Tenho de começar a entrevista com a dificuldade que foi marcá-la.
Falei com pelo menos quatro pessoas… Acho que falaste com toda a gente.
É sempre assim?
Esta fase por acaso é bastante complicada porque é um malabarismo entre muitas coisas. A promoção da série, tenho a rádio todos os dias e ainda esta peça de teatro que está a ser montada, uma versão cómica da História de Portugal. De repente coincidiu tudo e não era suposto. É uma esquizofrenia, uma loucura! A minha vida às vezes é muito caótica.
Sofres do problema de dizer sim a tudo?
Sim, mas já fui pior. Antes dizia que sim a coisas não só porque sou um tipo simpático mas porque genuinamente achava que havia um lado aliciante em tudo. Depois percebi que não podia ser e arranjei pessoas para dizer que não por mim.
E com a RTP foi um sim e depois demorou a acontecer?
Mais ou menos. Adorava fazer uma série, mas ao mesmo tempo achava que devia ser um trabalho horrível. Uma coisa é escreveres um filme de hora e meia, outra é pensares no que é que tens para dizer em 13 partes.
Mas a tua ideia inicial era um filme, não era?
Era. Esbocei-o para aí em 2001 e era baseado no videoclube do meu bairro nos anos 80. Para as pessoas da minha geração as cassetes de VHS têm um bocado a mística que as bobines de fita tinham para a geração do Cinema Paraíso. A primeira ideia foi fazer uma espécie de celebração do VHS, e era também sobre a paixoneta de um geek pela miúda do videoclube – que foi uma coisa que de facto aconteceu, mas que eu não tive coragem de levar aquilo para a frente na altura e então achei que talvez pudesse levar para a frente sob a forma de ficção. Reencontrei a ideia em 2010 e achei que era possível expandi-la, que o videoclube podia ser um pedaço de um universo maior. Senti que as eleições Soares/Freitas de 1986 foram um momento épico, que transcendeu a política, um evento pop, um reality-show antes de tempo. Um pretexto óptimo para criar uma ficção à volta de uma série de personagens daquela altura.
Voltando à RTP...
Eu escrevi um piloto e uma bula com a descrição do episódio, fizemos chegar a coisa à RTP e ficámos à espera bastante tempo. Eu fiquei muito com aquela ideia: epá, o Nuno Artur é amigo... Houve luz verde quando eu já pensava que se calhar não tinham gostado. E pronto, de repente estávamos na minha escola secundária a recriar cenas que se tinham passado.
1986 é agora uma das grandes apostas do canal.
Acho que a série está a ter alguma exposição porque todos nós, sobretudo pessoas na crise da meia idade como eu, gostamos muito de mamar na teta nostálgica. Esta é uma bonita imagem! Vamos muito à procura desse aconchego do passado. Ao mesmo tempo, pela primeira vez na minha vida, fiz uma coisa que me deu muito gozo. Eu documentei todo o processo desde o momento em que estava em frente ao ecrã a escrever. Acho que o primeiro post no Instagram sobre isto foi no tempo em que havia só um piloto escrito por mim sozinho. A partir daí, o processo foi todo documentado, desde a escrita à rodagem, à pós-produção e agora aos videoclipes. Isso foi muito giro.