La chinoise
O Maoísta (1967)

Maio de 68: sete filmes sobre o mês que mudou o mundo

Está aqui, está a fazer 50 anos que a revolta eclodiu em França, primeiro a dos estudantes logo a seguir a dos trabalhadores. O poder tremeu, mas aguentou-se. No cinema, o Maio de 68 está vivo

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O Maio de 68 parisiense (houve outras revoltas noutras partes do mundo, nesse mesmo ano) é um sinal de união e depois de pulverização da esquerda que o cinema mais ou menos previu e a que prestou atenção. Quer aos factos, quer às consequências. Antes de as comemorações começarem à séria, aqui vai um guia em sete filmes.

Maio de 68: sete filmes sobre o mês que mudou o mundo

O Maoísta (1967)

Na altura ninguém compreendeu bem onde queria Jean-Luc Godard chegar com este filme em que explora o dogmatismo e a violência de um grupo de jovens maoístas (Anne Wiazemsky, Jean-Pierre Léaud, Juliet Berto), mas no qual inclui reflexões sobre, por exemplo, a utilização do vermelho como símbolo, o rock francês e a história do cinema ou o “revisionismo” dos comunistas em França. Depois de 1968 passou a ser catalogado como premonitório. Antes, porém, a sua exibição inspirou uma revolta de estudantes na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Se… (1968)

Outro filme de que agora se pode dizer ser um sinal dos tempos saiu da imaginação do argumentista David Sherwin e do realizador Lindsay Anderson. Nesta sua denúncia do ensino dos colégios privados ingleses, que vê como opressivos e antiquados, Anderson serve-se da revolta estudantil iniciada pela personagem criada por Malcolm McDowell para criar uma alegoria sobre o rígido sistema de classes britânico e a necessidade da sua destruição.

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Tudo Vai Bem (1972)

Eis que regressa Jean-Luc Godard. E se da primeira vez aqui esteve com um filme premonitório, cinco anos depois o realizador e activo participante nas lutas de 1968, regista a melancolia da derrota e, por assim dizer, parte para outra. Ou seja: utiliza os trabalhadores que esperam pelas câmaras para começarem a gritar palavras de ordem ou as desavenças de um casal para, à sua maneira peculiar, dissecar a estrutura da sociedade e o seu efeito no cinema e na revolução e… no amor. O olhar crítico sobre a revolta estudantil, pior, a satirização de certas visões contemporâneas da história são apenas parte das muitas cogitações sobre o estado das sociedades modernas a que o realizador se dedica nesta película – e não o tornaram mais popular. 

Le Fond de l'Air Est Rouge (1977)

Chris Marker levou o seu tempo, mas este filme, apesar de mais parecer um ensaio do que um documentário, dedica-se a fazer o rol das esperanças e das decepções criadas e desenvolvidas pelos movimentos revolucionários (a revolta estudantil no México, a Primavera de Praga, a derrota americana no Vietname). Sob observação está, em simultâneo, a nova esquerda francesa, os movimentos anticoloniais africanos, a guerrilha na América Latina e ainda o estado das revoluções chinesa e cubana, o papel de Mao, Che Guevara e Fidel, ou Nixon, a ascensão e queda dos Panteras Negras na América do Norte e a eleição de Salvador Allende, no Chile. E, no fim, fica a pergunta, assim, em jeito de palimpsesto: mas como é que o capitalismo sobreviveu ao fim dos anos 60 e ao início dos anos 70 do século passado? 

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Grands Soirs & Petits Matins (1978)

Uma década depois, sem qualquer distância crítica, como se as ideias, ao longo desses 10 anos, permanecessem as mesmas, sem razão ou motivo de alteração, William Klein apresenta o que é, na verdade, e paradoxalmente, um dos mais factuais filmes sobre o Maio de 1968. Mostrando com vasto recurso a imagens de arquivo e à cúmplice colaboração de militantes como Daniel Cohn-Bendit (ou Danny, o Vermelho), Renaud (o famoso porta-voz dos universitários parisienses na primeira fase da revolta), ou observadores ligeiramente menos engajados e um pouco mais lúcidos, como o cineasta Alain Resnais, Klein mostra como os símbolos da autoridade são contestados, postos em causa e, em alguns casos, derrubados por um movimento que, no seu auge, provocou centenas de greves e mobilizou milhões de estudantes e trabalhadores – para, poucos meses depois, o país dar a maior vitória eleitoral nas presidenciais ao general De Gaulle. 

Os Amantes Regulares (2005)

Sinais da complexidade e da influência na sociedade gaulesa do movimento de Maio de 68 encontram-se na história filmada por Philippe Garrel, com Louis Garrel, Clotilde Hesme e Julien Lucas, merecedora de dois prémios no Festival de Veneza. No centro da acção, durante e após a revolta, está François, um estudante de 20 anos, poeta, baldando-se à recruta mas alinhando nas barricadas sem, no entanto, lançar um único cocktail Molotov. Vai tudo bem, entre umas passas de ópio e discussões sobre a revolução, quando o protagonista conhece Lilie e caem nos braços um do outro. Mas um ano depois as contradições derivadas do que fazer nesta nova situação política e sentimental revelam que se calhar não serão felizes para sempre.

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Depois de Maio (2012)

Mais ou menos na mesma direcção e com o mesmo distanciamento, mas talvez menos romantismo, segue o filme realizado por Olivier Assayas, no qual Clément Métayer, André Marcon e Lola Créton, interpretam jovens suburbanos que, em 1971, continuam empenhados na luta contra um governo reaccionário e uma sociedade complacente. A revolução, porém, não chega, por muitos panfletos que distribuam e inúmeras que sejam as assembleias e manifestações em que participam. Quando a coisa dá mesmo para o torto durante uma manifestação e a polícia pode, ou não, estar no seu encalço, Gilles e os seus amigos põem-se a andar para Itália. Aí levam uma vida de boémia política, entre festas e sessões de filmes de agitação e propaganda, que, contudo, será uma espécie de epifania misturada com ritual de iniciação à vida adulta.

Revoluções no grande ecrã

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