de um orçamento ilimitado, nem sei bem o que isso é, para dizer com franqueza. Bastava ter o dobro para investir. O crescimento da ModaLisboa significa o crescimento dos seus designers.
Há algum sítio onde sempre quiseram fazer um desfile mas nunca conseguiram?
Há. Esta edição foi a primeira vez que tentámos e não conseguimos. Não posso dizer porque ainda não desisti para a próxima, mas era um sítio com muitas tutelas.
É workaholic?
Já fui mais. Delego.
Quantas pessoas tinha a equipa na 1.ª edição e quantas são agora?
Na edição zero, no Pavilhão do Tabaco, andei a carregar cadeiras de ferro com o Pedro Felgueiras. Éramos quatro para comunicação, montar e pensar. No São Luiz já tínhamos equipas francesas. Agora temos uma equipa residente de oito e durante a edição somos 600.
Como é coordenar uma equipa desta dimensão?
É nem sequer pensar. Só agir.