Televisão, Séries, Crime, Drama, Ozark
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Cara ou coroa? As nossas apostas para os Globos de Ouro de televisão

Nesta temporada, os principais prémios de TV giram à volta do streaming, com a Netflix em destaque. Antecipamos a entrega dos Globos de Ouro.

Hugo Torres
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Depois de um ano singular, uma temporada de prémios sem precedentes. Em 2021, o habitual período de celebração do cinema e da televisão, com sucessivas cerimónias de entrega de prémios, será mais longo do que o costume. Vai pelo menos até 25 de Abril, noite prevista para os Óscares. Os Globos de Ouro, entregues na madrugada de domingo para segunda-feira (na hora de Portugal, 1 de Março, da 01.00 às 04.00), são o primeiro grande momento. Sem passadeira vermelha e com apresentadoras e convidados ligados digitalmente, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood vai distinguir uma produção audiovisual que passou sobretudo pelo streaming em ano de pandemia. A Netflix domina em número de nomeações (42), tanto nos filmes como nas séries – mas pode haver surpresas. Antecipamos as principais categorias de TV, para que veja o que ainda não viu e possa partilhar indignações informadas quando o vencedor for outro que não o seu favorito.

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Melhor série dramática

Netflix

Com três séries nomeadas em cinco, está na linha da frente para levar o prémio para Los Gatos, Califórnia. Desse lote, a vencedora menos provável é Ratched, uma origin story da retorcida enfermeira de Voando Sobre Um Ninho de Cucos (Milos Forman, 1976) e mais uma prova do deslumbramento e da complacência de Ryan Murphy (Glee, American Crime Story) com a indústria desde que assinou um contrato milionário com a Netflix, que lhe deu carta branca para fazer o que quisesse (alguém lhe ponha uma trela!).

Os olhos estão postos em The Crown, a destacada favorita. Esta grande produção venceu esta categoria em 2017 e, desde então, tem sido sempre nomeada. À quarta temporada, nos anos 1980 de Thatcher e do “conto de fadas” de Charles e Diana, a criação de Peter Morgan mantém a pose e cumpre com o protocolo previsto para uma série de prestígio: enche o olho e faz figura entre os nomeados (além de melhor série dramática, também estão indicados Olivia Colman, Emma Corrin, Gillian Anderson, Helena Bonham Carter e Josh O’Connor).

Mas por aqui já temos bandeiras, cachecóis e demais parafernália de adepto para torcer por Ozark, a terceira produção Netflix na corrida a este prémio. Ooooooooooozark!... Ouvem-nos daí? A série protagonizada por Jason Bateman, Laura Linney e Julia Garner (também nomeados), sobre uma família de classe média-alta, burocrática e enfadonha, que se vê obrigada a lavar dinheiro para um cartel mexicano, num casino flutuante paredes meias com um bando de rednecks, é tudo o que os viúvos de Breaking Bad estavam a precisar.

Disney

A pergunta que está na mente de toda a gente é: como é que a Associação de Imprensa Estrangeira consegue resistir a mimar uma série com um “Baby Yoda”? A resposta é: talvez não resista. Embora a recente polémica com uma das suas protagonistas, Gina Carano – que comparou a luta política nos EUA com o processo que conduziu ao Holocausto, sendo prontamente despedida pela Disney –, não ajude, The Mandalorian tem argumentos de sobra para conquistar o Globo de Ouro. Desde logo porque o showrunner Jon Favreau acrescenta camadas a uma das sagas mais acarinhadas do cinema, Star Wars, explorando a desconhecida história da espécie do mestre Yoda.

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HBO

Lovecraft Country é o quinto e último nomeado. A série criada por Misha Green é simultaneamente uma homenagem aos resistentes da América segregada e uma antologia exacerbada de (demasiados) géneros de terror e ficção científica. Se este serviço de streaming estaria mais bem representado por I May Destroy You? Claro que sim.

Melhor série de comédia ou musical

Netflix

Emily in Paris, a levíssima série do criador de O Sexo e a Cidade, Darren Star, acompanha o choque cultural vivido por uma jovem do Midwest americano no ambiente snobe de uma empresa de moda na capital francesa, para onde vai trabalhar como especialista em marketing digital. A nossa tese? Foi nomeada para compensar a protagonista, Lily Collins (também indicada em nome próprio), por não ter sido reconhecida por Mank.

HBO

Nesta categoria, é aqui que está a pole position, com duas nomeações. Uma para The Flight Attendant, comédia negra pilotada por Kaley Cuoco, que após 12 temporadas de A Teoria do Big Bang é indicada pela primeira vez para um Globo de Ouro de interpretação. A actriz faz de Cassie Bowden, uma assistente de bordo alcoólica que acorda num quarto de hotel junto a um homem degolado (a aventura romântica da noite anterior). Divertido? Não tanto como The Great – nem de perto nem de longe. A Rússia imperial e obscurantista do século XVIII, governada por um mimalho egocêntrico, depravado, absolutista e sanguinário, tem muito mais material para nos rirmos. E o criador Tony McNamara (A Favorita) carrega na caricatura, com a preciosa ajuda de Elle Fanning (Catherine) e Nicholas Hoult (Peter, o imperador), ambos também nomeados. Não é a nossa aposta, mas, se vencer, huzzah!

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Apple TV

Talvez seja a primeira vez que se usa a palavra underdog e Apple na mesma frase – mas no streaming, a este nível, ainda faz sentido. Ted Lasso corre à margem dos gigantes da nova televisão, mas é um concorrente à altura das circunstâncias. Trata-se de uma comédia que não vive só de risos e momentos embaraçosos; pode mesmo levar à lágrima comovida. Centra-se na personagem que lhe dá nome, interpretada por Jason Sudeikis, um treinador de futebol americano contratado para treinar um clube de futebol inglês. Porquê? Porque a presidente do clube, Rebecca Welton (Hannah Waddingham), quer afundá-lo por vingança.

TVCine

Escondida na recôndita Pop TV, Schitt’s Creek demorou a fazer o seu caminho na televisão americana, e só se estreou em Portugal em Novembro passado, quando já tinha chegado ao fim das suas seis temporadas e limpado a última edição dos Emmys. É a única representante do cabo nestas categorias, mas é a mais forte candidata a ganhar esta. A vida dos Rose, uns ricalhaços caídos em desgraça e forçados a viver numa cidade perdida e rural, é o motor desta sátira criada e interpretada por Eugene e Dan Levy (pai e filho). Se só vai começar a ver agora, não tem problema: o TVCine+ disponibiliza todos os episódios.

Melhor minissérie

Netflix

Eis-nos na grande incógnita destes três prémios. A Netflix tem duas produções nomeadas, uma das quais com boas hipóteses de fazer boa figura: Gambito de Dama. A minissérie criada por Scott Frank e Allan Scott, dois argumentistas de diferentes gerações, agarrou meio mundo à história de Beth Harmon (Anya Taylor-Joy), um génio do xadrez, solitária e autodestrutiva. Não é de estranhar que agarre a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood também. Por outro lado, Unorthodox é uma pérola do catálogo, sobre uma jovem (Shira Haas) que foge de uma comunidade judaica ultraortodoxa e do casamento forçado, em busca de uma liberdade que só encontra na música, que lhe é interdita. Uma pérola que parece ganhar só pelo facto de estar nomeada. Se não ouviu falar dela ou ainda não a viu, não se deixe enganar pela falta de buzz: é essencial. Baseia-se em factos reais.

HBO

Aqui estão os outros dois títulos com aspirações ao prémio, em particular The Undoing, produzida e interpretada por sua alteza real dos olhos bem abertos, Nicole Kidman. Um thriller psicológico envolvendo a classe alta de Manhattan, logo transformado em drama de tribunal, que nos envolve na dúvida sobre a possibilidade de um respeitado oncologista pediátrico (Hugh Grant), casado com a personagem de Kidman, ser ou não o assassino brutal da deslumbrante Elena (Matilda de Angelis). O criador, David E. Kelley, é o mesmo de Big Little Lies – e as comparações não são descabidas. Mais modesta e sem nomes sonantes, a produção irlandesa Normal People, que acompanha a entrada na idade adulta de Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones) e Connell Waldron (Paul Mescal), com os desafios e as inquietações próprias dessa altura da vida, também seduziu audiência suficiente para se apresentar de cabeça erguida nesta cerimónia dos Globos de Ouro.

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Amazon Prime

Last, but certainly not least, Steve McQueen. O realizador de 12 Anos Escravo assina a série antológica Small Axe, que se debruça sobre a difícil vida dos imigrantes das “Índias Ocidentais” numa Londres não muito longínqua – as cinco histórias decorrem entre 1969 e 1982. O título é uma referência a um provérbio inglês (“If you are the big tree, we are the small axe”) que Bob Marley já havia vertido em canção. Música é, aliás, o que não falta por aqui, nem comida bem condimentada, para temperar a luta diária desta comunidade negra. Os críticos de Nova Iorque e de Los Angeles já distinguiram esta obra, nas respectivas entregas de prémios. John Boyega (Star Wars) faz parte do elenco e também está nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Actor Secundário em televisão. A Amazon é mais discreta e menos prolífica do que os concorrentes do streaming, o que significa que nem sempre é levada na conta certa. Mas não se surpreenda se Small Axe arrancar este prémio pela raiz.

As nossas escolhas em 2020

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