A Gulbenkian habituou-nos a que a Páscoa seja assinalada com a execução de uma Paixão de Bach pelo Coro & Orquestra Gulbenkian sob a direcção de Michel Corboz (na foto). Acontece que, enquanto o seu amigo Telemann compôs mais de 40 Paixões, das quatro ou cinco que Bach terá composto só chegaram aos nossos dias duas – São Mateus e São João (da de São Marcos só restou o libreto e a de São Lucas é apócrifa).
Porém, este ano há uma inovação: Corboz dirige uma Paixão segundo São Mateus encenada por Romeo Castellucci e que recebeu o (nada original) título de A Paixão. A criação de Castellucci foi estreada em 2016 na Staatsoper de Hamburgo e tem sido bem acolhida por quem não é capaz de perceber que a música de Bach contém todo o drama e intensidade emocional necessários e que as alusões à efemeridade da vida humana que desfilam em palco são pedantes e redundantes.
O espectador pode sempre optar por fechar os olhos e limitar-se a escutar Ana Quintans (soprano), Marianne Beate Kielland (mezzo-soprano), Benedikt Kristjánsson (tenor), Marco Alves dos Santos (tenor), André Baleiro (baixo), Edwin Crossley-Mercer (baixo) e o Coro & Orquestra Gulbenkian.