Numa passagem de O Pêndulo de Foucault, uma personagem explica que não é apenas a Grande Pirâmide a ocultar significados cósmicos: estes podem também ser encontrados em edificações tão comezinhas como um quiosque, de cujas dimensões e proporções podem extrair-se, vínculos com a astronomia ou a história, bastando para isso algum malabarismo aritmético.
Ao DSCH-Schostakovich Ensemble apeteceu-lhe juntar Mozart e Shostakovich na mesma noite e, sentindo a necessidade de justificar a acoplagem, invoca o facto de as datas de nascimento dos compositores (1756 e 1906) estarem separadas por 150 anos. Poderia, com igual pertinência, observar-se que o Trio com piano n.o 2 de Shostakovich (incluído no programa) foi composto no mesmo ano – 1944 – em que a Irmã Lúcia confiou ao papel o Terceiro Segredo de Fátima.
Quando não se dedica à numerologia, o DSCH proporciona arrebatadoras interpretações (acaba de lançar na Paraty a integral da música de câmara de Shostakovich) e é isso que se espera deste concerto em que Filipe Pinto-Ribeiro (na foto), Corey Cerovsek e Adrian Brendel tocam a Sonata para violino e piano K.303 e o Trio com piano K.564, de Mozart, e a Sonata para violoncelo e piano e os Trios com piano, de Shostakovich.