“O título é sempre polémico e há pessoas que levam isso como uma bíblia”, diz Sam The Kid, uma das mais importantes figuras do hip-hop português, sobre a discussão inerente aos nomes convidados para actuar na História do Hip-Hop Tuga, dia 8, na Altice Arena. “Há sempre dedos a apontar a dizer que falta este ou aquele. Faltar, falta sempre, mas há convites que não são aceites.” Valete, Regula ou Halloween são nomes da primeira liga em falta. “O Valete foi convidado, o Halloween foi convidado, o Regula, muitos mais, alguns até menos conhecidos. Por exemplo, Nigga Poison, que se calhar agora até nem estão muito activos enquanto grupo, e para eles não faz muito sentido fazer parte.”
A História do Hip-Hop Tuga é uma espécie de jogo onde se reúnem as peças mais importantes dos últimos 20 anos do movimento em Portugal. MCs, B-Boys, DJs e writers formam uma existência tridimensional onde rimas, danças, escrita e batidas compõem o todo. A ideia partiu de Vasco Ferreira [Sensi], o também MC que em 2017 agrupou as caras pela primeira vez no Sumol Summer Fest.
“Às vezes ele manda-me as coisas e diz ‘vê lá se falta alguém’, acabo por lhe dar algumas sugestões, um grupo, uma música.” O critério de selecção não está preso ao ditame da fama do grupo nem do indivíduo, aqui é a música que conta. “Por exemplo Alex e os Putos do Bairro, que era uma criança, que nem sequer tinha álbum, mas que tinha uma música com impacto na altura e fez história. Então também passa por aí.”
Nesta segunda edição há mais vertentes em cena, um avanço aplaudido por Sam, a quem pedimos que servisse como professor de História e nos guiasse pelo cartaz. “O hip-hop é uma cultura e não podes levar só o rap. Então há que ver sempre o que falhou ou faltou, e porventura pode haver mais edições onde as pessoas que não entraram podem ser incluídas.” Mas ainda são poucos os nomes femininos em cartaz.
Sam explica: “Não é haver poucas, há é menos. Na minha experiência, e infelizmente, sei que é mais difícil para as mulheres serem levadas a sério. É muito fácil terem de lidar com merdas com que os homens não lidam, quase que precisam de avisar que não estão ali para outra coisa.”
“Mas na história já houve bastantes rappers femininas”, retoma, “acho estúpido é a ideia de que só há espaço para uma no topo. Mesmo nos EUA, parece que só pode haver uma, primeiro a Nicki [Minaj], depois a Cardi B. Por que é que não podem estar as duas?”. “Com os homens não há isso”, atira. “Mas tens a Capicua, por exemplo, que é superfocada. Aí está uma qualidade que vejo nas mulheres do hip-hop: rigor, foco, profissionalismo.”
Voltamos à Altice Arena, onde Sam levará temas de Sobre(tudo), o segundo disco, Pratica(mente), o terceiro, recortes da banda sonora de O Crime do Padre Amaro, “cenas com o Mundo [Segundo], a MPC e uma cena com o Sir Scratch”. Por lá, Xeg, NBC, Bomberjack, Tekilla, Chullage, Carlão ou NGA são alguns dos nomes a encher o quadro, e Sam diz-nos o que esperar de cada um.
Altice Arena, Sex 22.00, 20-25€