Duke Ellington
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À noite com um clássico de Duke Ellington: dez versões de “Mood Indigo”

Uma das mais célebres composições de Duke Ellington, cuja tristeza resignada o próprio pianista abordou de mais do que uma forma.

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Como acontece com parte das composições de Duke Ellington, sobretudo as mais antigas, a sua origem é nebulosa e envolve, possivelmente, o contributo de um membro da sua orquestra – neste caso Barney Bigard. Este terá, por sua vez, ouvido a melodia – na altura com o nome de “Mexican Blues” – de um seu professor de clarinete em New Orleans, Lorenzo Tio, que foi também professor de Sidney Bechet e Johnny Dodds. Ellington diz tê-la composto em 1930 para uma transmissão radiofónica (nota para os millennials: “transmissão radiofónica”: processo de difusão de música, numa época em que não havia YouTube nem Bandcamp, que consistia em tocá-la, em directo, numa estação de rádio) e começou por baptizá-la como “Dreamy Blues”.

Como a transmissão suscitou muitas cartas entusiásticas de ouvintes (nota para os millennials: “carta”: forma de comunicação que recorria a tinta sobre papel e permitia a manifestação pública de aprovação ou desagrado, numa época em que não havia likes nem Facebook), Irving Mills, o manager da orquestra de Ellington, adicionou-lhe uma letra – nada de muito sofisticado, pois Mills não era exactamente T.S. Elliott, mas em sintonia com a tristeza resignada da música e com o espírito dos blues: estou triste desde que ela partiu e à noite sinto-me tão só que tenho vontade de chorar.

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Dez versões clássicas de “Mood Indigo”

1. Duke Ellington

Ano: 1930

Se há dúvidas sobre a paternidade da composição, não as há sobre quem fez a primeira gravação: foi a orquestra de Ellington, que a registou-a três vezes em 1930, para editoras diferentes. Nesta versão os solos são de Arthur Whetsel, em trompete com surdina, e de Barney Bigard, em clarinete.

2. Duke Ellington

Ano: 1950
Álbum: Masterpieces by Ellington (Columbia)

Quando Ellington voltou a gravar o tema, 20 anos depois, em Masterpieces by Ellington, o disco de 78 rpm começava a dar lugar ao LP de 33 rpm e 10’’ ou 12’’ de diâmetro, lançado pela Columbia em 1948, que, na versão de 12’’, permitia gravar 23 minutos em cada lado (duração depois estendida até cerca de meia hora), em vez dos três ou quatro minutos do 78 rpm. Ellington tirou partido desta inovação para, com a ajuda dos arranjos de Billy Strayhorn, converter “Mood Indigo” numa peça de 15’26, que passa por várias mutações de ritmo e textura e concede espaço a vários solistas – incluindo a cantora Yvonne Lanauze (pseudónimo de Eve Duke).

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3. Oscar Pettiford

Ano: 1954
Álbum: Basically Duke (Bethlehem)

“Mood Indigo” foi regularmente gravado não só por Ellington como pelos membros da sua orquestra. O contrabaixista Oscar Pettiford, que tocou com Ellington em 1945-48, incluiu o tema neste álbum com composições de Ellington e dois homens de Ellington, Clark Terry e Jimmy Hamilton, complementados por Jimmy Cleveland, Joe Wilder, Dave Schildkraut, Earl Knight e Osie Johnson.

4. Johnny Hodges

Ano: 1955
Álbum: Dance Bash (Norgran)

O saxofonista alto Johnny Hodges, que entrou para a orquestra de Ellington em 1928 e tocou nela até à sua morte, em 1970, registou “Mood Indigo” nesta sessão de 1955 que deu origem (com o acréscimo de duas faixas gravadas em 1952) ao álbum Dance Bash, lançado em 1955 pela Norgran (e reeditado pela Verve em 1957 como Perdido). Conta com Harold “Shorty” Baker (trompete), Lawrence Brown (trombone), Arthur Clarke (saxofone), Leroy Lovett (piano), John Williams (contrabaixo) e Louis Bellson (bateria)

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5. Thelonious Monk

Ano: 1955
Álbum: Plays Duke Ellington (Riverside)

O idiossincrático estilo das composições e do pianismo de Thelonious Monk começou por ser mal aceite pelo público e crítica e havia quem o acusasse de não saber tocar. Para demonstrar que Monk era um pianista consumado, quando este foi contratado pela Riverside, o produtor Orrin Keepnews persuadiu-o a que, em vez do material original que até aí constituíra o grosso dos seus discos, Monk interpretasse repertório “canónico” – neste caso, o de um dos mais prestigiados compositores de jazz, Duke Ellington.

Claro que, ao aceitar a ideia, Monk não renegou a sua essência, pelo que as composições de Ellington ganharam a angulosidade, a dissonância e o humor seco que lhe eram peculiares. O registo teve a cumplicidade de Oscar Pettiford (contrabaixo) e Kenny Clarke (bateria).

6. Frank Sinatra

Ano: 1955
Álbum: In the Wee Small Hours (Capitol)

In the Wee Small Hours, o terceiro álbum da superlativa série que Frank Sinatra e o arranjador Nelson Riddle gravaram para a Capitol na década de 1950, tem como fio condutor os temas da paixão extinta, da solidão e da depressão, o que explica a inclusão de “Mood Indigo”, a mais “azul” das composições de Ellington.

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7. Clark Terry

Ano: 1957
Álbum: Duke with a Difference (Riverside)

Mais uma versão de “Mood Indigo” por um “ellingtoniano”, o trompetista Clark Terry (um dos esteios da orquestra de Ellington entre o final dos anos 40 e 1959), numa sessão com composições de Ellington, músicos de Ellington – Quentin Jackson, Britt Woodman, Johnny Hodges, Paul Gonsalves, Jimmy Woode, Sam Woodyard e Billy Strayhorn – e arranjos repartidos entre Clark Terry e Mercer Ellington.

8. Ella Fitzgerald

Ano: 1957
Álbum: Ella Fitzgerald Sings the Duke Ellington Song Book (Verve)

É o álbum mais jazzístico da magistral série de “Song Books” gravada por Fitzgerald nas décadas de 1950-60 para Norman Granz. Embora as faixas mais conhecidas deste LP quádruplo sejam as que envolvem a orquestra de Ellington, outras, de natureza mais intimista, como “Mood Indigo”, foram gravadas com o grupo do pianista Oscar Peterson, com o guitarrista Herb Ellis, o contrabaixista Ray Brown (que tinha sido casado com Ella entre 1947 e 1953) e o baterista Alvin Stoller.

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9. Nina Simone

Ano: 1957
Álbum: Little Girl Blue (Bethlehem)

A estreia em disco da cantora e pianista Nina Simone não correu muito bem e, desiludida com a falta de empenho da editora, Simone rescindiu o contrato com a Bethlehem e mudou-se para a Colpix. Entretanto, Simone cedera os direitos de Little Girl Blue à Bethlehem por 3000 dólares, não podendo adivinhar que viria a tornar-se famosa e que os direitos do álbum lhe teriam rendido, no longo prazo, cerca de um milhão de dólares. Mas Simone, embora tivesse então apenas 24 anos, já era uma mulher de fibra e não deverá ter ficado a chorar sobre o leite derramado. A sua determinação e assertividade é bem patente neste “Mood Indigo” sem sombra de auto-comiseração e precedido por viva e longa introdução instrumental comandada pelo piano. O trio completa-se com Jimmy Bond (contrabaixo) e Albert “Tootie” Heath (bateria).

10. Charles Mingus

Ano: 1963
Álbum: Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus (Impulse!)

Charles Mingus era um admirador de Ellington e gravou “Mood Indigo” por duas vezes: em Mingus Dynasty (1959) e em Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus. Na segunda versão, os músicos são Richard Williams, Britt Woodman, Don Butterfield, Jerome Richardson, Booker Ervin, Dick Hafer, Charlie Mariano, Eric Dolphy, Jaki Byard e Walter Perkins e os arranjos são de Bob Hammer.

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