1. Uma Família às Direitas
É possível ter empatia por um americano chauvinista e intolerante, machista e ignorante, racista e sem pingo de civismo? A resposta é sim. Mas antes que suspeite de uma defesa de Donald Trump, outra pergunta: lembra-se de Archie Bunker? Pois, é dele que falamos. Devemos à personagem construída por Carroll O’Connor esta coisa de sentir amizade por um grunho capaz de ofender qualquer sensibilidade em 30 segundos de conversa. O homem que, em plena era Nixon, levou a televisão a sítios onde nunca tinha ido e desconcertava com as discussões familiares sobre temas que nenhuma outra série havia arriscado antes: racismo, homofobia, aborto, controlo de armas, sexo antes do casamento, religião. Na típica casa de classe média norte-americana dos anos 70, este estivador convivia com a mulher, a maravilhosamente estridente Edith; Gloria, a filha única do casal; e Michael Stivic, o genro estudante, democrata, activista e polaco. Um quarteto que entre 1971 e 1979 fez um país rir das suas próprias contradições. Tudo isso está resumido no texto de “Those Were the Days”, uma das melhores canções de genérico de todos os tempos, interpretada por Carroll O’Connor e Jean Stapleton ao piano.