Começou tudo com o futebol. Madonna mudou-se para Lisboa para acompanhar o filho no sonho de seguir uma carreira como jogador no Benfica, mas rapidamente deixou de ser só isso. Dino d’Santiago está na origem de (quase) tudo. É Madonna quem o diz. E a prova são as pessoas que a rodeiam agora em palco. A história está no documentário que a cantora fez para a Amazon realizado pelo português Nuno Xico. Cláudia Lima Carvalho apresenta a tribo que Lisboa deu a Madame X.
Poucas estrelas brilham com a intensidade de Madonna. Pode já não ser a rainha da pop, mas continua a ser uma das mais curiosas e magnéticas figuras do género, e no seu mais recente álbum, Madame X, volta a dialogar e a trazer para dentro da sua música outras músicas. Como sempre fez. Criado entre Lisboa, Londres, Nova Iorque e Los Angeles, é um disco pop global, onde há espaço para aproximações ao fado, ao batuque cabo-verdiano, ao trap, ao reggaeton e a outras músicas latinas.
Depois das oito datas em Lisboa, que se prolongam até 23 de Janeiro, a cantora viaja para Londres e mais tarde Paris. Mas antes de chegar à Europa, Madonna esteve nos Estados Unidos. A digressão de Madame X devia ter começado a 12 de Setembro, em Nova Iorque, no entanto os primeiros espectáculos foram cancelados. Arrancou finalmente no dia 17 do mesmo mês. Na altura, ela justificou o atraso com o seu “perfeccionismo”. Disse que “tinha subestimado quanto tempo seria preciso para apresentar este tipo de experiência teatral aos fãs”.
Os primeiros concertos de Nova Iorque foram apenas três dos vários que foram cancelados no ano passado nos Estados Unidos. Antes sequer de sair de Nova Iorque, teve de voltar a afastar-se dos palcos por uns dias, abdicando da data de 7 de Outubro, na sequência de uma lesão no joelho. A primeira actuação em Los Angeles, a 12 de Novembro, também foi cancelada por atrasos e problemas na produção. E nunca chegou a ir a Boston, onde devia ter estado entre 30 de Novembro e 2 de Dezembro. Estava lesionada. Por fim, a 22 de Dezembro, falhou o último concerto da digressão norte-americana, em Miami.
“Quando subia a escada para cantar ‘Batuka’, [na noite de 21 de Dezembro] em Miami, estava em lágrimas, com uma dor indescritível. Depois de cada canção que cantava, rezava para aguentar até à canção seguinte e sobreviver ao concerto. As minhas preces foram atendidas e consegui”, escreveu então na rede social Instagram. “Tenho de ouvir o meu corpo e aceitar que esta dor é um aviso.” A missiva continuava: “Passei os dois últimos dias com médicos. Eles deixaram claro que se quero continuar a minha digressão, tenho de descansar tanto quanto possível para não causar mais danos, irreversíveis, ao meu corpo.” Madonna foi bem mandada. Passou as últimas semanas afastada dos palcos, a descansar, e vai regressar aos concertos no domingo à noite, no Coliseu – se tudo correr bem.
Apesar destes percalços, e de alguns atrasos no início de concertos que já resultaram num processo judicial, a digressão de Madame X tem sido muito elogiada. O crítico Rob Sheffield escreveu, na Rolling Stone, que é “um testemunho da genialidade da sua loucura”, sublinhando que as canções do novo disco “funcionam muito melhor em palco” e elogiando a decisão de trocar os grandes estádios e arenas a que está acostumada por residências em salas mais intimistas – na Europa, vai tocar apenas no Coliseu de Lisboa, no Palladium, em Londres, e na sala parisiense Le Grand Rex; os concertos prolongam-se até 11 de Março. E estas opiniões têm sido partilhadas pelos jornalistas de meios de referência como The New York Times ou o Los Angeles Times. No domingo vamos ver se têm razão.