Uma dia passado no Porto, deu-nos uma perspectiva completamente diferente da cidade a que estamos habituados. O que era para ser um café rápido no Guarany, na Avenida dos Aliados, ofereceu-nos uma viagem no tempo privilegiada. Graça, 92 anos, sentou-se na mesa ao lado e levou cerca de dois minutos a meter conversa. O tempo que está frio, os turistas que não arredam pé e as “fardas desactualizadas” do staff do café desdobraram-se até à juventude - a dela - quando o namorado brasileiro trocou um loft em Paris por um apartamento na Baixa do Porto. “Nos anos 40, Paris era só madames et monsieurs armados em cocós, ele odiava o ambiente mas era apaixonado pela arquitetura da cidade e aqui encontrou um bocadinho do mesmo”.
Nunca tínhamos feito a associação Porto-Paris e só quando subimos ao último piso do Le Monumental Palace é que finalmente percebemos o que Graça queria dizer com “o mesmo”. Fizemos o exercício de fechar os olhos e encarar a cidade como uma desconhecida. Vimos-lhe traços da Paris antiga ali concentrados nos Aliados e mesmo quando recollhemos ao interior do hotel a perspectiva manteve-se. Estranho.
O Le Monumental Palace abriu em Novembro sem espalhafato num dos edifícios históricos mais emblemáticos do Porto. A fachada neoclássica permaneceu intocada e lá dentro, onde antes operava o café com o mesmo nome e onde Graça bebeu bons conhaques em chávena de chá, aconteceu uma pequena revolução que pela segunda vez no dia nos fez recuar no tempo até à elegância das estéticas Art Decó e Art Nouveau. A atenção perde-se logo à entrada entre os candeeiros pomposos, os mármores, sofás aveludados e os espelhos. Tudo em (muito) grande e em (muito) bom. O caminho até ao quarto (são 74 no total) não foi diferente. Os corredores a lembrar as carruagens do Expresso do Oriente são só um amouse bouche para o que vem a seguir. A alcatifa com um padrão emprestado dos anos 30, a casa de banho em mármore (outra vez o mármore) com uma banheira de pés, as janelas rasgadas para a cidade, as mobílias vintage e de estilo imperial a conviverem harmoniosamente e a ousadia das paredes azuis e brancas fizeram-nos duvidar pela terceira vez da nossa localização geográfica. Ok. Estamos no Porto, concentra-te!
Com isto tudo estávamos atrasados para o pequeno-almoço. O Oh My Breakfast orgulha-se de ter não uma nem duas mas três modalidades de pequeno-almoço: à carta, com destaque para os ovos de várias maneiras, as panquecas sem glúten e o pudim de chia com leite de côco; o completo (25€ para não hóspedes), com uma selecção de tudo o que se possa imaginar e mais uns exemplares de pastelaria fina parisiense e, finalmente, um menu para crianças com ursinhos desenhados nas torradas e chocolate quente. Existe ainda a opção de takeaway por 12€. No Bar Américan há cocktails de assinatura, vinhos e petiscos. O Café Monumental assume a função de brasserie para recriar a história do antigo inquilino e no restaurante Le Monument, o chef Julien Montbabut assina uma ementa gourmet com menus de degustação de quatro ou seis pratos de inspiração francesa (desde 85€)- o filet mignon com alcachofra é imperdível.
Encerra-se a viagem na piscina interior do Le Spa Nuxe, com ginásio, sauna, banho turco, fonte de água gelada, duche de massagem e um menu de tratamentos relaxantes e de beleza para tratar do corpo e da mente em ambiente de luxo. Preferíamos nunca ter saído daqui mas quando bater a saudade lembrar-nos-emos: We’ll always have Porto.