La La Land
©DR | | La La Land (2016), de Damien Chazelle
©DR | |

Dez filmes em que a música é a protagonista

Filmar a música ou filmar o músico? É o dilema dos realizadores que fazem filmes sobre música... e músicos. A maior parte borra a pintura. Estes dez safam-se bem

Hugo Geada
Publicidade

A música tem um papel fundamental no cinema. Pode ajudar a despertar emoções, como a tensão (basta recordar filmes como The Shinning ou o mais moderno Uncut Gems), ou a ilustrar a personalidade de um personagem (como a inesquecível apresentação de Johnny Boy em Mean Streets, ao som de Jumpin' Jack Flash). Mas, às vezes, a música é o personagem principal. Selecionámos dez filmes, assentes em personagens e histórias fictícias, desde a obra-prima de Robert Altman, Nashville (1975), ao clássico moderno, La La Land (2016), para mostrar como a música pode ser a melhor amiga da sétima arte e ajudar a encher o ecrã gigante. 

Dez filmes em que a música é a protagonista

Nashville (1975)

Um dos melhores e mais importantes filmes de Robert Altman, esta obra-prima de 1975 transporta-nos para o coração da música country e da política americana. Através de uma narrativa caleidoscópica, seguimos uma série de personagens cujo elo de ligação é Nashville, uma cidade marcada pela indústria musical e pela tensão política. Com um elenco extraordinário — que inclui figuras como Keith Carradine, Karen Black ou Shelley Duvalle uma trama que explora a complexidade das relações humanas, esta longa-metragem é uma sátira social que revela a faceta ambígua do sonho americano. 

All That Jazz (1979) 

Bob Fosse é um dos artistas mais completos de sempre — é um mestre na realização, na música e na dança — e esta é a sua obra-prima. All That Jazz é uma mistura única de musical, drama e autobiografia. A narrativa deste filme é uma linha ténue entre a vida real e a ficção, acompanhando a vida de Joe Gideon (Roy Scheider), um coreógrafo e diretor de teatro que está a sofrer uma crise existencial. Entre os seus excessos, angústias e relações conturbadas, a história de Gideon é uma reflexão sobre a busca pela perfeição, a decadência e a morte. 

Publicidade

Por Volta da Meia-Noite (1986)

Bertrand Tavernier encontrou no saxofonista Dexter Gordon a matéria ideal para recriar o estereótipo do músico de jazz brilhante, mesmo genial, porém assombrado, senão por um passado de miséria, pelo preconceito racial e principalmente pelo álcool e pelas drogas. Dale Turner é isso mesmo quando surge, em Paris, pelos anos de 1950, e experimenta, pela primeira vez, respeito e admiração pela sua música para lá da cor da sua pele. O vício, porém, prevalece. O oportunismo do viciado também. O que não impede um admirador parisiense de lançar uma mão amiga. O engenho de Tavernier (que Clint Eastwood não teve, dois anos, depois, quando estreou Bird – Fim do Sonho, sobre o genial Charlie Parker) foi, apesar da falta de originalidade da intriga, manter o seu filme sempre à superfície da previsibilidade e da lamechice. 

O Piano (1993)

Se a biografia domina, digamos, o género filmes sobre músicos, o filme de Jane Campion é uma valorosa excepção soberbamente interpretada por Holly Hunter e pela então jovem Anna Paquin (ambas oscarizadas, a propósito), mais Harvey Keitel. Aqui, neste nenhures perdido entre as ilhas da Nova Zelândia, aí por meados do século XIX, há um piano, sim, uma pianista amadora, também, mas, principalmente, a realizadora neo-zelandesa constrói um pungente drama de isolamento e paixão em que a música de Michael Nyman é parte integrante da narrativa e não um mero acompanhamento sonoro. 

Publicidade

Almost Famous (2000) 

Nem todos os filmes sobre música precisam de ser sobre música. Alguns podem ser sobre pessoas apaixonadas por esta arte. Como é o caso do jovem jornalista William Miller (Patrick Fugit), que, nos anos 70, recebe a oportunidade de acompanhar uma banda em ascensão numa digressão. Entre camarins, palcos e estradas intermináveis, descobre o lado bom e caótico do rock & roll. Cameron Crowe, inspirado nas suas experiências enquanto jornalista da Rolling Stones, realiza um filme nostálgico e envolvente, com personagens inesquecíveis, como o Lester Bangs de Philip Seymour Hoffman ou Russell Hammond de Billy Crudup. 

A Propósito de Llewyn Davis (2013)

E há os músicos que não chegam a lado nenhum. Os que não chegam ao estrelato, ou pelo menos ao reconhecimento público e recompensador. É o caso de Llewyn Davis (Oscar Isaac) que, mal equipado para o Inverno nova-iorquino e, a bem dizer, dependendo da bondade de estranhos e de alguns amigos, aterra nos bares da Village, aí pela década de 1960. Com uma guitarra, um punhado de canções, algumas ilusões de grandeza (mais tarde tornadas vitimização) e nem por isso muito talento, a vida do protagonista do filme dos irmãos Coen é um calvário pessoal e um olhar penetrante e cru, embora pontuado por alguma compaixão, sobre a vida dos que não triunfam. 

Publicidade

Whiplash – Nos Limites (2014)

É aquela coisa do talento e da transpiração de que muito se fala na criação artística, mas raramente se observa e sobre a qual felizmente Damien Chazelle derramou um pouco de luz sem criar mais um subproduto de Fame armado ao sério. Embora na história de Andrew (Miles Teller) seja tudo a sério, que isto de ser um jovem e jeitoso baterista não chega para fazer sombra a Buddy Rich, o seu ídolo e modelo. É preciso trabalhar. Transpirar 99 por cento do caminho entre o talento e a qualidade, que a fama é outra conversa para o perfeccionista rigoroso, severo mesmo, para não dizer obcecado, professor Terence Fletcher – que J. K. Simmons interpreta em estado de graça suficiente para Óscar. 

La La Land (2016) 

"City of Stars / Are you shining just for me?" Dois versos tão simples, mas que serão para sempre imortalizados na história do cinema. Sabemos que musicais não são para todos, mas há algo em La La Land que é superior a este sentimento. Damien Chazelle criou um filme que é tanto uma homenagem ao cinema clássico como uma história contemporânea sobre sonhos e sacrifícios. Emma Stone (que venceu o seu primeiro Óscar graças a esta produção) e Ryan Gosling brilham como Mia e Sebastian, dois artistas em busca do sucesso em Los Angeles.

Publicidade

Sound of Metal (2019) 

Nem todos os filmes sobre música podem ser felizes e animados. Existem casos, como Sound of Metal, podem ser bem desoladores e desesperantes. Riz Ahmed entrega uma performance arrebatadora como Ruben, um baterista de noise metal que vê o seu mundo desmoronar quando começa a perder a audição. Forçado a confrontar uma nova realidade, entra numa comunidade de surdos onde aprende a aceitar a sua condição. Na sua estreia como realizador de filmes de ficção, Darius Marder cria um ambiente sensorialmente imersivo, com um design de som revolucionário e uma narrativa crua sobre perda, adaptação e identidade.  

Tár (2022) 

Ainda é inacreditável pensar como Cate Blanchett não ganhou o Óscar por este filme. Numa das melhores interpretações da sua carreira a australiana, dá vida a Lydia Tár, uma prestigiada maestrina no auge da sua fama, cuja vida começa a desmoronar depois de vários segredos da sua vida terem chegado a público. O realizador Todd Field construiu um thriller psicológico sofisticado e inquietante, que nos deixa a questionar sobre os comportamentos dos nossos ídolos. Uma longa-metragem perfeita para um mundo que viveu o movimento #MeToo, que tentou derrubar artistas (aparentemente) intocáveis, autores de crimes de abuso sexual. 

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade