Parece um exagero ter-se dado tanta importância à coisa, mas Lisboa teve sempre uma ligeira aversão a mudanças, e ai de quem tenha a ousadia de vir cá abalar as tradições dos alfacinhas. Mas depois, quando se fala de hotelaria, já não há tantos pruridos em mexer no património. O Heritage Avenida da Liberdade é um exemplo vivo da gestão competente desse conflito de valores, ao demonstrar que a convivência pacífica entre passado, presente e futuro é possível, está de boa saúde e recomenda-se. Quando se vai buscar o mesmo arquitecto que desenhou o famoso Buddha Bar em Paris ou o Pacha em Marraquexe para criar um hotel de raiz num edifício pombalino do século XVIII, o resultado só pode ser bom. Na verdade, o que Miguel Câncio Martins fez com o prédio é uma lição de estilo. Sem alterar a traça original, com as varandas de ferro, as cantarias, as paredes de azulejos e os tectos trabalhados, deu-lhe uma cara moderna, urbana e cosmopolita, cujo segredo do sucesso, diz o próprio, está na combinação entre o velho e o novo – uma lufada de ar fresco que lhe valeu reconhecimento internacional como um dos projectos de reabilitação mais bem conseguidos em Portugal. À entrada percebe-se logo porquê, com um antigo balcão de ervanária convertido em estação de chá e a mezzanine transformada em biblioteca.
O hotel é pequeno, com 41 quartos, e oferece uma série de mimos que não se adivinham possíveis num edifício com apenas seis andares, como por exemplo um ginásio e uma piscina interior com um mural pintado à mão e uma área de relaxamento para descansar entre braçadas.
Na hora de escolher o quarto, terá de decidir se prefere abdicar do espaço em virtude da vista ou se, pelo contrário, prefere um quarto maior com uma panorâmica menos interessante. Vá por nós: nas águas furtadas está a melhor janela sobre Lisboa, com vista para o castelo e centro histórico.
O hotel não tem restaurante, mas há serviço de quartos 24 horas. O lobby funciona também como bar, com carta de vinhos, cocktails e snacks ligeiros, e sala de pequeno-almoço.