Dexter Fletcher tinha apenas dez anos quando o vimos no grande ecrã pela primeira vez, em Bugsy Malone, de Alan Parker. Desde então foi dirigido por alguns dos grandes, como David Lynch, Derek Jarman e Mike Leigh, antes de saltar para trás das câmaras em 2011, durante a rodagem do seu Wild Bill. Recentemente, substituiu Bryan Singer a meio das filmagens de Bohemian Rhapsody, mas não foi creditado como realizador. E agora, em Rocketman, conta a história de Elton John. Quaisquer semelhanças com a biopic dos Queen são uma coincidência.
Ainda te lembras de quando é que descobriste a música do Elton John? Sempre foste um fã?
Sempre gostei dele. Descobri a música dele na casa da minha prima Caroline, depois de ela ter ido a quatro concertos dele de seguida no Rainbow. Ela tinha o Goodbye Yellow Brick Road e nós estávamos sempre a ouvir o disco. Tinha sete ou oito anos, mas nunca o esqueci.
Ele foi um dos produtores do filme. Estabeleceu alguns limites?
Não fui proibido de fazer nada, mas tive de ser atencioso. Não quero que ele se sinta desconfortável com isto; só quero contar uma boa história. E fiz um filme para adultos porque essa era a vida que ele levava nos anos 70 e 80. Há altos e baixos, e não podes mostrar os pontos baixos num filme para todos os públicos.
Não escondes que tiveste problemas com drogas quando tinhas 20 e tal anos. Reconheceste-te nessa parte do filme?
Sem dúvida que era algo que eu compreendia, e falei com o Elton sobre isso. Os meus problemas talvez tenham sido um pouco diferentes, mas o resultado é o mesmo: é algo que tens de combater. Eu sei o que é estar a cheirar linhas de cocaína e a sentir-me paranóico, como se toda a gente me quisesse trair. É com isso que lido no filme.
Originalmente, era o Tom Hardy que ia fazer de Elton John. Nessa altura já estavas envolvido no projecto?
Não. Mas lembro-me de ler sobre isso e achar que era uma escolha interessante. O Tom é um actor incrível e não ia ficar surpreendido se ele fosse espantoso no papel. Mas o Taron [Egerton] pareceu-me uma escolha mais óbvia. Fisicamente está mais próximo do Elton e sabia que ele conseguia cantar.
Como é que foi a experiência com o Bohemian Rhapsody?
O [produtor] Matthew Vaughn diz que foi um treino intensivo para o Rocketman. Foi uma experiência muito particular e tenho orgulho de ter estado envolvido no projecto. Adoro o Rami [Malek] e fiquei muito contente por ele [ter ganhado um Óscar]. Mas, se tivesse corrido mal, podia dizer que não tinha a ver com aquilo. Não tenho falado muito sobre isso porque não era um projecto meu. Realizei apenas 30% do filme. Algumas pessoas sentem que o filme tenta esconder a homossexualidade do Freddie Mercury.
Sentes necessidade de defendê-lo dessas críticas?
Nem por isso. A única coisa que posso dizer sobre o assunto é que eles quiseram fazer um filme para todos os públicos e foi isso mesmo que fizeram. Sobre o resto quem tem de falar não sou eu. No Rocketman há uma cena de sexo. Há drogas. Mas não podes estar à espera de ver isso num filme para todos os públicos. O meu filme é muito diferente [do Bohemian Rhapsody].