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Cinema: cidades como nunca se viram - Vol.2

A parte do meio costuma ser a melhor é uma lei que talvez não se aplique aos ciclos de cinema, mas fica bem à segunda de três partes do ciclo, "O Cinema e a Cidade". O certo é que nesta programação de Outubro se encontram um conjunto de suculentos filmes.

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Sem cidades dentro até podia haver cinema, mas não era a mesma coisa. Já se disse, mas deve repetir-se, pois as cidades e a sua arquitectura física e moral, verdadeiras ou imaginadas, há muito que deixaram de ser paisagem para se tornarem parte do drama, com se vê nestes nove filmes urbanos.

Cinema: cidades como nunca se viram - Vol.2

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Dizer que Metrópolis “é uma parábola sobre as relações sociais numa cidade do futuro”, hoje, é mais uma ameaça do que a profecia que foi em 1927, quando o filme de Fritz Lang estreou. Na verdade, perante as transformações sociais e as radicais alterações do trabalho anunciadas para as próximas décadas, o filme do realizador alemão, em que os ricos vivem o seu privilégio nas alturas e os trabalhadores habitam os subterrâneos, a parábola torna-se assustadora previsão que a fantasiosa reconciliação de classes do final não alivia. Para além das considerações sociopolíticas suscitadas pela obra, o mais importante, aqui, é a extraordinária realização de Lang, principalmente a utilização plástica das centenas de figurantes sobre o cenário futurista. Esta sessão inclui ainda a apresentação de Manhatta, filme dirigido por Paul Strand e Charles Sheeler, em 1921, apresentado como “a primeira ‘sinfonia urbana’ que se conhece e um marco na história do modernismo” criado a partir de um poema de Walt Whitman.

Segunda, 2, 15.30.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Federico Fellini reúne nesta película de 1972 as suas recordações de infância das lições escolares sobre a Roma imperial, e a elas junta as aventuras de um rapaz da província na capital, um desfile de moda eclesiástica, visitas a bordéis, discussões entre o realizador e estudantes, festas de rua ou, entre as fugazes aparições de Anna Magnani e Gore Vidal, representações em teatros tomados pelo caruncho. Tudo para criar o seu “canto de amor à capital italiana.”

Quinta, 5, 15.30.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Quem aprecia ou tem curiosidade por “um mapa não-linear da evolução histórica e política da cidade de Londres e do Reino Unido em geral” tem, no filme de Patrick Keiller (assim como em Robinson in Space e Robinson in Ruins), estreado em 1994, muito com que se entreter. Ensaio cinematográfico, o retrato traçado pelo realizador através das explorações urbanas do “investigador” Robinson, sempre ausente da tela, assim como o seu companheiro invisível e narrador de serviço (Paul Scofield), procura conjugar duas vertentes do pensamento crítico através da “literatura urbana de Poe, Baudelaire, Louis Aragon, Walter Benjamin, entre outros”, por um lado, e, por outro, pelas “visões diversas do declínio do capitalismo inglês, em particular a ideia de que a Inglaterra é uma economia em decadência e atrasada por nunca ter tido uma revolução burguesa de sucesso.” O que dá decerto que pensar.

Sábado, 7, 19.00.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Aí pelos anos de 1960, o filme em episódios era um subgénero bastante popular, pois, aparentemente, permitia uma visão distinta do mesmo objecto de observação. Foi com essa intenção que Jean Douchet reuniu os realizadores Jean Rouch, Jean-Daniel Pollet, Eric Rohmer, Jean-Luc Godard e Claude Chabrol para contarem cinco histórias distintas passadas em diferentes bairros de Paris.

Domingo, 8, 22.30. Projecção ao ar livre.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

Olha-se para a cidade do Dubai e qualquer pessoa se espanta sobre como um pedaço de deserto mais ou menos imprestável se tornou numa das cidades mais dinâmicas e arquitectonicamente desafiante. Uma maneira de saber como aconteceu, não necessariamente a única nem a mais fiel, está impressa no filme de Christian Von Borries, para quem o “Dubai talhou para si próprio a reputação de objecto teórico.” Ideia que o cineasta alemão procura demonstrar (ou desmontar) nesta espécie de divertimento militante onde joga com as convenções e as imagens interagem com a narração e a inscrição de textos.

Quinta, 12, 19.00.

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Sessão tripla que, além do filme de Edgar Pêra, A Cidade de Cassiano (Grande Prémio da Biennale International du Film d’Architecture e Prémio Crítica Festival Filmes de Arte Montreal em 1991), sobre a obra do arquitecto Cassiano Branco, principalmente o Cinema Éden, nos Restauradores (hoje um hotel), inclui ainda Hoje Estreia e Vamos ao Nimas. No primeiro, Fernando Lopes acompanha a reconstrução do Condes (edifício onde agora encontra a redacção da Time Out e um conhecido restaurante) depois do incêndio que quase o destruiu em 1967; enquanto Lauro António, em obra de 1975, elabora um roteiro lisboeta sobre as velhas salas de cinema da capital, umas já desaparecidas, outras, nesta altura, ainda em funcionamento – todas, entretanto, fechadas.

Sábado, 14, 18.00.

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Rodado em Barcelona durante três anos, entre 1997 e 2000, é dos filmes mais conhecidos e considerados do realizador catalão José Luis Guerín. Nesta película, Guerín, de certo modo, assinala como a gentrificação alterou a cidade a partir do exemplo da demolição de uma zona degradada do Bairro Chino e a sua substituição por um complexo residencial destinado à classe média, na altura ainda em ascensão.

Sábado, 20, 21.30.

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Adeus Dragon Inn, filme dirigido em 2003 por Tsai Ming-liang, com Lee Kang-sheng, Chen Shiang-chyi, Kiyonobu Mitamura, Chun Shih e Miao Tien, é uma homenagem aos chamados “wu xia”, género de cinema popular chinês onde os sabres tinham papel importante, e, filmando a última sessão de um cinema destinado ao encerramento, cria uma variedade de cerimónia fúnebre a partir do filme de King Hu, Dragon Inn, com a cumplicidade de dois velhos actores que nele participaram. Nesta sessão é igualmente apresentado La Morte Rouge, que Víctor Erice realizou, em 2006, para a exposição “Erice – Kiarostami Correspondencias”.

Sábado, 28, 19.00.

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“É a história da iniciação de dois jovens provincianos nos problemas da cidade e do amor”, dizia, deste seu primeiro e fundamental filme, Paulo Rocha, que, com ele, em 1963 (a meias, digamos com Belarmino, de Fernando Lopes), inaugurou o Cinema Novo Português. Com interpretação de Isabel Ruth, Rui Gomes, Ruy Furtado e Paulo Renato, e o tema original de Carlos Paredes a acentuar a dramaticidade do enredo, temos aqui um olhar, ao mesmo tempo, terno e amargo sobre Lisboa.

Domingo, 29, 22.30. Projecção ao ar livre.

Cidades como nunca se viram - Vol.1

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Joaquim Pedro de Andrade esperou sete anos após a inauguração de Brasília para realizar este documentário. E nele encontra-se uma capital, novinha em folha, construída sobre a ilusão de “que arquitectura e o urbanismo podem resolver os problemas sociais”, no entanto cheia de contradições e problemas sobre a reluzente e elegante fachada. Na mesma sessão serão exibidos ainda A Cidade É Uma Só, de Adirley Queirós, e, de Matthias Müller, Vacancy.

Quarta 13, 21.30.

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Depois de, a bem dizer, um trio de ensaios sobre arquitectura das cidades, Martin Scorsese apresenta a cidade vista do seu lado mais sórdido com a colaboração das grandes interpretações de Robert de Niro e Jodie Foster, principalmente, mas também de Cybill Shepherd, Harvey Keitel e Peter Boyle. O argumento é de Paul Schrader e com ele penetra-se no submundo de uma cidade decadente no final da década de 70 do século XX onde um taxista resolve aplicar uma versão muito pessoal da lei das ruas.

Quinta 14, 15.30.

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Orson Welles tem uma aparição breve, porém do mais arrepiante. São Joseph Cotten, Alida Valli e Trevor Howard quem faz, por assim dizer, as honras da casa neste filme de Carol Reed, passado numa Viena nunca assim filmada como nesta história de ingenuidade, oportunismo e mistério.

Terça 19, 15.30.

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É um lugar-comum, mas os lugares-comuns têm uma razão de ser, pelo que se me permitem repetir: Manhattan, de Woody Allen, é um hino a Nova Iorque, apropriadamente musicado por um clássico de Gershwin, Rhapsody in Blue, ele próprio outro hino à cidade. E quando se diz a cidade, neste caso, está a falar-se da ilha de Manhattan, que o realizador aventura-se pouco ou nada pelos outros quatro distritos para contar a sua história de amores mal resolvidos que envolve as interpretações de Diane Keaton, Michael Murphy, Mariel Hemingway e Meryl Streep.

Quinta 21, 15.30.

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O Festival de Cinema de Cannes fazia 60 anos e o seu director de então convidou “mais de trinta realizadores ali premiados para fazerem uma curta-metragem de três a quatro minutos de duração sobre o prazer do cinema e a sala de cinema.” Assim, em pequenos segmentos, reúnem-se imagens de, entre outros, Theodoros Angelopoulos, Olivier Assayas, Bille August, Jane Campion, Youssef Chahine, Chen Kaige, Michael Cimino, Ethan Coen, Joel Coen, David Cronenberg, Jean-Pierre Dardenne, Manoel de Oliveira, Raymond Depardon, Atom Egoyan, Amos Gitai, David Lynch, Kiarostami e Alejandro Gonza, pedaços que mostram uma sala de cinema como ela nunca é vista.

Sexta 29, 19.00.

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Nada melhor para acabar o mês do que um filme de um grande mestre do cinema, um daqueles realizadores de que só nos lembramos quando o rei faz anos, ou quando acontece qualquer coisa na Índia e está um cinéfilo por perto que já viu “isso num filme”… de Satyajit Ray. Este é a sua primeira grande incursão pelo universo arquitectónico e social de Calcutá, e um dos seus filmes maiores onde, como quase sempre, é central o papel de mulher indiana na família e na sociedade, aqui com o bónus de um extraordinária interpretação de Madhabi Mukherjee – que, aliás, estaria ainda melhor em Charulata, o filme seguinte e a obra-prima de Ray.

Sábado 30, 22.30. Projecção ao ar livre.

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