É daquelas pessoas que nunca sabe onde estacionou o carro e se esquece sempre do dia do aniversário da sua cara-metade? Não se alarme, é perfeitamente normal, preocupante seria se fosse como Léandre, a personagem central da peça Le Distrait (1697), de Jean-François Regnard, que precisa de dar um nó no seu lenço de forma a não se esquecer de que irá casar-se nesse dia. Léandre é capaz de tomar uma carruagem alheia julgando que é a sua, pedir as luvas ao criado quando já as tem calçadas, ou escrever uma carta confessando os seus sentimentos a uma senhora e endereçá-la a outra.
Apesar dos muitos desvarios de Léandre, Clarice, a noiva, acaba por aceitá-lo como ele é e o casamento, após ter sido ameaçado por vários contratempos, acaba por ter lugar – como aliás acontece na maioria das comédias de Regnard. Le Distrait podia ter tido carreira obscura, uma vez que a estreia foi seguida por apenasmaistrêsrepresentações, mas a reposição em 1731 obteve um sucesso que lhe permitiu integrar o repertório da Comédie-Française.
Em 1774, a peça foi retomada, em versão alemã e em prosa, como Der Zersteute, pela companhia itinerante de Karl Wahr, que passou algum tempo ao serviço da família Esterházy, para quem Haydn providenciou música durante quase três décadas. Foi para as representações de DerZersteute, em Pressburg e Esterhaza, que Haydn compôs a música da Sinfonia n.º 60, que se vai ouvir no Teatro Thalia. O que explica porque, em vez de seguir o plano formal das sinfonias, esta se desdobra por uma abertura, quatro entreactos e um final. A música de cena de Haydn, bem humorada e plena de imprevistos, reflecte provavelmente as personagens e peripécias da peça, mas não há indicações na partitura que permitam estabelecer correspondências.
Pela mesma altura em que Haydn compunha a Sinfonia n.º 60, Mozart, que tinha então 18 anos e estava ao serviço do Príncipe-Arcebispo de Salzburgo, produzia a Sinfonia n.º 28 K.200 e o Concerto para fagote K.191. A Sinfonia n.º 28 marca uma evolução decisiva na vasta produção sinfónica de Mozart, sendo considerada por alguns musicólogos como “o nascimento da sinfonia moderna”. Há indícios de que Mozart terá composto quatro ou cinco concertos para fagote, mas o K.191 foi o único que chegou aos nossos dias. Nesta ocasião, a fagotista será Lurdes Carneiro e terá a companhia da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com direcção de Evgeny Bushkov (na foto).