“Summertime” é um objecto de difícil classificação. É uma ária de ópera – é ela que abre Porgy & Bess (1935) –, é uma canção de embalar – Clara canta-a para adormecer o seu bebé –, tem raízes nos espirituais negros e no blues, um musicólogo viu nela influências de Dvorák, Wayne Shorter filia-a no “acorde de Tristão, de Wagner, e foi entusiasticamente adoptada pelo jazz – embora não tenha despertado grande interesse até ao final da II Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e 1960 foram gravadas cerca de 400 versões por músicos de jazz.
A ópera tem libreto de DuBose Heyward, a partir de uma peça sua que adaptava o seu romance Porgy (1925), e a letra de “Summertime” inspirou-se na do espiritual negro “All My Trials”. No que toca à músca, há quem sugira que outro espiritual, “Sometimes I Feel Like a Motherless Child”, terá servido de inspiração a Gershwin.
Porgy & Bess desenrola-se, por volta de 1930, em Catfish Row, uma antiga mansão convertida em habitação de várias famílias de negros, em Charleston, na Carolina do Sul. Clara canta assim para a sua criança: “É Verão e a vida é agradável, os peixes saltam e o algodão está crescido, o teu pai é rico e a tua mãe bem-parecida, por isso, bebé, não chores e dorme”. Um dia, a criança abrirá as asas e lançar-se-á no ar, mas até lá nada de mal lhe irá acontecer, pois o pai e a mãe estão ao seu lado.