Pedro Almodóvar está a gesticular na direcção do meu gravador à medida que começamos a falar. Digo-lhe que já está a gravar. "Desculpe, sou um ditador", afirma com um enorme sorriso que contrasta com a cabeleira branca. "É defeito profissional."
Mas durante a conversa, o realizador espanhol é pouco ou nada mandão: é caloroso e ponderado. Almodóvar, agora com 66 anos, tornou-se famoso durante os tempos loucos do início da década de 1980, mais concretamente a meio de um terramoto social e cultural conhecido por La Movida, que abalou Espanha após a morte do ditador General Franco. Em filmes como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos ou Saltos Altos, o realizador deixou muitos espanhóis indignados com enredos com prostitutas, drag queens, estrelas porno e Penélope Cruz como uma freira vestindo Prada.
O seu mais recente e 20.º filme, Julieta, é o mais sério e introspectivo do seu currículo. Fala sobre a vida de uma mulher de meia-idade, Julieta (Emma Suárez), paralisada pela dor. Uma história do quotidiano que só poderia ter sido realizada por uma pessoa: Pedro Almodóvar. Aqui está o que aprendemos com o realizador durante sua recente viagem a Londres.