“Vem traumatizar a criança que há em ti” serve de apresentação a Avenida Q, a adaptação de Avenue Q, em cena na Broadway entre 2003 a 2009, e um sonho antigo do encenador Rui Melo e do produtor Gonçalo Castel-Branco. “Há muitos anos que eles queriam trazer o musical para cá, mas como é um espectáculo caro não conseguiam”, conta Manuel Moreira, um dos actores da peça que estreou no dia 8 de Fevereiro. "Até que no ano passado decidiram juntar um grupo de actores, fizemos um showcase para promover o espectáculo e tentar financiá-lo e a coisa deu-se”.
Avenida Q, que mistura actores em carne e osso com bonecos, é uma peça para a geração 2.0, “que cresceu com a Rua Sésamo e com Os Amigos de Gaspar”, explica Manuel. Félix, o seu boneco azul de cabelo ruivo e óculos, “sempre vestido com blazer e gravata”, é um gay no armário. “Muito direitinho, muito conservador”, descreve Manuel. “É tímido, muito divertido e muito querido. Acho que vão gostar dele.” Félix é do CDS, trabalha na Bolsa e divide casa com Joca, “por quem tem uma paixoneta”. Uma forma de estereotipar quem está no armário e em conflito com a sua orientação sexual.
“O Rui Melo pegou em várias coisas originais de Avenue Q, mas com vários twists para situá-la cá e no nosso tempo.” No entanto, acrescenta, “a maior parte dos temas são universais, tocam-nos a todos.”
Problemas com emprego, dinheiro, sexo, orientação sexual, sair de casa dos pais... “É sobre como é difícil crescer”, resume Manuel. A ideia é “ver esse universo fofinho de bonecos a viver vários problemas”.
Ao contrário do que acontecia na série infantil A Rua Sésamo, aqui os actores que manipulam os bonecos estão em cima do palco, à vista de todos. Só Diogo Valsassina, Rui Maria Pêgo (que venceu em Janeiro um Prémio Arco-Íris da ILGA por assumir publicamente a sua homossexualidade) e Gabriela Barros não estão acompanhados por bonecos. “Há esse contraste engraçado de ter bonecos infantis a dizer palavrões e com a linguagem dos adultos”, diz Manuel. Não é coisa para crianças, antes para a criança com dores de crescimento que nunca saiu daí – “sem moralismos nem pedagogias”, sublinha Manuel.
Até 2 de Abril, no Teatro da Trindade Inatel (Chiado). Qua-Sáb 21.30, Dom 16.30. Entre 12 e 18€.