O violoncelista checo Hanus Wihan há muito vinha solicitando um concerto ao seu compatriota Antonín Dvorák, mas este tinha a convicção de que o violoncelo soava bem na música de câmara e orquestral mas não tinha aptidões solistas, devido (dizia ele) aos graves pouco definidos e aos agudos nasalados. Dvorák acabou por mudar de ideias durante a sua estadia em Nova Iorque – para onde fora convidado como professor do conservatório –, ao assistir, em Março de 1894, à estreia do Concerto para violoncelo n.º 2 de Victor Herbert, que, além de compositor, era primeiro violoncelo da orquestra da Metropolitan Opera (e cuja obra caiu entretanto no esquecimento). Dvorák ficou tão impressionado com a obra e o desempenho de Herbert como solista que se lançou na composição de um concerto para violoncelo, que terminou em Fevereiro de 1895, pouco antes de regressar ao país natal.
Para a estreia, Dvorák tinha em mente Wihan como solista, mas este preparou uma cadenza para o final do concerto que Dvorák se recusou a incorporar na partitura e os dois ficaram de candeias às avessas, pelo que a estreia, que teve lugar em Londres, em 1896, foi confiada a Leo Stern.
O concerto de Dvorák tornou-se numa peça central no repertório dos grandes violoncelistas e Gautier Capuçon (n.1981) não podia deixar de o gravar – fê-lo em 2008 para a Virgin Classics (hoje Erato), com a Sinfónica da Rádio de Frankfurt, dirigida por Paavo Järvi, num disco que tem a particularidade de acoplar o concerto de Dvorák ao concerto de Herbert que o inspirou. Capuçon já registou várias obras “canónicas” para violoncelo e orquestra – Haydn, Lutoslawski, Prokofiev, Saint-Saëns, Shostakovich, Tchaikovsky – e tem também intensa actividade na música de câmara, cobrindo Beethoven, Brahms, Debussy, Fauré, Rachmaninov, Ravel e Schubert.
Na visita de Capuçon a Lisboa – em que tem a parceria da Orquestra Gulbenkian, com direcção de Hannu Lintu –, o concerto de Dvorák é acoplado às célebres Danças Polovtsianas, da ópera Príncipe Igor, de Borodin, e Triumf Att Finnas Till (Triunfo em Existir), de Magnus Lindberg. Esta última obra, que requer a intervenção do Coro Gulbenkian e resultou de uma co-encomenda da Fundação Gulbenkian, recorre a poemas escritos em 1916 pela sueca Edith Södergran, cujo tom afirmativo e exultante é uma reacção aos sombrios tempos que a Europa então vivia – a obra foi estreada em Novembro passado em Londres, assinalando o centenário do Armistício que pôs termo à carnificina da I Guerra Mundial.