Conhecemo-lo em 2011, quando os seus Iceage eram uma das mais entusiasmantes bandas da cena indie rock, cruzando o ADN pós-punk dos operários britânicos da Factory com a virulência indie e herdeira do hardcore dos pioneiros ianques da SST. Com o passar dos anos, porém, as arestas, as garras e os dentes dos dinamarqueses foram sendo limados. Amansaram. E mais amansou o vocalista Elias Rønnenfelt que, no ano passado, lançou Heavy Glory, um álbum de alt-country competente, como tantos outros. Esta quarta-feira, 19 de Fevereiro, vem apresentá-lo à Zé dos Bois.
No entanto, estamos entusiasmados. Não pelo que levou os últimos anos a fazer, mas pelo que Lucre nos revelou. Largado no Youtube a 1 de Janeiro, e disponível desde a passada sexta-feira, 7 de Fevereiro, em todas as plataformas de streaming, este breve EP de sete faixas e 16 minutos é o melhor – porque o mais sanguíneo – trabalho a que o escandinavo emprestou a voz em mais de dez anos. Composto a meias com o enigmático Dean Blunt, é só indie-pop da boa, acústica e poída, com tanto de frágil como de estranho, não muito longe do que os Bar Italia fizeram na World Music do antigo cabecilha de Hype Williams. Vale a pena comprar bilhete na esperança de ouvir uma ou outra canção destas. Se tocar as sete? Pode ser o concerto do ano.
Ainda por cima, na primeira parte, apresenta-se a solo Gabriel Ferrandini, transcendente baterista e compositor português que já colaborou com figurões internacionais como Alexander von Schlippenbach, Evan Parker, Peter Evans, RP Boo ou Thurston Moore e ultimamente tem acompanhado o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues à volta do mundo. No segundo e mais recente registo em nome próprio, Hair of the Dog (2021), o free jazz é subsumido por espectros electrónicos.