O ciclo Tempestade e Galanteria, com programa centrado na transição do Barroco para o Classicismo, traz-nos, entre outros grupos de instrumentos de época, a Compagnia di Punto, uma mini-orquestra, com cordas, flautas e metais, que pode rearranjar-se em diversas geometrias, do quinteto de sopros à orquestra de câmara. O nome deste ensemble com base em Colónia homenageia um virtuoso da trompa, Giovanni Punto (1746-1803), que fez carreira em Itália e França e foi um dos músicos mais aclamados e bem pagos do seu tempo. Punto desenvolveu uma técnica que permitia ultrapassar as limitações na trompa natural – na época o instrumento ainda não tinha ganho os pistões e era apenas um tubo de latão enrolado – e cobrir uma gama de notas que, em princípio, seria interdita ao instrumento.
Giovanni Punto era o seu nome artístico – na verdade, tinha nascido na Boémia como Jan Václav Stich. No século XVIII, a Boémia foi um extraordinário viveiro de instrumentistas e compositores de elevado gabarito, ainda que a maioria deles estejam hoje esquecidos e outros, ao terem assumido nomes italianos, não sejam imediatamente identificáveis com a Boémia. Um deles é um compositor que a Compagnia di Punto incluiu no programa, ao lado de Mozart e Haydn: Antonio Rosetti (c. 1750-1792), que nasceu em Litomerice, na Boémia, e foi baptizado como Franz Anton Rösler. Fez carreira na Alemanha, visitou Paris e foi um prolífico compositor de música de câmara, sinfonias e concertos, nomeadamente de concertos para trompa que terão servido de modelo aos de Mozart. O programa delineado pela Compagnia di Punto atesta que o hoje obscuro compositor boémio não se sai nada mal no cotejo com dois mestres da estatura de Mozart e Haydn.
[A Compagnia di Punto intepreta o III Andamento (Romanze) do Notturno B27 de Rosetti, que faz parte do programa do concerto]
Palácio Nacional de Queluz, sexta-feira 14, 21.30, 10€.