Thelonious Monk
@William P. Gottlieb
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10 versões clássicas de “‘Round Midnight”

Sendo o jazz uma música eminentemente nocturna, não é de admirar que“‘Round Midnight” se tenha tornado numa das suas composições mais populares, sendo alvo de mais um milhar de versões. Estas dez são imprescindíveis

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Thelonious Monk terá composto “‘Round Midnight” em 1940-41, mas só registou a composição em 1944, ano em que foi alvo de uma primeira gravação por Cootie Williams, que lhe introduziu alguns embelezamentos – o mesmo fez Dizzy Gillespie quando a gravou em 1946. Entretanto, a composição ganhou também uma letra, da autoria de Bernie Hanighen, de forma que este Williams passaram a ser creditados como co-autores. É irónico (mas não inesperado) que se tenha transformado na mais popular composição de Monk, pois é atípica na sua produção – marcada pelo humor desconcertante, pelas dissonâncias ácidas e pelos ritmos angulosos – e nas mãos de outros músicos que não Monk tende a soar como uma belíssima e melancólica balada de recorte clássico.

A letra puxa-a ainda mais para a soturnidade: “Tudo vai bem até ao pôr-do-sol/ Pela hora do jantar invade-me a tristeza/ Mas as coisas só se tornam mesmo más/ Por volta da meia-noite// As recordações surgem por volta da meia-noite/ E eu não tenho força para lhes fazer frente/ Quando o meu coração ainda está contigo”.

10 versões clássicas de “‘Round Midnight”

Thelonious Monk

Ano: 1947
Álbum: Genius of Modern Music vol.1 (Blue Note)

Os dois volumes de Genius of Modern Music reúnem faixas provenientes de seis sessões de gravação, com diferentes músicos, realizadas entre 1947 e 1952, e foram lançados em 1951 e 1952. “‘Round Midnight” provém da sessão de 21 de Novembro de 1947, com George Tatt (trompete), Sahib Shihab (saxofone alto), Bob Paige (contrabaixo) e Art Blakey (bateria) e exibe as “idiossincrasias” típicas de Monk.

Miles Davis

Ano: 1956
Álbum:Round About Midnight (Columbia)

No início de 1955, Miles Davis estava a reemergir de um período, o início da década de 1950, de dificuldades financeiras e toxicodependência e acabara de gravar para a Prestige vários álbuns que anunciavam um regresso à primeira linha do jazz. Um deles, Bag’s Groove, gravado em 1954, contara com a participação de Monk, mas os dois músicos tinham tido um desaguisado durante as sessões. Os dois voltaram a encontrar-se no Festival de Jazz de Newport, a 17 de Julho de 1955, numa All-Star Jam Session que também contou com Zoot Sims (saxofone tenor), Gerry Mulligan (saxofone barítono), Percy Heath (contrabaixo) e Connie Kay (bateria) e a prestação de Miles em “‘Round Midnight” suscitou um entusiasmo extraordinário no público e na crítica, mas não em Monk, que entendeu que a abordagem de Miles fora incorrecta, o que levou a nova discussão entre ambos, no carro que os transportava de regresso a Nova Iorque (Monk ficou tão irritado que, a meio do caminho, pediu ao condutor que parasse o carro e saiu).

George Avakian, produtor da Columbia, estava no público de Newport e ofereceu de imediato um generoso contrato a Miles, mas este estava vinculado à Prestige, pelo que, embora pudesse gravar para outras editoras, os discos não poderiam ser editados enquanto o vínculo não fosse dissolvido.

Foi por esta altura que Miles reuniu o fabuloso quinteto com John Coltrane (saxofone tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Philly Joe Jones (bateria), cuja primeira sessão de gravação, a 26 de Outubro de 1955, seria para a Columbia. “‘Round Midnight” seria registado na sessão de 10 de Setembro de 1956, mas o álbum ‘Round About Midnight, o primeiro pela Columbia, só sairia em 1957.

O título escolhido para o álbum acabaria por criar uma duradoura confusão em torno do título da composição de Monk, que é por vezes referida, equivocamente, como “‘Round About Midnight”.

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June Christy

Ano: 1956
Álbum: The Misty Miss Christy (Capitol)

Apesar de “‘Round Midnight” ter ganho letra pouco depois de composta, só tardiamente entrou no repertório dos cantores. June Christy foi pioneira, ao incluir a canção no álbum The Misty Miss Christy, um dos nove que gravou entre 1953 e 1960 com o arranjador Pete Rugolo. Antes de Christy, a versão vocal tinha sido gravada apenas por Jackie Paris, num 78 rpm que poucos terão ouvido; depois de Christy, a canção entrou no repertório de cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen McRae ou Betty Carter.

Thelonious Monk

Ano: 1957
Álbum: Thelonious Himself (Riverside)

Thelonious Monk tinha a particularidade – rara nos músicos do seu tempo – de tocar quase exclusivamente temas de sua lavra – com excepções como Plays the Music of Duke Ellington, “imposto” pela editora precisamente para tentar tornar Monk mais apelativo para o público mainstream. Como Monk não era um compositor prolífico, tal significa que revisitou assiduamente o seu próprio songbook. Entre as duas dezenas de leituras que nos legou de “‘Round Midnight” está a do álbum de piano solo Thelonious Himself, que mostra bem a posição ímpar de Monk no panorama do jazz de então.

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Gerry Mulligan & Thelonious Monk

Ano: 1957
Álbum: Mulligan Meets Monk (Riverside)

Thelonious Himself foi registado em Abril e em Agosto Monk estava de regresso a “‘Round Midnight” num contexto diverso: uma sessão co-liderada pelo saxofonista barítono Gerry Mulligan, com Wilbur Ware (contrabaixo) e Shadow Wilson (bateria). O álbum é um dos pontos altos das carreiras de Mulligan e de Monk e a forma como os dois músicos interagem em “‘Round Midnight” é antológica.

Gil Evans

Ano: 1958
Álbum: New Bottle Old Wine (World Pacific)

Esta versão em big band, por um dos mais conceituados e elegantes arranjadores do jazz dos anos 50-60, faz parte de um álbum com composições imortais de grandes nomes do jazz como Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Fats Waller, Lester Young ou Jelly Roll Morton.

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Michel Legrand

Ano: 1958
Álbum: Legrand Jazz (Philips)

Michel Legrand é conhecido sobretudo como compositor de bandas sonoras – foi autor de mais de 200 – mas também fez algumas incursões no jazz. Legrand Jazz surgiu quando de uma sua visita a Nova Iorque, onde teve oportunidade de fazer tocar os seus arranjos pelos mais notáveis jazzmen americanos. A sessão de 25 de Junho de 1958 que produziu “‘Round Midnight” contou com Miles Davis, Herbie Mann, John Coltrane, Bill Evans e Paul Chambers, entre outros, e a atmosfera lânguida e sofisticada tem afinidades com a da versão de Gil Evans.

Dakota Staton

Ano: 1960
Álbum: ‘Round Midnight (Capitol)

A carreira de Dakota Staton estendeu-se até ao início da década de 1990, mas não voltaria ao nível dos seus álbuns da viragem das décadas de 1950-60, como é o caso deste, com orquestra arranjada e dirigida por Benny Carter. A combinação de elegância e calor de Staton é admirável e só é pena que ela quebre o ambiente nocturno e aveludado com uma despropositada exaltação aos 2’00.

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Stan Getz

Ano: 1960
Álbum: Cool Velvet (Verve)

Cool Velvet é um dos álbuns menos conhecidos de Getz para a Verve, mas a sua versão de “‘Round Midnight” oferece uma perspectiva diferente sobre a composição, seguindo a fórmula então usual de “sax with strings”: as cordas, arranjadas por Russell Garcia, têm por missão providenciar um fundo que realça o solista. E Getz mostra como o seu som aveludado se ajusta perfeitamente à bela melodia de “‘Round Midnight”.

Betty Carter

Ano: 1963
Álbum: ‘Round Midnight (Atco)

Betty Carter fez de “‘Round Midnight” um dos seus temas de eleição e escolheu a canção para dar título não só a este álbum em que é acompanhada por uma orquestra arranjada e dirigida por Oliver Nelson, como a um álbum ao vivo gravado em 1969, na companhia de um trio de piano, contrabaixo e bateria. A versão de 1963 está entre as mais conceituadas pela crítica, embora as afectações e idiossincrasias vocais de Betty Carter não sejam do gosto de todos.

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