Portugal quer – e pode – estar no mapa da produção de moda sustentável. Pode ser parte do futuro de uma das indústrias mais poluentes do mundo que se começa a construir, finalmente, em torno de uma produção responsável e amiga do ambiente. Gosta da ideia? A conferência internacional Sustainable Fashion Business trata de a trazer à discussão e pelo caminho mostra as oportunidades e vantagens do Made in Portugal. Acontece na sexta, 23, na Academia das Ciências, em Lisboa.
Temos o savoir faire, o know-how – o que lhe queira chamar e na língua que preferir. A moda é um sector económico que representa cerca de 5% no PIB. A isso junta-se o facto de o índice de compra da sustentabilidade ter crescido mundialmente cerca de 15% desde o início da pandemia. Uma equação cujos termos casam bem se estivermos a falar de produção nacional. “No ano em que Lisboa é a Capital Verde Europeia ainda não havia nada na agenda que cruzasse a sustentabilidade e a moda, e, na verdade, nunca fez tanto sentido falar sobre isso”, diz Catarina Santos Cunha, CEO da Kind Purposes, uma das organizadoras do evento, e project leader da conferência. “Queríamos fazer uma coisa mais positiva à volta do problema. Cá já produzimos de forma sustentável, somos um exemplo, daí querermos alargar o espectro e levar esta discussão além fronteiras para mostrar a marcas de moda internacionais o quão atractivo Portugal é neste sentido”, explica.
A indústria é reconhecida pelas qualidades artesanais e pela qualidade do fabrico, mas a mensagem perde-se aí. “O problema é que nós, portugueses, somos makers, mas não nos sabemos comunicar”, explica Catarina. “Há um trabalho de comunicação por detrás desta indústria que é fazer chegar o que fazemos lá fora. Temos de estar ao lado das marcas que querem seguir este caminho da sustentabilidade, porque as marcas querem ter na etiqueta ‘Made in Portugal’. Nós temos soluções”.
Qual é então o lugar de Portugal na produção de moda sustentável? Qual a importância de uma economia circular? Que financiamento da Capital Verde pode ser dirigido a empresas com foco na sustentabilidade? Que sinergias podem ser criadas entre a nossa indústria e as marcas estrangeiras? Muitas perguntas e ainda mais respostas possíveis, tudo para ser discutido ao longo de várias conversas com vozes distintas da indústria.
Catarina destaca a falta de educação na hora do consumo. “Temos de substituir o ter pelo valor. Se custar o dobro, mas durar o triplo do tempo, onde é que está a dúvida?”, questiona. O fast fashion surgiu para democratizar a moda, mas é também o segmento que continua a alimentar o lado mais negro da indústria. “Deu poder de compra aos consumidores, mas eles não se questionam sobre nada do que pode estar por detrás”, refere. “Temos de questionar, ler etiquetas, tentar arranjar um equilíbrio. Temos de mudar mentalidades”.
Será possível assistir presencialmente à conferência, sobretudo se fizer parte da indústria. Mas para que a mensagem chegue a todos, está garantida a transmissão online. As inscrições são necessárias em ambos os casos e são gratuitas, estando disponíveis já no site.
Para além das talks, ao longo do dia, nos claustros da Academia de Ciências, vão estar em exposição várias peças e projectos presentes na conferência. A Sustainable Fashion Business é um grande passo para Portugal – e também para a Humanidade. “Temos tudo cá para o futuro da moda ser incrível”, remata Catarina.