Música, Fado, Fadista, Camané
©Mariana Valle LimaCamané
©Mariana Valle Lima

Camané: “É nessas horas que as coisas nos batem”

É o primeiro disco depois de José Mário Branco. Camané chamou-lhe ‘Horas Vazias’, mas ficámos com a sensação de que não cabe ali mais nada. Ausências, memórias, encontros, música, poesia, enchem um disco e uma hora de conversa.

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Camané avisa que costuma dispersar-se. Mas isso é antes, enquanto acata pacientemente todos os pedidos de pose para o retrato e pensamos ainda onde nos havemos de sentar à conversa. Depois dispersa-se mesmo e vai vadiando de ideia em ideia, entre todas as que lhe ocorrem para dizer o que precisa. Fala de grandes tradições e de pequenas revoluções, de como o cânone apenas se muda por dentro, com pinças, e do que uma canção precisa afinal para se poder dizer fado. Fala de encontros, de ontem e de hoje, do quanto o fascina a maneira que as coisas têm de lhe acontecer na vida, de passar dos 50, de perder amigos e fazer-se pai. Fala, enfim, de como isto anda tudo ligado, se quisermos parafrasear Sérgio Godinho, que é apenas um entre uma dúzia de compositores que o rodeiam no novo disco. Este é o seu nono álbum de estúdio, o primeiro onde José Mário Branco não participa, mas onde Camané jura que ele habita. São 16 temas que preenchem pouco mais de uma hora de música e precisaram de muitas horas vazias.

Qual é a probabilidade de todas as entrevistas que dês sobre este disco começarem com uma pergunta sobre o José Mário Branco?
É grande. Mas isso é óptimo. O Zé Mário Branco foi a pessoa mais influente no meu trabalho e isso está e estará sempre presente. Mas tudo o que eu fiz com o Zé Mário foi uma decisão também minha, havia sempre um consenso...

Era uma parceria.
Uma parceria, sim. As escolhas do repertório sempre foram minhas. Claro que o Zé Mário teve sempre uma importância... e continua a ter! Em tudo o que faço, na forma como trabalho. Até os músicos que trabalham comigo e que já trabalhavam comigo e com ele têm essa influência também. E o Pedro Moreira, o produtor deste disco, teve sempre uma atenção e um cuidado enorme em dar seguimento a esta coisa que é a minha forma de estar no fado.

Uma forma que definiste a dois.
Exacto. Isto foi dar seguimento a tudo o que foi feito até aqui. Acho que o Zé Mário ia gostar.

Ao ouvir isto, achas que ele ia embirrar com o quê?
[Pausa] Com nada. Acho que com nada. Tudo o que aqui está tem a ver com o que eu aprendi com o Zé Mário, a relação com o registo emocional dos poemas, tentar entrar por dentro do texto, não me exibir nunca e fazer o que o poema pede, o que a música pede... acho que era isso que o Zé Mário queria.

Um exercício de contenção.
De contenção e não só. De me pôr em segundo plano. É uma das coisas em que estou sempre a pensar. Tem a ver com esta ambiência musical que eu quero preservar. As músicas definem-se pelo ritmo, pelo ambiente, pela forma de interpretar. Não procuro transformar o fado em nada, pelo contrário. É evoluir de dentro para fora. Tudo o que for para evoluir é com pinças, devagarinho...

O José Mário falava em “esgrimir contra o cliché”, tentar elevar a coisa sem lhe alterar a essência.
Sim, sim, sim... E foi nos meus discos que ele fez essas pequenas revoluções. Aliás, quando conheci o Zé Mário percebi que ele tinha a ideia do fado como eu tinha. Foi isso que me ajudou a confiar. Mesmo quando fazíamos uma marcha – agora fizemos também uma com o Vitorino – a ideia era transportar aquilo para a minha forma de estar. Não gosto de estar no palco a bater palminhas. O que eu quis foi transportar aquela música para a minha forma de estar no palco. Quando fiz a “Marcha do Bairro Alto” com o Zé Mário, quando canto agora esta “Marcha de Alcântara”, do Vitorino, a ideia é fazer uma marcha-fado, muito inspirada naquilo que a Amália fazia também, há muitos anos. Sempre fiz isso, transportar as coisas para o meu mundo. E o meu mundo é fado. Mesmo quando cantei aquela música com o Abrunhosa, fiz isso. O Zé Mário adorava o Jorge Palma... por acaso nunca aconteceu antes, aconteceu agora gravar um tema dele. E também o transportei para o fado. Aquela música não seria assim cantada pelo Palma, é assim porque é cantada por mim, em fado. Da mesma forma com os temas do Pedro Abrunhosa ou do Sérgio Godinho, transportei-os para o fado.

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São coisas que originalmente não são fado.
Sim... em contraponto com outras músicas que estão no disco, que são fados tradicionais. O Fado da Bica, o Fado Rosa...

Tens também um Fado Menor/Maior...
O Menor/Maior tem uma história. O Gonçalo Moita, um amigo de infância, aqui há uns tempos mandou-me a ideia de cantar o Fado Menor em quintilhas. Mandou uma versão dele para o meu WhatsApp, com ele a cantar as “Ilhas Afortunadas”, do Pessoa, e o José Pracana [1946-2016] a tocar guitarra. O Fado Menor normalmente é cantado em quadras, quando muito com uma sextilha. A ideia das quintilhas é fantástica! Cantar com um verso a mais, passar para Maior. Eu estava a fazer o disco e de repente aparece o Gonçalo, este amigo de antigamente, que era meu vizinho em Oeiras, com quem eu nunca falava de fado, traz-me aquilo e fez-me todo o sentido. É uma grande ideia e foi um grande reencontro. Decidi gravar e dedicar aquilo ao Zé Pracana e aos Açores. Aquilo tem tudo a ver com os Açores!

Consegue-se tratar um fado tradicional, já muito repetido, de forma original.
E isso é extraordinário! No fado havia sempre os estilistas. Havia os fados normais, tradicionais, mas depois havia os fados estilizados. Acontecia muito com a Maria Teresa Noronha, com a Teresa Tarouca, e outros, uma série de fadistas que tinham essa capacidade de estilizar os fados tradicionais, que conseguiam...

...dar-lhes uma assinatura.
Sim, criar uma estrutura ligeiramente diferente. Na essência era o mesmo fado, mas com um toque próprio.

Sentes que continuas a deixar assinatura?
Quero acreditar que sim... mas isto era para sublinhar a importância dos encontros, dos pormenores que vão fazendo o disco. Ter-me reencontrado com um amigo de infância que me traz esta ideia genial.

Vamos aos encontros, então. Neste disco privilegias o encontro com autores que não são propriamente do fado: Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, Vitorino, Sérgio Godinho, Mário Laginha, Amélia Muge, Teresa Muge...
Mas isso sempre aconteceu. Mesmo o Zé Mário fazia músicas que não eram propriamente fado, mas que eu transportava para o fado...

Sim, isso percebo, lembro-me de ouvir o “Emboscadas”, do Sérgio Godinho, ou o “Porque Me Olhas Assim”, do Fausto, cantados por ti e ficar espantado por aquilo de repente ser completamente fado...
Precisamente! É disso que estou a falar. Ou o “Quem, à Janela”, da Amélia Muge, que também fiz.

Até onde é possível esse exercício? O que é que uma canção tem de ter para que consigas fazer dela um fado?
Tem de ter um ambiente em que eu consiga cantar neste ritmo... tem de ser possível transportá-la para aqui sem que a canção perca o essencial. Não sei como te explicar melhor... olha a canção do Abrunhosa [“Que Flor Se Abre No Peito”, primeiro single do álbum], por exemplo. Aquilo agora é um fado, não era. Consigo cantá-la no meu registo. Como aquelas canções que fazia o Oulman, que era francês, e que a Amália fazia delas fados. Mesmo quando cantei o “Sei de Um Rio”, que era um inédito do Oulman, à partida aquilo não era um fado...

Cantas aqui outro tema dele, as “Aves Agoeirentas”, que tinha sido gravado pela Amália.
É outro exemplo. Esse foi-me sugerido pelo David Ferreira. Isso à partida não era um fado e hoje é um clássico. Nos discos do Carlos do Carmo, no Um Homem na Cidade e no Um Homem no País, já acontece muito isso também. Havia lá muitas coisas novas, que se arriscava transportar para o fado, e que hoje são clássicos.

Já lá estava também o José Mário Branco a esgrimir contra o cliché.
Exacto. No Um Homem no País [1983] já lá tens o Zé Mário como produtor.

E pela mesma altura faz os dois primeiros fados dele, o “Fado da Tristeza”...
Sim, e o “Fado Penélope” [ambos gravados em Ser Solidário, 1982]. O “Fado Penélope” foi gravado pelo Carlos do Carmo há muitos anos, depois também foi gravado no meu segundo disco, Na linha da Vida [1998]. Também gravei o “Fado da Tristeza”. É engraçado que esses dois já são fados tradicionais, já há quem os cante com outras letras e já estão no Museu do Fado.

A tradição não é letra morta.
Não. A tradição constrói-se. Continua a construir-se.

Mas deixa-me insistir nisso dos encontros. Conto aqui 12 autores a compor inéditos para este disco.
É isso que te digo, é fantástico... por exemplo, o Miguel Amaral, que tem um gosto imenso, muito ligado ao fado clássico, a guitarristas como o Fontes Rocha, e que me fez uma música. Depois a minha mulher vai assistir a uma sessão de jovens poetas organizada pelo Jorge Silva e Melo e descobre o Sebastião Belfort Cerqueira [1987], mostra-me e eu gostei imenso dos poemas dele...

Tanto que incluiste três neste disco...
Sim. E eu gostei de vários poemas dele no livro, mas achava que nada daquilo me dava para cantar. Liguei-lhe e perguntei-lhe “Mas és capaz de escrever para música?”. Ele disse que sim, que aliás andava precisamente às voltas com isso, que a tese de doutoramento dele era sobre hip-hop. Mandei-lhe o Fado Rosa, o Fado da Bica e essa música do Miguel Amaral. Ele fez a letra em cima e acho que ficou fantástico [“Meu Amor”]. Era mesmo aquilo e nasceu de outros encontros. Outro exemplo: a música do José Manuel Neto, que ele tinha feito com outra pessoa há uns 30 anos [“Quem És?”]. Estávamos a ensaiar, ele mostrou-me a música e eu gostei imenso. Mostrámos ao João Monge e no dia a seguir já tínhamos a letra. E no dia a seguir a esse já tínhamos tudo feito. [Canta as primeiras palavras da canção] “Quem sabe onde me dou sem encontrar-te...” E pronto, aconteceu tudo ali. Engraçado, como tudo isto se liga. Ainda há pouco estávamos ali no jardim do Torel, onde em cada banco há um verso de um poeta, do David Mourão Ferreira, do Ary dos Santos, etc., e eu estava num banco com um verso do Monge... a pensar que nesta entrevista acabaria a falar sobre ele também...

Já deves ter cantado todos os bancos daquele jardim.
É provável, sim.

Sentiste essa necessidade de ter mais contributos neste disco, mais vozes?
Isto é o que eu escolhi de tudo o que me deram. É muita gente, de facto, mas foi a minha escolha...

Chegaram-te muito mais poemas e canções do que aqui tens?
Sim, muito mais! Isto foi escolha. Quando apresentei o disco com esta escolha, achei que a editora iria dizer que se calhar era muita coisa. Não quiseram tirar nada. São 16 temas, já pouca gente faz discos tão grandes. Mas eu próprio não conseguia tirar nada. E sempre foi assim, mesmo com o Zé Mário, nunca fiz aquela coisa de gravar e depois escolher deixar alguma coisa de fora. Nem tenho tempo para isso! Primeiro escolho os temas, depois gravo-os. Não gravei mais nada a não ser o que está aqui.

Como é que isso acontece? As coisas chegam-te, tu encomendas...?
Há coisas que peço, mas há também muitas coisas que me mandam espontaneamente. Eu tenho sempre a honestidade de dizer que nada é garantido, se gravo ou não, que tem a ver com a minha capacidade de transportar aquilo para a minha linguagem, que tem a ver com uma escolha, com um conceito...

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Tens um agradecimento final no disco: “À Manuela Azevedo e ao Hélder Gonçalves terem-me dado uma visão e um caminho para este disco.” Que visão e que caminho são esses?
Isso tem uma história atrás. O Hélder era para ter produzido este disco, mas não pôde, por questões de agenda. Fazia parte do contexto deste disco fazê-lo neste timing e ele tinha outros trabalhos em Avignon, ligados ao teatro...

Trocou-te pelo Tiago Rodrigues?!
Se calhar (ri-se). Percebo perfeitamente. Mas a verdade é que cada vez que trabalho com eles as coisas crescem... ainda há tempos estava a ler uma lista do Blitz que apontava os melhores discos dos anos 2000 – o primeiro era o Humanos, o segundo era Esta Coisa de Alma, que também foi disco do ano do Blitz. Acho que nunca um disco de fado foi melhor disco para um jornal de rock, até o Zé Mário ficou muito satisfeito. Perguntava como é que um jornal chamado “raio” se lembrava de olhar para o fado... mas os Humanos foi um disco que eu gostei imenso de fazer, uma coisa em que tinha medo de meter.

Tinhas medo de ficar muito associado ao fenómeno?
Lembra-me de passar na rua e me chamarem Maria Albertina.

(entrevistador escangalha-se a rir)
E só fizemos três concertos! Uma das razões porque entendi fazer era porque toda a gente tinha as suas carreiras pessoais. Era o disco, três concertos e estava feito. Nunca mais tocámos ao vivo. Podíamos andar dois anos naquilo, fazer 90 concertos e enriquecer. Mas tivemos a capacidade de não o fazer.

Estamos a perder-nos outra vez. Falavas da Manuela Azevedo e do Hélder Gonçalves...
Ah, sim! Tal como aconteceu nos Humanos, aqui eles desvendaram os temas por mim, deram-me um caminho, fizeram um trabalho incrível! Quando começámos a pensar no disco, mandaram-me uma gravação dos temas que estavam feitos, com eles a cantar, e isso tornou tudo facílimo para mim. Foi através deles que tive a visão melódica de tudo isto para depois desvendar o resto.

O título do disco parece sugerido por um dos versos do Sebastião Belfort Cerqueira. “Se os dias fazem doer/ Com cada hora vazia”.
Sim... a escolha foi minha. Horas vazias tem a ver com nós preenchermos o vazio, alimentarmos a alma a partir do momento em que estamos com disponibilidade, estarmos prontos a receber. As horas vazias é aquele momento em que a música, a arte, as palavras nos preenchem. É nessas horas que as coisas nos batem. Qualquer coisa que nos leva à reflexão.

Como viveste os tempos de confinamento? Muitas horas vazias?
[Pausa] Não... não senti tanto. Tenho de ser honesto nisso. Houve momentos de confinamento que foram realmente estranhos, mas preenchi-os com música e tive um filho há dois anos e dois meses, que me preencheu tudo e mais alguma coisa. Fui pai tardíssimo, vou fazer 55 anos agora. Já me aconteceu na rua “ai que bonito o seu neto e tal”. Mas pronto, não foi muita vez.

A malta na rua mete-se muito contigo.
É. Mas sempre com carinho. Quanto ao confinamento, tenho de ser honesto, tive sempre trabalho. Tive colegas meus que passaram momentos muito difíceis. Não me aconteceu. Nem dei pelo tempo passar. Mas lembra-me de vir aqui para a Avenida da Liberdade e nem carros passavam...

Perguntava por horas vazias no confinamento nesse sentido de ter sossegado tudo um bocado, interrompido o mundo...
Sim, isso sim. Durante algum tempo foi uma Lisboa muito vazia. E sim, isso eram horas vazias, em que não havia tanto ruído, e te deixavam disponível para te entregares, deixar entrar as coisas. Tudo isso amadureceu junto e preencheu horas vazias, os fados, os poemas, os encontros, os amigos, essas pistas que a Manuela e o Hélder me deram...

Depois chega Pedro Moreira.
O Pedro Moreira até foi uma ideia da minha mulher. Eu já tinha trabalhado com ele noutro contexto, de arranjos para orquestra, para um espectáculo que tinha fado e outras canções. E o Pedro é uma pessoa que conhecia e admirava o meu trabalho anterior. Foi o encontro com uma pessoa, que é um grande músico, capaz de dar continuidade a esta forma de estar no fado.

Essa forma de estar, que quer mudar o fado “de dentro para fora”, como dizias há pouco, implica arriscar sempre em algum momento nos arranjos?
Sim, tem sido recorrente. Mas com pinças, lá está. Aquele tema do Júlio Diniz, que foi musicado pela Carminho [“Nova Vénus”], por exemplo. Foi dos últimos temas a serem feitos, eu estava com dúvidas se ia gravar... de repente, percebi que havia ali alguma coisa de fado de Coimbra, que julgo que ela fez de forma intuitiva, sem se aperceber sequer. Daí surgiu-me a ideia de convidar um músico extraordinário que é o João Barradas, acordeonista, um homem da clássica e da contemporânea. Perguntei ao Pedro Moreira o que ele achava, ele disse logo que sim. E de repente as coisas funcionaram assim.

Há mais dois momentos em que foges ao formato clássico com o teu trio. Há um dueto apenas com um saxofone em “Às Vezes Há Um Silêncio”...
É o Fado Rosa, está tocado só com o Ricardo Toscano no saxofone, sem qualquer outra referência para os dois. Mas eu tenho o tempo cá dentro. Desde os dez anos que canto estes fados tradicionais com o tempo certo. Consigo cantar qualquer fado tradicional a cappella no tempo. Pode ser mais lento, mais rápido, mas depois de começar nunca perder o tempo. Faz parte de mim...

Já vens com a aplicação instalada de fábrica...
Pois, é verdade, está em mim. Já tinha feito este tema assim com o Ricardo em palco e em estúdio gravámos à primeira. Foi a gravação mais fácil do disco. Aquilo estava dentro de nós.

E depois, a fechar o disco, um sexteto de cordas em “Havemos de Nos Ver Outra Vez”...
Esse é um momento... em outros dos meus discos com o Zé Mário acontece isso, em que terminamos com um tema de cordas a fechar o disco. Acontece com aquele poema do Alexandre O’Neill, “A Meu Favor” [Do Amor e dos Dias, 2010]...

É difícil não adivinhar uma dedicatória nesse “havemos de nos ver outra vez”...
Sim... [pausa]. É desde logo uma dedicatória à Teresa Muge. Porque nos espectáculos que fiz com orquestra fechava sempre com esta canção, que ela escreveu e compôs, e agora quis gravá-la. Mas sim, é para o Zé Mário também. Acabo por falar das pessoas que desapareceram... é um tema que fala de amigos, de amores, de toda a gente a quem se quer bem, que queremos acreditar que havemos de ver outra vez. Está ali o Zé Mário, o Carlos do Carmo... [pausa]

Foi muito em pouco tempo.
Foi muita perda em pouco tempo. Pessoas que foram muito generosas comigo e que estiveram sempre ao meu lado... foi o Carlos do Carmo que me apresentou o Zé Mário, tinha eu 18 ou 19 anos, ia a descer a Rua da Barroca, viro à esquerda, estão os dois à conversa e eu de repente ganhei mais um amigo. O Carlos conheci-o de miúdo... Ou antes, tinha uns 14 anos, estava à porta da Adega Mesquita e passa o Marceneiro com o Zé Pracana, que me apresenta. E ele está aqui também. Depois, na sequência disto tudo aparecem amigos, aparece o Pedro Moreira... É muito engraçado, como as pessoas aparecem na minha vida.

Serve de dedicatória aos ausentes e aos novos encontros. É um bocado isso, sim. Há pessoas que deixamos de nos ver mas que vamos encontrar mais tarde, outras de quem nos despedimos mas vão estar sempre cá connosco... [pausa] Nada morre, ainda por cima quando são coisas que nos marcam tanto. Uma das coisas engraçadas desse texto é a ideia de que havemos de nos ver outra vez, nem que seja nos lugares aonde regressamos, naquilo que fazemos.

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