A taxonomia rock é fértil em denominações inadequadas ou tolas, mas poucas são tão infelizes como “post-rock”. Quem não esteja familiarizado com a expressão, pode, legitimamente, pensar que se trata de rock feito por gente que trabalha nos Correios. Porém, o “post” é aqui usado no sentido de “pós”, “o que vem depois”. Presume, portanto, que o rock se esgotou ou chegou ao fim do seu processo evolutivo e esta é a música que lhe sucede – uma ideia descabelada, mesmo que “rock” não designasse, já há muito, um organismo tão ramificado e multiforme que não pode ser interpretado segundo processos evolutivos lineares e que não corre o risco de se esgotar (mesmo que se repita muito) e morrer.
A inadequação do termo não quer dizer que o post-rock (fiquemos com a palavra, já que o seu uso está institucionalizado) não corresponda a uma categoria: trata-se de rock (dominantemente) instrumental, com uma forte componente exploratória e marginal (no sentido de afastada da “corrente principal”), de composições elaboradas, visando uma cuidada sugestão de atmosferas, e requerendo elevado nível de execução técnica (e também uma formidável colecção de pedais de efeitos para guitarras e baixos). Claro que esta definição não deixa de ser nebulosa e nem uma comissão de sábios com uma dúzia de Prémios Nobel da Matemática seria capaz de demarcar fronteiras entre post-rock e math rock e as fronteiras com o post-metal ou o prog rock não são menos difusas.