Concerto para piano n.º 2 (1901), de Rachmaninov
Filme: O Pecado Mora ao Lado (1955), de Billy Wilder
Este é um caso especial, pois a música não se limita a fazer parte da banda sonora, nem sequer se limita a ser “diegética”, um palavrão que significa que emana de uma fonte intrínseca ao ambiente do filme e que as personagens estão também a ouvi-la, ao contrário da maioria dos casos, em que apenas o espectador pode ouvir a música. Em O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch), o Concerto para piano n.º 2 de Sergei Rachmaninov está imbricado na própria intriga. Richard Sherman (Tom Ewell) é um publicitário em crise de meia-idade e possui uma imaginação que costuma tomar o freio nos dentes. A partida da mulher e do filho para férias deixou-o só no seu apartamento em Nova Iorque e descobre que uma loura deslumbrante e de uma ingenuidade desarmante (Marilyn Monroe) acabou de mudar-se para o andar de cima (não do lado). A imaginação febril de Sherman constrói, num ápice, a fantasia de que a vizinha de cima é uma femme fatale e que a sua interpretação do dito concerto (que é tido como um paradigma do arrebatamento romântico) a deixa completamente inebriada (depois perceber-se-á que os gostos musicais da vizinha são bem mais prosaicos). É, graças ao overacting ostensivamente afectado de Ewell e Monroe, um dos momentos mais hilariantes de um dos filmes mais geniais de sempre.