Será imperativo gostar de Eça de Queiroz para se perder de amores pelo Palácio Valdemouro, em Aveiro? Não. O que pode acontecer, no entanto, é que aqueles que ainda não fizeram uma incursão na obra do maior escritor do realismo português se apressem a lê-lo. Acutilante e rica, a obra de Eça é estranhamente actual. E porque falamos dele? Porque os universos deste boutique hotel em Aveiro giram à volta da vida e obra do escritor.
A primeira paragem é feita na biblioteca do hotel, vizinha da recepção. Ali pode ser consultada a obra do autor da Geração de 70 em português e inglês. Além dos livros – que também podem ser adquiridos – destaca-se a escultura do cartoonista António, que celebra o escritor. No primeiro andar conhecemos alguns dos 39 quartos. Comecemos pelo Signature. Espaço amplo, tons suaves, inspirado na Arte Nova característica da cidade. Subimos a fasquia e entramos no romance Os Maias. Lado a lado ficam os quartos Afonso da Maia e João da Ega. Duas suítes cujo vestíbulo pode ser fechado e serem usadas em conjunto. Versatilidade e bom gosto é coisa que não falta no palacete. João Moita da Silva, director operacional, conta que na hora do “turn down” o staff perceberá algumas características do hóspede e, a partir daí, fará diligências para ir ao encontro dos seus gostos.
Ainda literariamente voltados para Os Maias, passeamo-nos pelos Palacetes Premium Maria Eduarda e Carlos da Maia, ambos com tectos trabalhados que remontam a outras épocas. O primeiro, em tons rosa, condiz com a personalidade coquete da personagem. Mais sóbrio, no Premium Carlos da Maia, a opção são tons mais escuros. Destaque para a banheira envolta num ambiente afrancesado que lembra que o escritor viveu os últimos anos da sua vida em França, até à data da sua morte, em 1900.
De cartola, o trintanário Hugo Rodrigues – a primeira cara do hotel –, que nos vai buscar à estação de comboio, desvenda esta relação com o escritor: “Reza a história que ali viveu a família de Eça de Queiroz.” A partir desta premissa, podem encontrar-se espalhados pela casa pormenores de outras épocas. Na recepção, por exemplo, está uma réplica de um móvel Davenport onde Eça guardava, em diferentes gavetas, as inspirações por categorias. Uma bela ideia para um escritor arrumar as ideias.
Descemos ao spa Moments que inclui área termal, três salas de tratamento, piscina aquecida, jacuzzi, sauna, banho turco e duche sensorial. Um duche que é uma metáfora das quatro estações do ano. De linhas sóbrias e com muita luz, a particularidade é que o tecto da piscina do spa é o fundo da piscina exterior. Em dias quentes pode olhar-se para cima e ver figuras a nadar debaixo de água.
À mesa do restaurante Prosa e de olhos no mural Scratching the Surface – Eça, criado por Vhils, o pincho de lavagante explode na boca. Criado em parceria com o chef Rui Paula, este espaço fine dining apresenta uma carta com pratos ligados à ria de Aveiro e, claro, a Portugal. Tal como o spa, o restaurante está aberto ao público. No menu de degustação preparado por Rui Paula em conjunto com o chef Elson Almeida encontram-se ostras da ria, salmonete da Costa Nova, mas também pá de cabrito de leite. Fecha em beleza com a sobremesa Maresia na sua plenitude, feita de compota de camarinha, algas e flor de sal. A combinar com o café, um petit four em forma de planeta, cujo sabor é delicioso, mas difícil de decifrar.