“A série que vai mudar as suas noites”, proclama, com a conhecida modéstia das televisões generalistas, a voz off da SIC a propósito de Golpe de Sorte (SIC, Seg a Sex 21.45). Como se a SIC tivesse estreado o equivalente português de Black Mirror, Downton Abbey ou A Agência Clandestina, ou ao menos conseguido emular a histórica Sara de Marco Martins na RTP. Mas vai-se a ver e a muito trombeteada “série” não passa de uma telenovela de bolso, muito mal camuflada de “ficção nacional”.
★★☆☆☆
No genérico de Solteira e Boa Rapariga (RTP1, Seg a Sex 21.00/ RTP Play), uma mulher tenta fazer um bolo de casamento, mas sai-lhe torto e feio e a figura da noiva, que põe no topo, desaba. Está tudo dito.
Estamos perante alguém sem muito jeito para as coisas do coração. Ela é Carla (Lúcia Moniz), de 40 anos, tradutora, a viver com dois gatos. Uma encalhada. Tem uma mãe muito “tia” que a incita a voltar à actividade sentimental e sexual, e uma psiquiatra algo heterodoxa. Apoiada pelo amigo gay, um polícia, e nas redes sociais, ela vai sair com um homem diferente por episódio.
É tentando que se consegue, e a RTP não desiste, e bem, de tentar fazer ficção portuguesa apresentável e correr a vários géneros, incluindo a comédia. Mas não consegue uma Sara quem quer. Nove em cada dez tentativas não dão em nada, ou então só em muito pouco.
Carla é como que uma Bridget Jones alfacinha, em mais trapalhão e menos pândego, um conjunto de pequenos clichés de caracterização; os homens que conhece são demasiado caricaturais (o neurótico com terror da ex-mulher, o fanático do fitness, o tímido com um boneco de ventríloquo – episódio particularmente atroz), e o riso é esporádico, enfezado, pálido.
Solteira e Boa Rapariga padece de subnutrição cómica. Mas continuem a tentar.