A crise da covid-19 forçou ao encerramento de teatros de ópera e salas de concertos e à suspensão da actividade de coros e orquestras, mas, para que os apreciadores de música clássica não passem privações, muitas instituições musicais tornaram livre o acesso a parte (ou à totalidade) do seu arquivo de filmagens de concertos e récitas de ópera, somando-se às que sempre disponibilizaram gratuitamente todos os seus conteúdos e aos intérpretes individuais e formações de câmara que colocam regularmente vídeos seus nas redes sociais.
É claro que nada substitui a experiência de assistir a um concerto ao vivo, mas o sofá da sua sala também tem vários pontos positivos: 1) Não terá de dar-se ao trabalho de se vestir a rigor, ou até de alugar roupa apropriada, no caso dos concertos e récitas com regras de vestuário apertadas; 2) Não correrá o risco de que alguém na fila de trás passe o concerto a tossir e a desembrulhar rebuçados (sempre nos trechos em pianissimo); 3) Os meios de captação de som e imagem ao vivo evoluíram tanto nas últimas décadas que permitem restituir um concerto ou uma récita de ópera no ecrã com extraordinária fidelidade e dinamismo, proporcionando uma experiência mais envolvente do que a obtida nos lugares mais baratos da sala (e até muitos detalhes que não são acessíveis aos lugares que custam o equivalente a um salário mínimo português); 4) Pode juntar a sua voz à das valquírias de Wagner na célebre incitação “Hojotoho! Hojotoho! Heiaha! Heiaha!” sem suscitar um coro de “chiu!” indignados à sua volta.
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