The world according to Pedro Almodovar
Louise Haywood-Schiefer

Dez coisas que não sabe sobre Pedro Almodóvar

Durante uma entrevista a pretexto de 'Julieta', Dave Calhoun da Time Out Londres foi à procura do Almodóvar desconhecido

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Pedro Almodóvar está a gesticular na direcção do meu gravador à medida que começamos a falar. Digo-lhe que já está a gravar. "Desculpe, sou um ditador", afirma com um enorme sorriso que contrasta com a cabeleira branca. "É defeito profissional."

Mas durante a conversa, o realizador espanhol é pouco ou nada mandão: é caloroso e ponderado. Almodóvar, agora com 66 anos, tornou-se famoso durante os tempos loucos do início da década de 1980, mais concretamente a meio de um terramoto social e cultural conhecido por La Movida, que abalou Espanha após a morte do ditador General Franco. Em filmes como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos ou Saltos Altos, o realizador deixou muitos espanhóis indignados com enredos com prostitutas, drag queens, estrelas porno e Penélope Cruz como uma freira vestindo Prada.

O seu mais recente e 20.º filme, Julieta, é o mais sério e introspectivo do seu currículo. Fala sobre a vida de uma mulher de meia-idade, Julieta (Emma Suárez), paralisada pela dor. Uma história do quotidiano que só poderia ter sido realizada por uma pessoa: Pedro Almodóvar. Aqui está o que aprendemos com o realizador durante sua recente viagem a Londres.

Dez coisas que não sabe sobre Pedro Almodóvar

Temos de ver os filmes dele duas vezes

"Para mim os filmes são como pessoas. O primeiro encontro com alguém de que se gosta é muito divertido, mas à segunda é diferente, mais descontraído. Não quero ser pretensioso, mas há muita coisa que só se descobre da segunda ou terceira vez que se vê um filme meu."

O seu trabalho é autobiográfico

"Todos os meus filmes reflectem quem eu sou e como eu me senti durante a escrita e a rodagem deles. É uma coisa profunda. A solidão da personagem de Julieta neste filme, à medida que envelhece, é na realidade um reflexo de mim próprio nesta altura da minha vida."

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Agora trabalha mais e liga menos a festas

"Levo uma vida muito isolada em Madrid, quase o oposto da minha vida nos anos 80. Não saio muito. É como estar casado – com Madrid. Sinto-me confortável, mas já não há grande excitação. Temos de fazer uma escolha entre a saúde e a excitação. Uma escolha terrível! Eu escolho a saúde e os filmes em vez das ressacas e das dores de cabeça."

Julieta é o seu filme menos espampanante

"O tom deste último filme é novo. Já explorei suficientemente o mundo das mulheres em tom de melodrama e de comédia. Para mim, Julieta interessava-me pela novidade de outro género, uma nova forma de retratar a maternidade."
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Colecciona tudo e mais alguma coisa

"Uma vez, num aeroporto americano, comprei um mergulhador de plástico, um brinquedo a que dás corda e pões na água. Cinco anos mais tarde usei-o em Ata-me!, na cena de um banho. O mergulhador vai a nadar e toca no órgão sexual da personagem. Nos EUA, tive imensos problemas com os censores. Pensaram que ela estava a masturbar-se com o brinquedo."

A sua relação com os actores é intensa

"Tenho uma relação profunda com os actores. Na rodagem de uma cena sem diálogos com Adriana Ugarte, preenchi o silêncio dizendo alto os pensamentos da personagem. Numa comédia, se um actor tem um grande plano, digo coisas divertidas. Nos meus filmes antigos, dizia a Penélope Cruz coisas inesperadas, para a cara dela ficar no ponto."
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Não deixa ninguém interferir com a visão dele

"É uma questão de força de vontade, e eu nasci com ela. As minhas referências são sobre Espanha e as minhas origens, e tenho a sorte de ser entendido fora do meu país. Nunca penso nas audiências no Reino Unido ou nos EUA. Só na história do filme."

Não acredita em férias

"Não sei como comportar-me em férias. Por isso nunca as tiro. Não tiro férias há anos. Acho que precisava delas. Mas não consigo desligar. A minha ideia de férias é ter a companhia de um computador para escrever."
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Adora Londres e sempre adorou

"Como puto espanhol nos anos 60, o meu sonho era ir a Londres. Ouvia música pop inglesa quando era criança na minha aldeia em La Mancha. Quando vim a Londres pela primeira vez, em 1971, a cidade representava a liberdade. Em Espanha, vivíamos em ditadura. Costumava ir ao Instituto de Artes Contemporâneas (ICA) ver filmes de realizadores underground, embora o meu inglês fosse terrível. Lembro-me da época do glam rock e de David Bowie, de homens muito novos a usarem maquilhagem nas ruas. Foi importante para o meu futuro."

Envelhecer não tem graça nenhuma

"Quando somos novos, pensamos que teremos menos desejos quando formos mais velhos. Mas isso não acontece comigo. Continuo a sentir as mesmas necessidades. Mas o meu corpo mudou. É triste. A minha solidão e o meu isolamento têm a ver com isso. E os meus filmes tornaram-se mais introspectivos. Julieta é um bom exemplo disso."

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