A igualdade de género tem vindo a fazer o seu caminho e nos últimos tempos surgiu em Portugal legislação que impõe quotas para mulheres nas listas de candidatos políticos e, em breve, também para os conselhos de administração das empresas públicas e cotadas em bolsa.
Há, todavia, actividades em que a representação feminina é bem inferior à que se tem registado na vida política e empresarial, sem que ninguém estranhe o facto. Veja-se o caso do rock: há uma longa e honorável tradição de singer-songwriters femininas, mas que se confina a atmosferas folk e a toadas serenas e intimistas; na pop também se admitem raparigas, mas quase sempre como vocalistas ou teclistas; quando se chega ao rock a representação feminina diminui substancialmente, sendo tanto mais notória quanto mais áspera e agressiva for a música e tendendo a confinar-se à voz a e ao baixo.
Claro que há bandas rock com mulheres nas guitarras ou com elenco inteiramente feminino, como as riot grrls, de inspiração punk, que emergiram na Costa Oeste dos EUA no início da década de 1990 (Bikini Kill, Sleater-Kinney), e as bandas femininas de inspiração grunge, surgidas pela mesma altura (Hole, L7, Babes In Toyland). E temos também P.J. Harvey e as Savages e bandas mistas lideradas por raparigas, como The Breeders, Throwing Muses e Belly, e ainda raparigas em bandas rock maioritariamente masculinas, como Kim Gordon nos Sonic Youth, Kim Deal nos Pixies, ou D’arcy nos Smashing Pumpkins. Mas não pode escamotear-se que as três últimas são baixistas – as guitarras e, em particular, os números de bravura na guitarra solista, têm sido assunto de rapazes. São eles quem, tradicionalmente, se ocupa da parafernália dos pedais de efeitos (uma manifestação da mais vasta obsessão masculina com gadgets) e é claro que foram também eles quem instituiu o manuseio da guitarra eléctrica como símbolo fálico. Mas isso acabou.