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Foi a 11 de Dezembro de 1980 que o Trumps abriu portas. A inauguração da discoteca gay mais famosa do país foi adiada uma semana por causa da morte de Francisco Sá Carneiro.
O Trumps celebra 38 anos esta quinta-feira numa festa com dresscode black & white, uma óptima desculpa para celebrar três décadas de noites arco-íris em Lisboa. É a discoteca gay mais popular da cidade e isso nota-se logo na fila – já se sabe, inevitavelmente, a noite há-de acabar numa das duas pistas de dança. Entre os clientes famosos está, por exemplo, António Variações, que ali fez as suas primeiras actuações. Hoje em dia, é frequentada essencialmente por uma clientela mais jovem e imberbe, mas histórias não faltam para contar. Recordamos algumas curiosidades.
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Foi a 11 de Dezembro de 1980 que o Trumps abriu portas. A inauguração da discoteca gay mais famosa do país foi adiada uma semana por causa da morte de Francisco Sá Carneiro.
Lydia Barloff (nome artístico do actor José Manuel Rosado) actuou na noite de inauguração da discoteca.
Nos anos 80, a discoteca era frequentada por uma elite, com artistas, modelos, estilistas, músicos e escritores.
Se hoje no site do Trumps podemos ler que o clube é “hetero-friendly”, há 38 anos a discoteca não era exclusivamente gay.
As Doce, uma das primeiras girls band europeias, chegaram a actuar no Trumps na primeira passagem de ano da discoteca.
Rosa Maria, uma das sócias da primeira geração de donos, era uma das figuras principais da noite alfacinha. O momento em que aparecia na pista era um acontecimento e as suas roupas costumavam, mais tarde, ser comentadas nas revistas do social.
Ruth Bryden, uma das primeiras transformistas do país e assídua do Trumps nas décadas de 80 e 90, morreu precisamente na noite em que a discoteca lhe prestava uma homenagem. O funeral, em Maio de 99, foi pago com os lucros da festa.
António Variações, também habitué da casa, dava no Trumps o seu primeiro concerto a 18 de Março de 1981, com o grupo Kamikaze.
A discoteca foi um dos lugares escolhidos para as filmagens de “Variações”, de João Maio, o filme biográfico sobre jovem cantor e compositor natural de Amares, Braga, com estreia prevista para 22 de Agosto.
A última aparição pública de Variações foi precisamente no Trumps, numa festa temática “Amarelo e Branco”.
Aliás, desde as primeiras noites que a discoteca aposta em eventos temáticos.
A maior parte das histórias do Trumps estão compiladas no livro Histórias da Noite Gay de Lisboa, de Rui Oliveira Marques, publicado em Abril de 2017.
Foram precisos dois anos e 20 entrevistas para escrever o livro. As histórias começam nos anos 70 e vão até aos dias de hoje, com relatos de várias pessoas que lá trabalharam.
Um dos relatos é de Carlos Mendonça, falecido em 2016, e também conhecido na cidade como “o Mourinho das marchas”: "No chão estavam duas mulheres enroladas uma na outra. Tive de dizer às meninas que se quisessem fazer aquilo tinham de ir para casa. O que era cunho do Trumps era a liberdade de poder extravasar, dançar, fazer e acontecer. Duas mulheres a fazer um 69 na casa de banho e ninguém a poder entrar, pareceume um bocado demais."
A discoteca é antiga, mas não detém o título da mais velha discoteca gay de Lisboa. Esse troféu pertence ao Finalmente, que comemora em Abril 40 anos.
Hoje em dia, apostam principalmente na música house e pop, com duas pistas que atraem clientes com menos de 35 anos, e DJs nacionais e internacionais.
O ano passado, durante a Eurovisão, foi eleito clube não oficial do festival.
Nessa altura recebeu algumas actuações de concorrentes, como Eleni Foureira (“Fuego”), do Chipre, e a vencedora Netta Barzilai ("Toy"), de Israel.
Em 2018, também Ana Malhoa escolheu o Trumps para dois miniconcertos muito concorridos.
Filas à porta e que percorrem a Rua da Imprensa Nacional são, aliás, uma constante. Chegue cedo.
Sempre funcionou às sextas e sábados mas no início de 2018 passou também a abrir à quinta, com as festas Funk Off, onde o funk serve de pretexto para abanar o rabo. Há rumores de que em breve poderá também abrir portas às quartas-feiras.
Em 2016, a actual gerência chegou a abrir um bar também no Príncipe Real, o Secret, virado para um público feminino, que entretanto fechou.
A primeira drag DJ de Lisboa, a DJ Filha da Mãe, personagem criada por Pedro Simões, é DJ residente do Trumps há quase 10 anos.
A drags residentes são as estrelas das sextas-feiras com Rebecca Bunny, Sylvia Koonz, Lola Bunny, Lexa Black e Marge Mellow.
A discoteca até tem direito a um festival de Verão que dura entre três e cinco dias, o Trumps Summer Festival, que o ano passado, pela primeira vez, chegou ao jardim do Príncipe Real com as Trumps Garden Sessions. Em 2019 o Trumps Summer Festival vai decorrer de 14 a 18 de Agosto e vai contar com eventos ao ar livre e um drag brunch.
O camarim do Trumps é palco do projeto fotográfico "2 square feet", de Ary Zara Pinto, com momentos íntimos da equipa de animação e convidados.
Todas as noites há um shot da casa diferente oferecido directamente na boca dos clientes. Os ingredientes são “altamente secretos”, diz a gerência.
Em breve será lançada uma app Trumps que vai dar acesso a um cartão de cliente com vantagens como entradas grátis e promoções.
Muitos dos actuais colaboradores da casa trabalham como actores, bailarinos, cineastas e coreógrafos.
O tabu, esse palavrão. A eterna bengala de tudo o que é, à partida, desconhecido ou tido como errado, a reacção facilitista ao diferente. Pois bem, aqui o tema é precisamente o contrário. Nos últimos anos a Lisboa do conservadorismo transformou-se e floresceu para um fantástico novo mundo, uma existência democrática, all serving, que abraça todos os credos. Não é de estranhar, portanto, que os espaços acompanhem a tendência e que a capital tenha hoje uma oferta particularmente atractiva quando o assunto é LGBT.
Os primeiros bares gays em Lisboa começaram a espreitar pela fresta do armário nos anos 60. Hoje, os dedos de duas mãos não chegam para os contar. Este é só um sinal de que a cidade está cada vez mais arejada e pronta para acolher toda a gente. De quartos escuros a bares fetichistas, sem esquecer discotecas onde se dança nu e terminando nos melhores sítios para beber um copo ao fim do dia.
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