C. Tangana é um fenómeno. Tem vídeos com milhões de visualizações no Youtube, discos de ouro e de platina em casa, singles que fazem mossa na sua Espanha natal e noutros países que falam a mesma língua, mas também noutras coordenadas na Europa. O mais certo é que o seu primeiro concerto em Portugal, esta sexta-feira no Musicbox, já esteja esgotado quando estas linhas chegarem às bancas.
O seu alcance é transversal. Os seus admiradores vão desde adolescentes com muito tempo livre a bandas indie com a agenda cheia (as espanholas Cariño gravaram uma versão de uma canção dele) e os seus haters também (essa instituição do rock andaluz que são Los Planetas perdem tempo a dizer mal dele em grandes entrevistas). É um rapper e uma estrela pop, apesar de ser normal encontrá- lo nos cartazes dos festivais mais alternativos de Espanha, como o Primavera, o Sónar ou o Benicàssim.
A sua música parte, ou pelo menos partiu, do trap, mas ele evita o rótulo. É redutor, diz a quem estiver disposto a ouvi-lo. E de certa forma tem razão. Nos seus discos e singles, ouvimos qualquer coisa de trap, mas também r&b, hip-hop, reggaetón e outras músicas latinas. Além disso, ajudou a escrever a maior parte das canções de El Mal Querer, o amplamente elogiado disco de flamengo da sua ex-namorada Rosalía, que aproxima o flamenco do trap e do r&b global contemporâneo.
Sublinhe-se que o sucesso de C. Tangana não é um caso isolado. Tem acontecido em simultâneo com a ascensão da música urbana latina num contexto pop global e, a um nível local (nos países de expressão espanhola, sobretudo), com a cada vez maior aceitação e celebração deste tipo de músicas em certos círculos indie. Mas nada disto importaria se o homem não tivesse canções do caraças. E isso é coisa que ele tem para dar e para vender.