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©DR Jacques Demy
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Jacques Demy, o conhecido desconhecido

A fantasia exemplar de 'Os Chapéus de Chuva de Cherburgo' e 'As Donzelas de Rochefort', agora em exibição, eclipsaram o resto da obra de Jacques Demy. Mas há um antes e um depois que merece ser visto

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Contemporâneo da nova vaga do cinema francês, Jacques Demy não seguiu a linha geral de exploração da estética do filme negro e do neo-realismo italiano, cedo derramando sobre a sua obra a cor e o movimento do musical americano. Como uma maldição. Pois esses filmes esconderam um cinema, irregular, é certo, porém de muitos recursos estilísticos e estéticos. Estes sete filmes, por exemplo.

"Os Chapéus de Chuva de Cherburgo" e "As Donzelas de Rochefort" estreiam quinta-feira no Cinema Ideal.

Jacques Demy, o conhecido desconhecido

Lola (1961)

Logo na sua primeira longa-metragem, Jacques Demy mostrou que era um cineasta diferente, explorando a poesia nas suas imagens rigorosamente compostas e fotografadas em exaltante preto-e-branco por Raoul Coutard. A banda sonora de Michel Legrand, iniciando uma longa e proveitosa colaboração, ainda mais exalta esses sentimentos nesta história em que a vida do jovem inquieto interpretado por Marc Michel, a fazer pela vida no porto de Nantes, dá uma grande volta depois de um encontro fortuito o colocar no caminho da deslumbrante e, principalmente para o desenvolvimento da narrativa, misteriosa Lola, que Anouk Aimée interpreta quase em estado de graça.

A Grande Pecadora (1963)

Quando o objecto de paixão é uma personagem interpretada por Jeanne Moreau já se sabe quem ganha e também que vai haver um certo grau de crueldade envolvido. Mas o rapazola interpretado por Claude Mann era, como se costuma dizer, um tanso. Pior, um tanso inclinado para a jogatina que, durante umas férias em Nice, ganha um pipa de massa enquanto vai caindo de quatro por uma jogadora compulsiva. Com este pretexto, Demy realiza um filme sobre o vício como excesso, que é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o prazer.

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Modelos de Aluguer (1969)

Depois do êxito de Os Chapéus de Chuva de Cherburgo e As Donzelas de Rochefort, no seu primeiro filme em inglês, o realizador recua até ao seu trabalho anterior, para criar na vibrante Los Angeles uma história de ressonância psicológica e de todo desprovida do fogo de artifício dos filmes anteriores. Anouk Aimée regressa, agora com a personagem de uma francesa, evidentemente enigmática e sedutora, mas também com os seus problemas, que, num estúdio de fotografia satisfaz as fantasias de fotógrafos amadores, como o pobre que vai ter o coração destroçado interpretado por Gary Lockwood.

A Princesa com Pele de Burro (1970)

A fantasia, tudo indica, nunca andava longe da cabeça de Demy, pelo que nada espanta que se tenha virado para esta história de fadas tão encantadora quão bizarra, em que é preciso uma fada fazer de consciência social e lembrar as consequências do incesto. Pois, coisas que acontecem quando um rei (Jean Marais) muito amante de sua esposa a encontra moribunda e jura por tudo que só voltará a casar com alguém mais bonita do que ela. Ora, mais bela, existe, e o facto de ser a sua própria filha (Catherine Deneuve) não é obstáculo a que a peça em casamento. É aí que entra a fada interpretada por Delphine Seyrig.

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A Flauta Mágica (1972)

Depois de um conto de fadas porque não outro conto de fadas? Dito e feito. Demy atira-se ao conto dos irmãos Grimm, torna-o ainda mais escuro, entrega o papel de flautista ao trovador hippie Donovan (em elenco que ainda inclui Donald Pleasence e John Hurt), que também cria uma adequada banda sonora, e coloca os senhores de Hamelin perante o dilema moral de escolherem entre a praga de ratos ou as suas crianças e cumprirem a sua palavra.

Lady Oscar (1979)

O parto corre mal, a mulher morre, e o general de Jarjayes (Mark Kingston), que queria um filho e um herdeiro, decide criar a recém-nascida como um rapaz. Neste drama histórico (uma raridade na obra do cineasta, e ainda mais curiosa porque baseada numa banda desenhada japonesa, A Rosa de Versalhes), Oscar François de Jarjayes (Catriona MacColl) é tão bem criada como um rapaz destinado às tarefas militares que é escolhida para chefiar a guarda do Palácio de Versalhes e defender o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta. Entretanto mete-se a Revolução Francesa no caminho.

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Um Quarto na Cidade (1982)

O gosto pelo musical e o jeito para os fazer muito bem nunca abandonou Jacques Demy. E, se o seu último musical não é exaltante como Os Chapéus de Chuva de Cherburgo e As Donzelas de Rochefort, não deixa de ter as suas virtudes e ser, mais uma vez, um espectáculo atraente, até porque passado durante uma greve, cenário completamente original para o escapismo do cinema musical. Com a história do operário, interpretado por Richard Berry, dividido entre o amor pela sua amorosa noiva e a herdeira rebelde (Dominique Sanda), apesar da película se ter afundado estrepitosamente na bilheteira, Um Quarto na Cidade recebeu nove nomeações para o prémio César.

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Para eles é noir ou polar, o que nem interessa, pois o cinema policial francês, descendendo de e por vezes imitando o padrão norte-americano, tem toda uma vida à parte preenchida por crimes filmados com agilidade, requinte e substância. Como estes sete – que, verdade se diga, podiam ser 70 sem desprimor.

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