Edvard Grieg
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10 compositores escandinavos que precisa de ouvir

Um concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa no CCB dá a ouvir uma sinfonia de Franz Berwald, um dos compositores nórdicos de valor que tem menos difusão nas latitudes meridionais do que merece

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A Orquestra Metropolitana de Lisboa e o maestro Jonas Alber tocam a Sinfonia n.º 3 A Singular, de Franz Berwald, composta em 1845, mas que só estreou 37 após a morte do compositor; o programa inclui a Sinfonia n.º9 D944 A Grande, de Schubert.

CCB, domingo 12, 17.00, 5-20€

10 compositores escandinavos que precisa de ouvir

Johan Helmich Roman (1694-1758)

País: Suécia

Roman foi o primeiro compositor de renome internacional a emergir na Suécia, o que explica o epíteto de “pai da música sueca” que lhe é conferido. O pai era músico da Capela Real e Roman também iniciou aí carreira, como violinista, em 1711, aos 17 anos. Em 1715 solicitou ao rei permissão para aperfeiçoar os seus estudos musicais e viveu durante seis anos em Londres, onde, à data, estavam activos mestres como Handel, Geminiani e Bononcini. Quando regressou foi nomeado vice-mestre de capela, ascendendo a mestre de capela em 1727.

Entre a muita música que Roman compôs para a corte sueca a mais ouvida nos nossos dias é a imponente e festiva suíte Drottningholmsmusique, que abrilhantou o casamento, em 1744, do duque sueco Adolf Fredrik com a princesa prussiana Lovisa Ulrika. Talvez Roman não se tivesse empenhado tanto se fosse capaz de adivinhar o que o esperava. Ambos os noivos eram melómanos (Lovisa tocava cravo e Adolf, violoncelo), mas Lovisa, que era parente de dois afamados déspotas (era irmã de Frederico o Grande da Prússia e prima de Catarina a Grande da Rússia) não só era adepta de uma governação autocrática e avessa a novidades como parlamentos, como tinha ideias muito próprias sobre música e entendia que a orquestra e a música na corte de Drottningholm eram antiquadas (estava acostumada à fervilhante vida musical na corte de Potsdam). Numa carta ao irmão, Lovisa queixou-se de que a corte possuía um mestre de capela surdo, um mestre de dança coxo e um pintor cego. No que a Roman diz respeito, Lovisa tinha alguma razão, pois este foi ensurdecendo progressivamente, a ponto de em 1745 se ter visto forçado a abandonar o cargo, decisão para que também terá contribuído o facto de Adolf ter estabelecido uma orquestra que rivalizava com a orquestra “oficial” dirigida por Roman.

[I andamento (Allegro) de Drottningholmsmusique, pelo Ensemble Barroco de Drottningholm (em instrumentos de época), dirigido por Nils-Erik Sparf]

Joseph Martin Kraus (1756-1792)

País: Alemanha/Suécia

Kraus nasceu em Miltenberg am Main, na Francónia (Alemanha), mas um amigo sueco que conheceu na Universidade de Göttingen, persuadiu-o a acompanhá-lo a Estocolmo, em 1778. Sob o impulso de Gustavo III (filho de Adolf e Lovisa), a cidade conhecia então um florescimento cultural que levou Kraus, então com 19 anos, a estabelecer-se na Suécia. Após algumas dificuldades em afirmar-se, acabou por conhecer o primeiro sucesso com a ópera Proserpina (1781), com libreto esboçado pelo rei Gustavo III, que pouco depois o nomeou vice-mestre de capela da Ópera Real e director de Real Academia de Música e ainda lhe custeou uma viagem de quatro anos (1782-86) pela Europa, para que pudesse ficar a par dos mais modernos desenvolvimentos da arte musical.

O seu generoso mecenas seria assassinado em Março de 1792, num baile de máscaras na Ópera Real, e Kraus providenciaria uma cantata e uma Sinfonia Fúnebre para as exéquias. O compositor só viveria mais alguns meses – foi vitimado pela tuberculose, com apenas 36 anos, o que levou a que fosse apodado de “Mozart sueco” (por terem falecido com idades similares).

[I andamento (Allegro) da Sinfonia em ré maior, pelo Concerto Köln (em instrumentos de época)]
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Franz Berwald (1796-1868)

País: Suécia

Berwald obteve uma bolsa real para aperfeiçoar a sua arte em Berlim, mas o escasso interesse suscitado pela sua música obrigou-o a ganhar a vida como ortopedista e fisioterapeuta. Quando regressou ao país natal, em 1849, não encontrou melhor acolhimento e a sua nomeação, em 1866, para professor do Conservatório enfrentou séria oposição. A obra de Berwald teve escasso reconhecimento no seu tempo e só foi “descoberta” no início do século XX, continuando, todavia, o seu nome a ser pouco conhecido fora da Suécia. Das obras de Berwald que chegaram aos nossos dias, as quatro sinfonias são as que costumam ser ouvidas mais amiúde.

[Excerto do III andamento da Sinfonia n.º 3 (Sinfonie singuliére), de 1845, pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Herbert Blomstedt, 2016]

Niels Gade (1817-1890)

País: Dinamarca

Como Berwald, também Gade desenvolveu parte da carreira na Alemanha: quando a sua Sinfonia n.º 1 foi rejeitada em Copenhaga, enviou a partitura a Mendelssohn, que a fez tocar pela Orquestra da Gewandhaus de Leipzig. A sinfonia obteve um acolhimento entusiástico, o que encorajou Gade a mudar-se para Leipzig, onde foi professor no Conservatório e maestro-assistente da Gewandhaus, sendo nomeado para substituir Mendelssohn após a morte deste, em 1847. A guerra prusso-dinamarquesa obrigou-o a regressar ao país natal, vivendo em Copenhaga até à morte. As oito sinfonias e um magnífico octeto de cordas (com afinidades com o de Mendelssohn) são as obras que hoje conhecem alguma difusão, embora raramente sejam tocadas fora da Dinamarca.

[I andamento (Allegro molto con fuoco) do Octeto de cordas (1848), pelas forças conjuntas de L’Archibudelli & The Smithsonian Chamber Players, em instrumentos de época (Sony Vivarte)]
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Edvard Grieg (1843-1907)

País: Noruega

É, com Sibelius, o compositor escandinavo mais famoso. Gade já tingira algumas peças com melodias populares dinamarquesas, mas é com Grieg que o “nacionalismo musical” escandinavo ganha expressão.

Aos 15 anos, por conselho do grande violinista Olle Bull, foi enviado para o Conservatório de Leipzig, onde estudou entre 1858 e 1862. O seu estilo pessoal, marcado pelo folclore norueguês, só emergiria em meados da década de 1860, e tem o seu apogeu nos 10 livros de Peças Líricas (1867-1901), contendo um total de 66 miniaturas para piano. A sua música mais famosa é, porém, a que compôs para a peça de Henrik Ibsen, Peer Gynt (1876), que costuma ser ouvida sob a forma de duas suítes que contêm oito dos 26 andamentos da música de cena integral.

[Notturno do V Livro das Peças Líricas (1891), pelo pianista norueguês Leif Ove Andsnes (EMI/Warner)]

Carl Nielsen (1865-1931)

País: Dinamarca

De origens humildes (mas musicais: o pai tocava violino e cornetim em festas populares), Nielsen teve um arranque de carreira lento, que passou pelo posto de trombonista numa banda militar. Em 1884 conheceu Niels Gade, director da Real Academia, em Copenhaga, onde estudou, e em 1889 tornou-se violinista na Orquestra Real Dinamarquesa; em 1916 tornou-se professor da Real Academia. A sua música, inicialmente influenciada pelo romantismo de Grieg e Brahms foi ganhando ângulos, harmonias invulgares e, nalguns casos, uma pulsão rítmica imparável. Embora tenha composto em géneros diversos, só as seis sinfonias são executadas regularmente fora do país natal. Nielsen compôs duas óperas, mas, mesmo depois do sucesso da série televisiva The Killing (Forbrydelsen), o mundo não está preparado para acolher música cantada em dinamarquês.

[IV andamento (Finale) da Sinfonia n.º 4 Inextinguível (1916), pela Orquestra Sinfónica Nacional Dinamarquesa, dirigida por Michael Schonwandt]
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Jean Sibelius (1865-1957)

País: Finlândia

Jean Sibelius não é só a mais importante figura musical da Finlândia. Foi o primeiro finlandês a ter reconhecimento internacional, a sua música está impregnada de paisagens e lendas finlandesas (sobretudo nos poemas sinfónicos) e o compositor empenhou-se na causa nacionalista num momento crítico da história do país (que era um grão-ducado do Império Russo e só se tornou independente após a Revolução de Outubro de 1917, aproveitando o caos instalado na Rússia).

Naturalmente, o governo finlandês decidiu outorgar-lhe, em 1897, uma pensão modesta, que foi generosamente aumentada e tornada vitalícia em 1924, para que pudesse compor sem constrangimentos. Ora, até 1924, Sibelius fora um compositor prolífico, tendo produzido cerca de 200 peças, mas a sua obra posterior resume-se ao poema sinfónico Tapiola e à música de cena para A Tempestade, de 1926. Sibelius, que contava então 61 anos, viveria mais 30, mas não deixaria nem mais uma nota, embora conste que terá queimado a partitura de uma oitava sinfonia, em que trabalhou no início da década de 1930 e cuja estreia chegou a ser anunciada oficialmente. Hoje as sete sinfonias, os poemas sinfónicos e o concerto para violino estão firmemente implantados no repertório das grandes orquestras mundiais.

[Poema sinfónico Finlandia (1900), pela Orquestra Sinfónica da Rádio Finlandesa e a Orquestra Filarmónica de Helsínquia, dirigidas por Jukka-Pekka Saraste. Finlandia foi composto para uma festividade aparentemente anódina, de homenagem à imprensa, mas que na realidade era um protesto contra a censura imposta pelo regime czarista; até à independência, o poema sinfónico foi executado a coberto de diversos títulos de circunstância, pois a censura não permitiria o uso do título Finlandia]

Jón Leifs (1899-1968)

País: Islândia

Como aconteceu com outros compositores escandinavos de relevo, também o percurso de Leifs passou por Leipzig: deixou a Islândia aos 17 anos para estudar piano no conservatório da cidade alemã, mas o seu interesse desviou-se para a composição e direcção orquestral. Busoni, com quem teve aulas de composição, aconselhou-o a “seguir o seu próprio caminho como compositor” e foi o que Leifs fez, usando as canções tradicionais, as lendas e as paisagens e fenómenos naturais do seu país como fonte de inspiração para uma música monumental, austera e, por vezes, rasgada por tremendos abalos telúricos. Entre as obras mais conhecidas estão Sögunsinfónía (1942), Hekla (1961), inspirado na erupção do vulcão homónimo, Geysir (1961) e Dettifoss (1964), inspirado pela queda de água homónima.

[Excerto de Geysir, pela Basel Sinfonietta, dirigida por Daniel Bjarnason, ao vivo na Tonhalle de Zurique, 2015]
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Kalevi Aho (n.1949)

País: Finlândia

Aho foi aluno de Einojuhani Rautavaara (1928-2016), um dos mais conhecidos compositores finlandeses do século XX. Tal como Rautavaara, Aho tem uma abundante produção de sinfonias, concertos e óperas, nas quais se mesclam influências de Mahler e onde é notória a predilecção pelo uso de instrumentos de percussão (que têm papel de relevo nas Sinfonias n.º 11 e 14).

[I andamento da Sinfonia n.º14 Rituais (2007), pela Orquestra de Câmara da Lapónia, dirigida por John Storgards, gravação de 2013 (BIS)]

Kaija Saariaho (n.1952)

País: Finlândia

Entre os compositores escandinavos actualmente no activo, Saariaho é, juntamente com o finlandês Magnus Lindberg, o nome mais prestigiado. A sua obra mais conhecida é a ópera L’Amour de Loin, com libreto do franco-libanês Amin Maalouf, que, tal como Saariaho, deixou o seu país para fixar residência em Paris. A ópera inspira-se na vida do trovador medieval Jaufré Rude, estreou no Festival de Salzburgo de 2000 e ganhou, recentemente, visibilidade global ao ser levada à cena (na série Live in HD, transmitida em directo para todo o mundo) na relativamente conservadora Metropolitan Opera de Nova Iorque, sendo a primeira ópera composta por uma mulher a ser apresentada no Met desde 1903.

A sua invulgar condição de mulher-compositora – apesar de todo o discurso em torno da igualdade de género – terá levado Saariaho a interessar-se pela matemática, física e pensadora francesa Émilie du Chatelet (1706-49), um dos mais brilhantes espíritos do seu tempo, que desafiou as convenções e as tentativas para sufocar o seu génio e independência (quando a mãe percebeu que a rapariga tinha um intelecto sobredotado tentou enclausurá-la num convento). Émilie é o tema da ópera homónima (2010), um monodrama para soprano e orquestra, também com libreto do Maalouf (Émilie foi encomendada pela Fundação Gulbenkian e passou por Lisboa em 2013).

[Excertos de L’Amour de Loin, com Susannah Philips, Eric Owens, Tamara Mumford e o Coro & Orquestra da Metropolitan Opera, com direcção de Susanna Mälkki e encenação de Robert Lepage, na produção do Met de Dezembro de 2016]
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