O Ponto Em Que Estamos
© Planeta TangerinaO Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração)
© Planeta Tangerina

Dez livros infanto-juvenis que nos chamaram à atenção em 2023

Lemos muito no último ano. Feitas as contas, estes foram os livros infanto-juvenis que mais nos marcaram.

Raquel Dias da Silva
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Estão catalogados como sendo para os mais novos, mas são bons em qualquer idade. Editados em 2023, quase todos assinados por portugueses (as excepções são de honra), estes são os livros infanto-juvenis que mais nos marcaram ao longo do ano. Com páginas cheias de ilustrações e histórias de encher o olho e os sentidos, alguns são também autênticas obras de arte, dignas de coleccionador. O Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho; No Meu Bairro, de Lúcia Vicente e Tiago M.; e Herstory: Uma História Ilustrada das Mulheres, de María Bastarós e Nacho M. Segarra e Cristina Daura, ficam bem em qualquer estante. Mas não são os únicos. Ora, espreite lá.

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Best of 2023: os melhores livros infanto-juvenis

Para reflectir sobre o estado do mundo

Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho voltaram a fazer das suas. No seu mais recente álbum ilustrado, desafiam-nos – com provocações várias e um sentido de humor apurado – a reflectir sobre o estado do mundo. Este é O Ponto Em Que Estamos, dizem-nos. Num mundo de “florestas de preços baixos”, “planícies de asfalto a perder de vista” e “constelações de betão, empreendimentos e pavimentos”, é difícil negar como a pegada ecológica gigante que estamos a deixar no planeta está a transformá-lo de tal maneira que as paisagens naturais se confundem com as humanas. Mas, se isso nos incomoda, se calhar está na hora de pôr mãos à obra e descobrir como podemos mudar, para melhor.

O Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração). Planeta Tangerina. 32 pp. 13,90€

Para aprender a ver para lá do óbvio

Inspirada na famosa personagem de Jacques Tati, que apareceu pela primeira vez no filme As Férias do Senhor Hulot, em 1953, O Guarda-Chuva do Senhor Hulot acompanha, como sugere o título, o Sr. Hulot e a sua silhueta inconfundível. Com uma escrita apurada, Suzana Ramos dá-lhe um guarda-chuva, que não só o abriga do mau tempo, como de pensamentos cinzentos que ameaçam deixar-lhe o coração a patinar à chuva; e, através da declinação da palavra «guarda-chuva» noutras – guarda-viagens, guarda-conversas, guarda-nocturno, guarda-sol –, relembra-nos também como um único objecto serve para tantas e variadas coisas. Basta estarmos atentos: aprendermos a ver para lá do óbvio. Pelo meio, pisca-se o olho à actualidade, da emergência climática (reflectida na incerteza actual das estações do ano) até à guerra (sobre a qual o Senhor Hulot lê no jornal).

O Guarda-Chuva do Senhor Hulot, de Suzana Ramos (texto) e Cátia Vidinhas (ilustração). Minotauro. 32 pp. 12,90€ (lançamento a 1 Jun)

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Para conversar sobre inclusão e diversidade

Não é a primeira vez que Lúcia Vicente escreve livros que nos convidam a questionar o estado do mundo. Com formação em História e uma veia activista, a autora tem feito questão de se dedicar ao que chama de “educação para os feminismos”. Desta vez oferece-nos o primeiro livro infanto-juvenil em Portugal escrito com recurso ao sistema Elu, uma proposta para a inclusão de um género gramatical neutro no português. Com ilustrações de Tiago M., No Meu Bairro fala-nos das diferenças que nos unem através de uma viagem pelas vidas e interrogações de 12 crianças. Desde Maria Miguel, uma criança não-binária, até Amir, um rapaz com vitiligo, são diversas as vozes que nos chegam em forma de poemas.

No Meu Bairro, de Lúcia Vicente (texto) e Tiago M. (ilustração). Nuvem de Letras. 88 pp. 13,95€

Para ficar bem-disposto

Várias vezes premiado pela pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Ministério da Cultura, Álvaro Magalhães é autor de mais de 120 títulos para crianças e jovens e a sua obra integra desde poesia e contos até ficção e textos dramáticos. Em 2023, em quase dez publicações (que incluem Para Onde Foi O Verão e Monstruário, a sua estreia para o pré-escolar), houve duas que se destacaram especialmente: Olho de Lince e Filhos da Mãe. A primeira conta a história da família Malapata, perseguida pela má sorte; a segunda a da família Marosca, protegida por um fantasma que sabe o que faz. Com ilustrações de David Pintor, a colecção Passagem Secreta não só se tem revelado cheia de humor, intriga e acção, como tem feito uma coisa ainda mais espectacular: provar que nenhuma família é igual à outra, mas todas são caóticas e espectaculares à sua maneira.

Olho de Lince, de Álvaro Magalhães (texto) e David Pintor (ilustração). Porto Editora. 224 pp. 15,50€ | Filhos da Mãe, de Álvaro Magalhães (texto) e David Pintor (ilustração. Porto Editora. 208 pp. 15,50€

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Para baralhar as regras

Contar uma história nunca é tão linear como pode parecer. Até porque as histórias, como as vidas, são feitas de curvas e contracurvas. David Machado, autor de livros infantis de grande sucesso, e João Fazenda, premiado ilustrador, sabem-no bem, e é precisamente disso que nos falam em Esta História, um divertido álbum infantil, que baralha as regras e desafia as famílias a decidir o que deve ser, afinal, esta história. Os ingredientes estão todos lá: arrotos e puns, fantasmas que sussurram, gatos que engolem televisões, meninas terríveis que só sabem fazer asneiras e até crianças que não querem ouvir história nenhuma.

Esta História, de David Machado (texto) e João Fazenda (ilustração). Caminho. 40 pp. 15,50€

Para ser mais criativo

No ano em que Ian Falconer morreu, a Gradiva abençoou-nos com uma reedição de Olivia e Olivia… e o Brinquedo Desaparecido, protagonizados pela sua personagem mais famosa. A porquinha Olivia, uma personagem a preto e branco que se destaca desde logo pelo seu icónico vestido vermelho, apareceu pela primeira vez no álbum ilustrado Olivia. Publicado nos EUA em 2000 e vencedor de uma medalha Caldecott em 2001, conta a história de Olivia, uma porquinha muito irrequieta, que vive com o irmão mais novo, os pais e dois animais de estimação – um gato e um cão – num pequeno apartamento em Manhattan, em Nova Iorque. Sempre divertida e criativa, mostra-se, como qualquer criança que se preze, incansável e desafiadora.

Olivia, de Ian Falconer. Gradiva. 40 pp. 14,90€ | Olivia… e o Brinquedo Desaparecido, de Ian Falconer. Gradiva. 42 pp. 14,90€

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Para ouvir o que as mulheres têm a dizer

O activismo feminista não é estranho a María Bastarós. Vencedora do Prémio Puchi em 2018, o seu primeiro romance, Historia de España contada a las ñinas (ainda sem tradução em Portugal), retrata o que foi ser mulher no país vizinho ao longo do século XX. Publicado no mesmo ano, Herstory: Uma História Ilustrada das Mulheres – que co-assina com Nacho M. Segarra – também dá voz às mulheres e à luta constante por espaços de liberdade. Agora numa versão aumentada, que conta com novos textos e ilustrações, o álbum editado pela Orfeu Mini inclui uma selecção exclusiva de portuguesas e dos seus momentos de conquista, reviravolta e resistência.

Herstory: Uma História Ilustrada das Mulheres, de María Bastarós e Nacho M. Segarra (texto) e Cristina Daura (ilustração). Orfeu Mini. 192 pp. 27€

Para defender a democracia

No mais recente livro da colecção Missão:Democracia, da Assembleia da República, o multipremiado Afonso Cruz apresenta-nos um extraterrestre à procura do líder da Terra, que não percebe o que significa viver numa sociedade em que as decisões não são tomadas por uma única pessoa, e o menino que está prestes a explicar-lhe o que é a democracia. Com ilustrações de Mariana Rio, Leva-me Ao Teu Líder mostra-nos, tanto quanto nos explica, como é que o conceito funciona, nos vários momentos que o definem, desde o dia das eleições às conversas entre representantes e representados.

Leva-me Ao Teu Líder, de Afonso Cruz (texto) e Mariana Rio (ilustração). Assembleia da República. 48 pp. 8€

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Para fazer a apologia da liberdade de ser

Vencedor da 10.ª edição do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, O Livro Que Não Sabia O Que Queria Ser é uma ode à imaginação das crianças e à elasticidade das suas vontades. Com humor e inventividade, Márcio Martins, que assina o texto, e Cláudia H. Abrantes, que ilustra, falam-nos desse grande mal que é não sabermos o que queremos ser quando – ora bolas! – tudo o que as pessoas querem saber é o que queremos ser. O protagonista é um livro indeciso, que às vezes quer ser um livro de astronautas, outras vezes de piratas, outras ainda de super-heróis ou contos de fadas. O problema é que os mais crescidos, como os mais crescidos gostam de fazer, estão sempre a dizer-lhe que tem de se decidir. Mas a sua criatividade não tem limites e no seu mundo tanto há dinossauros como extraterrestres e podemos ser todos várias coisas ao mesmo tempo.

O Livro Que Não Sabia O Que Queria Ser, de Márcio Martins (texto) e Cláudia H. Abrantes (ilustração). Pingo Doce. 3,99€

Para celebrar o 25 de Abril

José Fanha viveu o 25 de Abril de 1974 com espanto, alegria e felicidade. Tinha 23 anos e, naquele dia, não saltou só para fora da cama: saltou para dentro da vida. Mas, com o passar dos anos, percebeu que os jovens de hoje pouco sabem desses dias distantes. Com uma paginação engenhosa, que concede à maioria das páginas uma aparência de cartaz, Era Uma Vez o 25 de Abril – originalmente publicado pela Alfaguara e agora editado pela Nuvem de Tinta – funciona como um autêntico manual de consulta, profusamente ilustrado, munido de uma linguagem acessível e adequada a jovens (adolescentes, ou quase, essencialmente), que queiram saber como era Portugal durante a ditadura e como foram os primeiros dias depois da revolução dos cravos.

Era Uma Vez o 25 de Abril, de José Fanha. Nuvem de Tinta. 88 pp. 16,65€

Best of 2023: menções honrosas

Para alertar para a emergência climática

A chegada da Primavera deve-se a um fenómeno astronómico chamado Equinócio – o preciso momento em que a luz solar incide da mesma forma sobre os dois hemisférios, fazendo com que o dia e a noite tenham a mesma duração, cerca de 12 horas cada. Depois disso, os dias tornam-se mais longos e ensolarados, e as noites mais curtas e amenas. Mas, numa manhã fria como se fosse Inverno, Noa e Rosa – duas crianças como outras quaisquer – viram-se forçadas a perguntar por que é que, lá fora ainda chovia copiosamente. Afinal, a palavra “Primavera” deriva do latim primo vere, que significa “primeiro Verão”. O início da nova estação deveria trazer bom tempo. O que é que se faz quando o tempo não bate certo? É o que Joana Louçã e João Camargo tentam explicar aos mais novos em Salvámos a Primavera, um livro ilustrado sobre as alterações climáticas.

Salvámos a Primavera, de Joana Louçã e João Camargo (texto). Bertrand Editora. 32 pp. 13,30€

Para trocar a desconfiança pela curiosidade

Era uma vez… Não, esperem, nem sequer sabemos qual o espaço-tempo desta história. O que interessa é que há uma turma desconfiada de livros e uma professora de Matemática prestes a resolver esse problema que é não saber o quão mágico pode ser enfiar o nariz numa nova aventura. Com ilustrações de Hélder Teixeira Peleja e texto original de Margarida Fonseca Santos, Um Problema Explosivo convida os mais novos a trocar a desconfiança pela curiosidade, e a descobrir, por um lado, os benefícios e, por outro, os prazeres da leitura. Porque ler estimula a criatividade, trabalha a imaginação, exercita a memória, melhora o vocabulário – e não tem de ser chato.

Um Problema Explosivo, de Margarida Fonseca Santos (texto) e Hélder Teixeira Peleja (ilustração). Porto Editora. 32 pp. 10,90€

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Para pôr mãos à ciência

Os irmãos Carlos, Chico e Catarina, os seus pais Maria e Luís e a cadela Carbono não são estranhos a aventuras. Afinal, estamos a falar do que é, muito provavelmente, a família mais curiosa de sempre. Resolver mistérios e fazer experiências pelo meio é com eles. Mas desta vez, é A Aventura Mais Perigosa de Sempre. No 20.º volume de O Clube dos Cientistas, que vem com uma lupa, as coisas não correm como planeado e acabamos no encalço de uma investigação intensa, com contornos internacionais, muita espionagem e ciência à mistura. Aliás, no final, como é habitual, há mais um Caderno de Experiências, com sugestões para fazer, que são simples e só requerem materiais acessíveis e muita vontade de pôr mãos à obra.

O Clube dos Cientistas: A Aventura Mais Perigosa de Sempre, de Maria Francisca Macedo (texto) e Sara Paz (ilustração). Booksmile. 96 pp. 10,95€

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