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Laurence Ferreira Barbosa: "A experiência de filmar em Portugal foi muito boa"

Laurence Ferreira Barbosa retrata a comunidade portuguesa em França no filme 'Todos Os Sonhos do Mundo'. Falámos com ela

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Apesar de ter ascendência portuguesa, a realizadora francesa Laurence Ferreira Barbosa, autora de obras como As Pessoas Normais não Têm Nada de Especial ou Detesto o Amor nunca tinha feito nenhum filme em Portugal, ou sobre os portugueses de França. Até este Todos os Sonhos do Mundo, rodado no nosso país e em França.

O facto de ter escrito, com o realizador João Pedro Plácido, em 2015, o documentário Volta à Terra, filmado no interior de Portugal, levou-a a querer realizar Todos os Sonhos do Mundo?

Não, já antes de Volta à Terra queria fazer um filme que falasse da comunidade portuguesa em França. E isto porque reparei que ninguém falava dela em filme, não há ficções, não há imagens. Então apareceu A Gaiola Dourada e eu deixei passar algum tempo, a pensar no que queria fazer. Comecei então um trabalho de pesquisa junto da comunidade portuguesa em França, falei com muita gente, acumulei muita informação e decidi fazer o retrato de uma filha de emigrantes.Foi um processo que se prolongou por alguns anos.

Deu à personagem o mesmo nome da actriz que a interpreta, Paméla. Isto quer dizer que há muito da Paméla real na Paméla do filme?

Sim, há muitas coisas dela na personagem, sobretudo a personalidade e alguns factos da vida dela que a Paméla me confiou. Embora ela não tenha vivido a história que eu conto no filme, é uma história de ficção.

Mas muito inspirada por ela, de qualquer modo.

A Paméla foi a minha grande fonte de inspiração.

E a Paméla Constantino Ramos é uma actriz amadora?

Ela não tinha a menor experiência de representação. E saiu-se muito bem. Aliás, quase toda a gente neste filme nunca representou, são todos amadores. Quis que fosse assim, para todos os papéis principais: o pai, a mãe, a avó, a irmã, a amiga. Não quis usar actores profissionais neste filme. Queria encontrar uma verdade que só podia passar por pessoas sem experiência dramática. Não queria que ninguém fizesse de conta que era uma mulher-a-dias ou um português que trabalha nas obras. Queria gente que transmitisse uma verdade no modo de ser, de se comportar, cujo físico é marcado pelo trabalho e pela vida. Queria que tudo isso estivesse presente. E a experiência de filmar em Portugal foi muito boa, muito sensorial.

O filme conta a história de uma adolescente em busca do seu lugar no mundo. Ela é uma luso-descendente que gosta de Portugal e dos valores em que os pais a educaram, mas está em conflito com eles. A Paméla é uma rebelde, ou não foi assim que a quis caracterizar?

Ela não está em conflito com os pais, não se opõe a eles nem quer romper com eles. E é precisamente por não estar em revolta contra os pais e a cultura e os valores que eles representam, que lhe custa mais emancipar-se, procurar o seu caminho. E tem vários falhanços, sente-se num impasse. Mas os pais procuram sempre ajudá-la. E é quando, contra as suas próprias convicções, ela ajuda a amiga transgressora, que começa o seu processo de emancipação. No fundo, Todos os Sonhos do Mundo conta uma história que é universal, fala de sentimentos universais.

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