Leonard Cohen
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Leonard Cohen: canções de um poeta raro

Oitenta e três anos depois de ter nascido, a 21 de Setembro de 1934, e a menos de dois meses de passar um ano sobre a sua morte, homenagens são devidas a Leonard Cohen. São demasiadas canções, demasiadas memórias dos seus efeitos, aqui resumidas em 10

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O melhor poeta pop (sim, Bob Dylan ganhou o Nobel, mas…) morreu em 7 de Novembro do ano passado. Ficaram os poemas, os que se transformaram em canções e os outros. Principalmente ficaram os que falam dele e tão bem servem aos sentimentos de outros. Entre os que mais tocaram almas magoadas, mas não resignadas, fica esta dezena.

Leonard Cohen: canções de um poeta raro

Suzanne (1967)

Se há uma canção que está para a música popular como Citizen Kane está para o cinema, é, sem dúvida, Suzanne. Como aquele, primeira obra de Orson Welles, a canção inicia o primeiro álbum do poeta, e, como o filme, é marca que acompanhará uma carreira. O que é aliás justo, pois Suzanne, relato da relação do cantor com a artista plástica e dançarina Suzanne Verdal, reúne já os elementos líricos e existenciais que preenchem grande parte do seu trabalho.

Sisters of Mercy (1967)

Diz a lenda que esta canção, em forma de valsa, foi composta durante um nevão em Edmonton, no Canadá, no quarto de hotel onde Cohen acolheu Barbara e Lorraine, duas dos muitos filhos das flores que então viajavam pela América do Norte de mochila às costas, quando não tinham dinheiro para ir a sítios mais exóticos, como a Índia, ou Marrocos. O compositor contou, muito mais tarde, que escreveu Sisters of Mercy enquanto as raparigas dormiam, inspirado pela luz reflectida pelo rio Saskatchewan, e que por uma “única vez uma canção foi-me dada sem ter de suar cada palavra.”

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Bird on the Wire (1969)

Confirmando o carácter autobiográfico de grande parte das suas canções, este foi tema nascido da imagem que o poeta guardou de uma estada, quase um retiro, na ilha de Hydra, na Grécia, no início da década de 1960, onde, por uma vez, viu um bando de pássaros alinhado sobre os fios telefónicos e os imaginou como notas numa pauta. A canção foi gravada em Nashville, Meca da música country, e isso nota-se na linha melódica desta espécie de lamento, ou pregação quase religiosa que muitas vezes abria os seus concertos.

Famous Blue Raincoat (1971)

É uma canção enigmática, rara num compositor que sempre aspirou à clareza, que, no entanto, depois de navegar as águas da obscuridade de um triângulo amoroso, termina com a clareza de um “Sincerely, L. Cohen.” Mas a coisa deve ter doído mais do que costume, pois Cohen, contrariando o hábito, quando perguntado, invocou sempre ter esquecido os detalhes. O que, aliás, não interessa nada perante a precisão das palavras e o quase sussurrante coro de vozes e cordas, chave de um sublime movimento harmónico.

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Is This What You Wanted (1974)

Há quem afirme a pés juntos que New Skin for the Old Ceremony, onde se encontra "Is This What You Wanted", é o álbum-anúncio da separação do cantor com a mãe dos seus dois filhos, Suzanne Elrod. É verdade que se separaram algum tempo depois. E também é verdade que nesta canção, melodicamente lembrando o teatro musical, Leonard Cohen não é manso com si próprio, pintando-se, embora em jeito de queixa, das cores mais machistas possíveis.

Memories (1977)

Gravar com o produtor Phil Spector foi para muitos artistas um pesadelo, apesar de quase todos beneficiarem com o seu trabalho. Leonard Cohen é dos poucos que não se queixava e recordava as gravações do álbum Death of a Ladies' Man como uma animada bebedeira contínua. Certo é o disco estar para o resto da obra como um fogo de artifício está para uma rua mal iluminada. Responsabilidade do produtor, que envolve as recordações de adolescência inscritas nos poemas numa fanfarra de arranjos, curiosamente sem estragar nada e mantendo o carácter íntimo da poesia.

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Hallelujah (1984)

Various Positions está longe de ser o melhor álbum de Cohen. Mas Hallelujah ficou, sem dúvida, como uma das mais comoventes e poderosas canções registadas pelo compositor. Canção que “não custou nada a gravar”, segundo o produtor, John Lissauer, é também o tema do cancioneiro do poeta do qual existem mais versões registadas por outros artistas, desde Bob Dylan a Jeff Bucley, passando por Bono e Bon Jovi, ou Justin Timberlake, Rufus Wainwright e John Cale.

I'm Your Man (1988)

E… lá vai, direitinho ao chão, mais uma vez pronto a rojar-se aos pés de uma mulher para quem foi – como dizer? – mau, incapaz porém de pedir desculpa ou requerer perdão (e quem se importa quando ouve versos tão sentidos como “I'd crawl to you baby and I'd fall at your feet/ And I'd howl at your beauty like a dog in heat....”) Gravado depois de um período de afastamento, isto é, um dos muitos retiros que fez para vasculhar a sua alma e procurar a sua espiritualidade, o tema surge praticamente narrado, muito despido de arranjos (que mais de uma vez foram a cruz das suas canções) e a sua muito evidente inspiração nas baladas country está longe de ser acaso.

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The Future (1992)

Por esta altura, a réstia de optimismo ou esperança que, apesar de tudo, se entrevia entre muitos dos poemas, é uma recordação. Inspirada pela queda do Muro de Berlim, The Future é uma canção especialmente melancólica, pontuada por um coro gospel convencido da chegada breve do Apocalipse, onde Cohen parece em simultâneo espantado com o presente e profundamente pessimista quanto ao futuro. Como é claro nestes versos: “Give me back the Berlin Wall/ Give me Stalin and St. Paul/ I've seen the future, brother: It is murder.

You Want It Darker (2016)

Ao 14º álbum de originais, sabendo-se perto do fim, com produção do filho, Adam, e esparsos arranjos, Leonard Cohen registou, mais do que testamento, um adeus. É um álbum muitas vezes lúgubre. Na canção que lhe dá título, em especial, o habitual coro feminino é substituído por um coro de homens suportando a voz gasta de barítono, vagueando depois por canções, umas vezes amargas, outras vezes doces, todo o álbum oscilando entre o religioso e o profano como quem procura uma salvaguarda, sintetizada na frase: “I'm ready my Lord.

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De Nina Simone, em 1969, a Anna Calvi, em 2009,dezenas de versões de canções de Leonard Cohen foram feitas. Nesta lista vai encontrar artistas como Johny Cash, R.E.M. ou Rufus Wainwright.  Quinta-feira às 21.30 no Centro Olga Cadaval, em Sintra, David Fonseca, Jorge Palma, Samuel Úria, Miguel Guedes, Mazgani e Márcia cantam "As Canções de Leonard Cohen". Bilhetes entre 20 e 30€. 

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Chamaram-lhe "príncipe dos vagabundos", "poeta do pessimismo", "vendedor do desespero", "padrinho da tristeza". Depois disto, alguém precisa de receber o Nobel? Nós é que precisamos da lista que se segue. Tome note, e vá em paz.   

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