Era Uma Vez em... Hollywood (2019)
©DREra Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino
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Todos os filmes de Quentin Tarantino, do melhor ao pior

O mais recente filme de Quentin Tarantino, 'Era Uma Vez em... Hollywood', é também um dos melhores. Mas há mais

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Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie são os principais intérpretes de Era Uma Vez em... Hollywood – a mais recente realização de Tarantino, passada na Hollywood de finais dos agitados anos 60 e durante uma era de ouro do cinema americano – que se estreou em Portugal no ano passado. Nesta lista dos filmes que Quentin Tarantino assinou até agora, desde que se estreou em grande estilo com Cães Danados, em 1992, apresentamos uma classificação dos mesmos em ordem decrescente, que abre com Jackie Brown e Era Uma Vez em... Hollywood e encerra com Django Libertado e Sacanas sem Lei.

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Todos os filmes de Quentin Tarantino, do melhor ao pior

1. ‘Jackie Brown’ (1997)

Eis o melhor filme de Quentin Tarantino, porque o mais homogéneo, mais bem escrito, elegante e mais coerente, temática, narrativa e estilisticamente. Fez muito bem ao realizador adaptar um livro de Elmore Leonard (Rum Punch), dado haver algumas parecenças de ambientes, personagens, situações e verbalidade do universo policial daquele, com o universo cinematográfico de Tarantino. Dos actores (destaque para os veteranos Pam Grier e Robert Forster) ao desenvolvimento da história, da interacção dramática entre as várias personagens à escolha da banda sonora, tudo funciona em Jackie Brown com um motor de automóvel vintage perfeitamente afinado.

2. Era Uma Vez em... Hollywood

Hollywood, 1969. Leonardo DiCaprio é Rick Dalton, uma antiga vedeta da televisão que não consegue singrar no cinema, e Brad Pitt é Cliff Booth, o seu duplo, melhor amigo e fiel assistente, neste filme formidavelmente evocativo de Quentin Tarantino. O realizador conta uma história de amizade masculina sólida como betão, ao mesmo tempo que recria ao milímetro a Los Angeles de há 50 anos, onde viveu desde muito novo, exprime o seu amor pelo cinema, pela música pop, pela cultura consumista e pelos automóveis, e propõe um fim diferente para uma tragédia ocorrida em Agosto desse fatídico ano de 1969 e que marcou Hollywood e os EUA. Também com Margot Robbie.

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3. ‘Pulp Fiction’ (1994)

Tarantino ganhou o Festival de Cannes e o Óscar de Melhor Argumento Original (com Roger Avary) com este filme que o impôs em Hollywood, e sobre a qual teve um profundo efeito. Há um cinema policial e de acção antes de Tarantino e depois de Tarantino (e quase todo não lhe chega aos calcanhares), que lhe imita sobretudo a narratividade cronologicamente desarrumada, a desenvoltura estilística, o viés cinéfilo, a coexistência de géneros e subgéneros, o humor sarcástico e a atitude pop, a violência tão gráfica quanto inventiva e cómica, os diálogos criativos e a escolha de actores heteróclita. Ou seja, tudo aquilo que faz de Pulp Fiction um dos grandes filmes da década de 90.

4. ‘Cães Danados’ (1992)

Ringo Lam, John Woo, Sam Peckinpah, Martin Scorsese e Abel Ferrara são apenas quatro dos realizadores que nos vêm à cabeça quando vemos Cães Danados, e não é por acaso. A capacidade de ir “pedir emprestado” a outros cineastas e de integrar essas referências, influências, citações e homenagens (e o plágio ocasional…) na argamassa do seu próprio discurso narrativo é o que caracteriza o cinema de Quentin Tarantino, cuja capacidade de escrita, destreza visual e domínio da ultra-violência espectacularmente encenada não estão em causa. Pulp Fiction já estava todo esboçado neste Cães Danados, um heist movie empapado em masculinidade agressiva, contado da frente para trás e que esguicha testosterona e sangue por tudo que é lado.

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5. ‘Kill Bill 2 – A Vingança’ (2004)

Este é um dos raros casos no cinema americano em que a parte 2 é mais bem conseguida que o filme original. Tarantino continua aqui a contar a história da vingança da Noiva (Uma Thurman) contra todos aqueles que a quiseram matar e lhe destruíram a vida, e fá-lo de uma forma mais coesa, mais directa e muito menos desvairada do que no primeiro filme, levando-a a uma conclusão totalmente satisfatória. A sequência final em que a Noiva confronta Bill (David Carradine num dos últimos papéis antes da sua insólita morte) é do melhor que o realizador já escreveu e filmou. Kill Bill foi pensado por Tarantino como uma trilogia, só que este tem vindo a adiar a produção do terceiro e último filme (há também uma versão remix).

6. ‘À Prova de Morte’ (2007)

Decerto o Tarantino mais subvalorizado. É uma das duas partes de Grindhouse, filme em double bill, onde Robert Rodriguez assinou a outra parte, e que é uma homenagem dos dois realizadores às sessões duplas dos anos 60 e 70 compostas por duas fitas de exploitation, muitas vezes exibidas em cinemas ao ar livre. À Prova de Morte é em simultâneo um pastiche, uma paródia e uma homenagem a essas fitas, bem como à subcultura cinematográfica que elas figuram e geraram. As limitações de À Prova de Morte são precisamente as mesmas dos filmes a que Quentin Tarantino aqui se refere, com a diferença de existir um elemento “feminista” para contrabalançar a secundarização ou a subalternização da mulher que em boa parte caracterizava a produção grindhouse genuína.

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7. ‘Kill Bill 1 – A Vingança’ (2003)

O primeiro filme da saga de vingança da Noiva de Uma Thurman é uma enorme, desequilibrada, desnorteada e exageradíssima manifestação de amor do realizador por várias modalidades do cinema japonês: o filme de samurais, o filme de yakuzas, o policial de acção e de artes marciais (ver a presença de Sonny Chiba, veterano do género, no elenco) e até mesmo a anime (uma das sequências do filme é animada ao estilo nipónico). A batalha final, em que a Noiva enfrenta e derrota, sozinha, um exército de yakuzas, e onde se sangra mais do que num matadouro e se cortam mais membros do que num hospital de campanha depois de uma batalha da I Guerra Mundial, é o retrato da desmesura ridícula e inverosímil que caracteriza a fita.

8. ‘Os Oito Odiados’ (2015)

Os limites de Quentin Tarantino em termos de inventividade narrativa, caracterização de personagens e regurgitação de referências cinéfilas ficaram patentes neste western que se situa algures entre o clássico e o revisionista, tendo no seu centro uma ambiciosa história de recorte policial de “câmara” tal como Agatha Christie as cultivava (um conjunto de pessoas com ligações insuspeitas entre si, fica retida no mesmo sítio devido aos elementos ou pelo isolamento do local, e começam a ser assassinadas umas atrás das outras, não se percebendo por que motivo). O filme tem um ritmo incerto, é muito prolixo, demasiado longo e a violência resulta repetitiva e indigesta na sua elaborada e explícita crueldade.

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9. ‘Django Libertado’ (2012)

Quentin Tarantino quis correr a dois carrinhos neste western pretensamente “ousado”, ao incluir uma personagem negra (interpretada por Samuel L. Jackson) que está indefectivelmente ao lado do seu patrão esclavagista (Leonardo DiCaprio), ao mesmo tempo que deixa, repetidamente sublinhada, uma mensagem anti-escravatura e anti-racismo na história. Além disso, o herói, Django, nascido no western spaghetti com Franco Nero a personifica-lo, e que teve sempre actores brancos a vivê-lo, é aqui interpretado por um negro, Jamie Foxx. Tarantino parece mais empenhado em mostrar, com mão pesada, serviço politicamente correcto, do que em revistar um género clássico e tecer variações em redor dos seus modelos, temas, situações e personagens-tipo.

10. ‘Sacanas Sem Lei’ (2009)

É neste filme ambientado na II Guerra Mundial (Brad Pitt interpreta um oficial que lidera um comando especial de soldados judeus cuja missão é assassinar nazis da forma mais selvagem possível), inspirado por um título dos anos 70 assinado pelo italiano Enzo G. Castellari (que por sua vez tinha ido "picar" a Doze Indomáveis Patifes, de Robert Aldrich), que Quentin Tarantino se estampa ao comprido em grande. O seu talento cinematográfico é totalmente comprometido pela inanidade, pela boçalidade, pela estereotipação e pelo primarismo abissais do enredo, que se resolve num final-surpresa tanto mais arbitrário e absurdo, porque nada no filme fazia adivinhar que se tratava de uma história alternativa tal como a literatura de ficção científica as consagrou.

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