Aquilo a que geralmente associamos o conceito de pousada – um alojamento sem grandes mordomias para pernoitar numa visita rápida –, não é nada do que vai encontrar aqui. A filha mais nova do grupo Pestana era uma promessa antiga feita à cidade e durante anos o burburinho foi crescendo, havendo mesmo quem duvidasse que Lisboa alguma vez chegasse a entrar no roteiro das Pousadas de Portugal. Aconteceu finalmente no ano passado, quando esta Pousada com P grande se instalou num edifício pombalino do Terreiro do Paço, onde funcionou em tempos o Ministério da Administração Interna – uma escolha que não teria nada de muito extraordinário, não fosse o facto de este prédio em particular estar sob a alçada do Arco da Rua Augusta, condição que lhe valeu o título de Monumento Nacional. A vista para o Tejo é cortesia da cidade. Lá dentro, um hotel luxuoso, arejado e cosmopolita que não se envergonha de assumir a cultura portuguesa como parte do seu ADN: nos espaços dedicados à arte – entre corredores e salões convivem estátuas da monarquia com tapeçarias de Nadir Afonso e esculturas de Santo António –; na preservação da traça original do edifício, com tectos altos e chão em tábua corrida; e na cozinha, onde o chef Tiago Bonito promete (e cumpre) honrar a tradição à mesa com reinterpretações arrojadas dos clássicos da gastronomia. Não é um hotel museu, mas pouco falta. Os quartos e suítes, 90 com várias tipologias, são espaçosos e confortáveis e embora não sejam declaradamente românticos – também há quartos familiares –, têm um ambiente muito favorável aos assuntos do coração: duche relaxante de mármore para dois, “aquela” luz do Tejo e camas extraordinárias que nos obrigaram a rever a definição de cama ao ponto de concluirmos que a nossa cama de casa afinal não é a melhor do mundo.
Ao pequeno-almoço tem duas opções: ou se junta ao buffet no pátio interior, ignora o facto de ainda ser de manhã e acede à flute de champanhe incluída no menu, ou fica na cama, em sossego, à espera da bandeja.
Para apontar alguma falha à Pousada, teríamos de chamar o Marquês à pedra por não se ter lembrado de fazer um jardim nas traseiras. Para quem vem a Lisboa à procura de sol, há um pequeno terraço com espreguiçadeiras no terraço, com acesso à piscina interior, ao ginásio e ao spa. O que falta de espaços ao ar livre, a Pousada compensa com o melhor que tem: Lisboa a toda a volta.
Dica Timeout: À saída do hotel vire à esquerda e siga as placas em direcção à Sé de Lisboa (cinco minutos a pé). Pelo caminho, ofereça-se um almoço demorado no Pois Café e acabe a tarde com uma prova de vinhos portugueses da Wine With a View, ao balcão de uma pasteleira transformada em wine bar. Para jantar, resta saber se prefere uma refeição relaxada ou animação. A primeira encontra facilmente sem sair do bairro, com duas boas sugestões de cozinha italiana, no Esperança e, uns metros acima, na Cantina Baldracca (ideal para quem viaja com orçamento apertado).