Elle Fanning and Timothée Chalamet in 'A complete unknown'
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Ascensão e queda: 14 biopics sobre estrelas da música

O principal dilema de um realizador filmando a vida de um músico é escolher entre filmar a música ou filmar o músico. A maioria tenta a abrangência. E é aí que a coisa costuma correr mal. Estes 14 filmes, no entanto, safam-se todos bem.

Hugo Geada
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Filmar música não é só fazer videoclipes ou musicais. Muitos artistas têm personalidades gigantescas, perfeitas para inspirar grandes filmes. De Elvis Presley a Elton John, passando por Johnny Cash, várias lendas da música viram as suas histórias contadas no cinema – com episódios tão recambulescos que às vezes nos fazem questionar a sua veracidade. Entre vidas atribuladas, sucessos estrondosos e quedas dramáticas, estas biografias captam não só a essência dos artistas, mas também a força das suas performances. Nesta lista, reunimos os 14 filmes que melhor souberam traduzir a energia e o carisma destas figuras icónicas para o grande ecrã, oferecendo um olhar íntimo sobre os bastidores da fama e do estrelato.

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Cinema: 14 biografias musicais

Caminho da Glória (1976)

O filme de Hal Ashby teve o que se costuma dizer uma sorte macaca. Por um lado, apesar das suas qualidades, foi logo afastado dos Óscares mais apetecíveis (embora tenha recebido o de Melhor Direcção de Fotografia e Melhor Música) pela concorrência de Táxi Driver, Rocky (vencedor de Melhor Filme e Melhor Realização, por chocante que seja), Escândalo na TV e Os Homens do Presidente. Depois, também não se pode dizer que o público estivesse propriamente virado para saber da vida e obra de Woody Guthrie. Finalmente, porque a crítica não foi mais do que morna com o filme protagonizado por David Carradine. Ainda assim, a obra cinematográfica que recorda a vida e a obra de um dos mais importantes cantores e compositores norte-americanos sobreviveu ao tempo e, hoje, continua a ter a energia e a importância que Ashby lhe imprimiu como se a cantiga fosse uma arma.

Amadeus (1984)

Saber se foi Salieri (F. Murray Abraham) quem mandou matar Mozart (Tom Hulce) é uma estimulante distracção introduzida por Milos Forman (enfim, pela peça de Peter Shaffer que o realizador adaptou) na sua peculiar observação da vida de Wolfgang Amadeus. O filme, na verdade, é uma celebração da música que, mais ou menos às escondidas, usa episódios da vida do compositor para especular sobre a origem da sua criatividade. (Foi Deus, como preferia Salieri?) Ao mesmo tempo, Forman dá largas à imaginação e, pelo mesmo processo, “explica” a música como uma espécie de emanação de um espírito perturbado pela beleza; apesar da vida de estroina, de mulherengo e caloteiro, tocado por um talento que contaminou o cineasta e valeu oito Óscares.

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Sid & Nancy (1986)

Sid Vicious e Nancy Spungen (aqui interpretados por Gary Oldman e Chloe Webb) são a Família Real do punk feio, porco e mau que mudou a música popular na segunda metade da década de 1970. E a dramatização da sua vida em comum pelo realizador Alex Cox não esconde nada, de certa maneira como se seguisse a sentença de John Lydon (ou Rotten, o apelido que usava na altura), que se referia ao casal, quando Vicious começou a andar de candeias às avessas com os outros Sex Pistols, como “a mais reles forma de vida.” Há muito experimentalismo nesta obra de Cox, que vagueia entre as águas do documentário e do realismo mágico, mas o que lhe acrescenta valor é a intensidade dramática do argumento e as soberbas interpretações de Oldman e Webb.

What’s Love Got To Do With It? (1993)

Brian Gibson filmou a vida de Tina Turner, melhor, a sua existência artística e pessoal durante o casamento com Ike Turner, e, como a fénix, o seu renascimento depois da fuga de um marido que, sim, era um músico brilhante, e ao mesmo tempo um estupor com as mulheres. O filme vem em tom convencional, porém o realizador não se inibe na construção das personagens, apresentando a cantora evidentemente como vítima, sem no entanto esconder a sua ambição, ou o seu desejo de estrelato, com o medo, razão de aguentar tanta humilhação e porrada. A interpretação de Angela Bassett e Laurence Fishburne é de grande categoria e, na sua vivacidade, fundamental ao bom desenvolvimento da narrativa.

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24 Hour Party People (2002)

Uma viagem alucinante pela cena musical de Manchester entre os anos 70 e 90, guiada pelo irreverente Tony Wilson (Steve Coogan), jornalista, empresário e fundador da icónica Factory Records. O filme do britânico Michael Winterbottom conduz-nos pelo nascimento do punk, a ascensão da acid house e as lendárias noites no Hacienda. Esta longa-metragem – que mistura realidade, ficção e humor – é fascinante porque não só é uma autêntica enciclopédia da história da música britânica, como também o vai prender ao ecrã pela sua imprevisibilidade e ritmo frenético.

Walk the Line (2005)

Ainda no formato de biografia convencional, James Mangold, com preciosa colaboração de Joaquin Phoenix e, ainda mais, de Reese Witherspoon (que sacou justo Óscar pela sua interpretação de June Carter Cash), atira-se à história de Johnny Cash. E, embora o filme tenha tudo para o desastre, o realizador faz da vida deste monumento da canção norte-americana uma estimulante e pouco moralista via dolorosa, iluminada, a espaços, e sempre em tons de cinzento, pela crueza bela da música. Está lá tudo, da má vida às drogas, aos tormentos físicos e psicológicos, a fé e a dúvida de um homem que viveu quase sempre à beira do abismo e provavelmente nunca encontrou a paz. Mas está lá tudo sem aproveitamento demagógico. Como um quadro sem título.

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Control (2007)

Havia um poeta. Viveu depressa. Matou-se cedo. Pode-se dizer que a sua vida foi como um foguete. Apareceu, iluminou o céu, encantou, e estatelou-se no chão como uma cana sem préstimo. Foi pessoa que pouco encontrou de bom na vida, mas que cantou a decepção e o desespero com uma sinceridade e um dramatismo que os tornou belos e quase suportáveis. Sobre Ian Curtis (Sam Riley) Anton Corbijn fez um filme preciso, honesto e bonito, ilustrando a época em que o punk estava morto, a new wave ainda mal andava, e os Joy Division criavam o vocabulário poético e sonoro que cristalizou a angústia de uma geração, e influenciou a melhor música popular da década de 1980 em diante. Em preto e branco espartano, Corbijn captou esse momento, esse ambiente, através de uma reconstituição rigorosa, com um carinho ligeiramente nostálgico.

I'm Not There – Não Estou Aí (2007)

Deitando às urtigas as convenções da biografia cinematográfica, o realizador Todd Haynes olha para o músico e para o homem através da evolução estética, política e estilística das canções. E quando vê obra tão rica e inquieta, e, por vezes, tão controversa, em vez de procurar a resposta simples vai pelo caminho mais longo. Por uma estrada panorâmica de onde (estava toda a gente longe, mesmo longe de pensar que Bob Dylan seria um dia Nobel da Literatura) surgem meia dúzia de encarnações (heterónimos, se preferirem, dado o novo estatuto do poeta) para o criador de The Times They Are a-Changin’, Bringing It All Back Home, Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde, que Cate Blanchett, Christian Bale, Heath Ledger, Ben Whishaw, Richard Gere e Marcus Carl Franklin interpretam com primor e emoção.

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Love & Mercy (2014)

A vida de Brian Wilson, génio criativo dos Beach Boys, é retratada em duas fases distintas, explorando os altos e baixos da carreira e da vida pessoal. A longa-metragem vai alternando entre os anos 60 (Paul Dano), quando estava a criar Pet Sounds – que se viria a tornar na obra-prima do grupo – e a batalha contra as pressões da fama, e os anos 80 (John Cusack), em que Wilson, já fragilizado pela doença mental e manipulação do psiquiatra Eugene Landy (óptima interpretação de Paul Giamatti), encontra apoio no amor de Melinda Ledbetter (Elizabeth Banks). Esta abordagem intimista (e em partes perturbante) é um retrato fiel de um dos mais importantes artistas da música popular.

Straight Outta Compton (2015)

Quase uma década depois do filme de Haynes, contudo sem lhe seguir o exemplo, a película de F. Gary Gray (que, entretanto, dirigiu Velocidade Furiosa 8) é, ainda assim, uma estimulante variação sobre a vulgaridade do género biográfico. Produzido e controlado pelos músicos sobreviventes dos Niggaz Wit Attitudes (N.W.A.), DJ Yella, Dr. Dre, Ice Cube e MC Ren (Eazy-E morreu em 1995, vítima de sida), o filme retira o título do álbum mais conhecido da banda, disco que não só foi um êxito comercial, como, mais do que tudo, inaugurou a era do gangsta rap e introduziu nas letras do género uma linguagem realmente revolucionária, que, até para própria cultura hip-hop de então, era mais subversiva e transformadora que a força de uma canção, "Fuck tha Police", que nasceu como palavra de ordem e existe como hino da luta anti-racista na América.

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Bohemian Rhapsody (2018)

A vida de Freddie Mercury, vocalista da lendária banda Queen, é retratada numa viagem emocional entre os altos e baixos da sua carreira e vida pessoal, culminando na imperdível actuação do Live Aid (1985). O filme mergulha na luta de Freddie com a sua identidade, sexualidade e a procura pela aceitação, tanto dentro como fora do palco. A longa-metragem é realizada por Bryan Singer e protagonizada por Rami Malek, cuja interpretação lhe valeu o Óscar de Melhor Ator, recebendo ainda o galardão nas duas categorias de som (edição e mistura) e de melhor edição.  

Rocketman (2019)

A ascensão de Elton John ao estrelato é retratada de forma exuberante e colorida, explorando não só o talento único do artista, mas também as lutas internas e o preço da fama. O filme acompanha a transformação de Reginald Dwight até se tornar num dos ícones da música pop, ao mesmo tempo abordando as suas inseguranças, vícios e a busca incessante por amor e aceitação. Com uma banda sonora inesquecível e performances arrebatadoras (nomeadamente, a cena onde é interpretada a música que partilha o nome com a longa-metragem), Rocketman é uma viagem intensa pelo caminho turbulento de um dos maiores artistas da história.

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Elvis (2022)

A história de um dos mais influentes artistas da história da música contada através da lente vibrante e intensa de Baz Luhrmann. O filme mergulha na relação complexa entre Elvis Presley (Austin Butler) e o seu agente, Coronel Parker (Tom Hanks), revelando os altos e baixos de uma vida marcada pela fama e excessos. O climax acontece numa actuação em Rapid City, com a lenda a apresentar uma interpretação intensa de Unchained Melody, a 21 de Junho de 1977, tendo morrido poucos dias depois. A longa-metragem recebeu oito nomeações para os Óscares, incluindo melhor actor para Austin Butler e melhor filme do ano.

A Complete Unknown (2024)

Em 1961, um jovem músico chega a Nova Iorque, determinado a deixar a sua marca no mundo da música. Através de encontros com figuras como Pete Seeger (Edward Norton) e Joan Baez (Monica Barbaro), e da sua ascensão na cena folk, o filme explora a transformação de Bob Dylan de um cantor de rua para uma lenda da música. Realizado por James Mangold (autor também de Walk the Line), A Complete Unknown apresenta Timothée Chalamet no papel principal, oferecendo uma interpretação que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor.

Cinema e música: um casamento perfeito

  • Filmes
Alguns, como John Williams, alinham Óscares uns atrás dos outros com grandiloquência. Outros, como Nino Rota ou Henri Mancini, são mais discretos. E Ryuchi Sakamoto, então, cria ambientes como poucos, ou talvez só como Max Steiner outrora o fez. Sete exemplos excepcionais e bastante distintos seguem já a seguir. São bandas sonoras inesquecíveis – e premiadas pela Academia de Hollywood com o Óscar. 
  • Música
  • Jazz
Apesar da proliferação de festivais de jazz e do sucesso planetário de cantores pop que se apresentam sob o rótulo de “jazz”, o género está hoje longe de desfrutar da popularidade que atingiu na década de 1950 e nos primeiros anos da década de 1960. A prova disso é que hoje o cinema mainstream não corre o risco de ter como banda sonora jazz “puro e duro”. Na selecção que se segue privilegiam-se as bandas sonoras originais compostas e executadas por músicos de jazz.
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