Música, Em Playback, Carlos Paião, Eurovisão
©DRCarlos Paião na Eurovisão
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Nostalgia de Abril: as músicas que dominavam o airplay há umas décadas

As músicas que estavam a passar insistentemente na rádio neste mês, há 10, 20, 30 e 40 anos.

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A nostalgia é uma coisa tramada. Mais do que a saudade do que foi, é uma melancolia por tudo o que já lá vai, e que pode despertar em nós pelas razões mais insuspeitas. A música costuma ser o grande acelerador para essas viagens instantâneas no tempo. O problema é que, como alguém bem definiu, a nostalgia é a nevralgia das recordações. E pode bem chegar à boleia de sons que até nos davam dores de cabeça, mas que falam de um tempo que nos afaga a memória. Para bater uma saudade, nem é preciso escutarmos a música que escutávamos então: basta que nos façam ouvir aquilo que tínhamos de ouvir, quiséssemos ou não, porque era o que estava a tocar em toda a parte por esses dias. Eis os sons que dominavam o airplay, em Portugal e nos tops de referência do Reino Unido e Estados Unidos, nos meses de Abril de há umas décadas.

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Há 40 anos: Abril de 1981

Em Abril de 1981, os russos estiveram prestes a invadir a Polónia (outra vez) para travar a ascensão do movimento sindical Solidariedade, liderado por Lech Walesa. Depois de alguma conversa entre Reagan e Brejnev, a coisa lá se compôs. A 9 desse mês era confirmado o primeiro diagnóstico de SIDA e a 12 acontecia o voo inaugural do space shuttle Columbia, o primeiro vaivém da história.

Portugal assistia com orgulho à prestação de Carlos Paião na Eurovisão. O festival aconteceu num sábado, 4 de Abril, Paião não foi além do 18.º lugar, com nove pontos sovinas, mas o país não quis saber disso e colocou-o merecidamente no top de singles, destronando “Super Trooper” (retirado do álbum homónimo dos ABBA, que haveria de ser o LP mais vendido nesse ano por cá).

“Em play-back, respirar p'ra quê?/Quem não sabe também não vê”. Quem quiser perceber a piada da música de Paião, atente bem no vídeo de “Making Your Mind Up”, a canção com que os ingleses Bucks Fizz venceram a Eurovisão nesse ano, com uns inflacionados 136 pontos, e que ocuparia o top do Reino Unido durante toda a segunda metade de Abril (para inglês ver e perceber, temos também a versão da canção de Paião em inglês). Antes, o número 1 do Reino Unido era ocupado por “This Ole House”, canção de Shakin' Stevens, nome artístico de Michael Barrett, um serôdio rockabilly galês que adorava filmar telediscos em casas vazias (como se pode comprovar aqui e aqui). Como nada disto é verdadeiramente memorável, e para não defraudar as necessidades nostálgicas, recuperamos antes este “Kids in America”, música de Kim Wilde que andou pelo top 5 dos camones sem nunca alcançar o pódio, mas que seria obrigatório em qualquer síntese sonora daquele ano.

Nos Estados Unidos, o airplay estava ainda mais estranho. A 4 de Abril, o primeiro lugar da Billboard Hot 100 era ocupado por “Rapture”, dos Blondie, canção que ali acampou por duas semanas antes de começar a escorregar para o esquecimento, de onde alguém a recuperou 40 anos depois para fazer esta lista. No resto do mês, a tabela foi liderada pelo também negligenciável “Kiss On My List”, de Daryl Hall e John Oates, e por isso optamos por recordar o mês quatro daquele ano com este “Woman”, de John Lennon, que andava ali pelo top 5.

Há 30 anos: Abril de 1991

1991 foi um ano agitado, mas Abril nem por isso. Em Janeiro, Soares era reeleito Presidente e a Guerra do Golfo chegava ao fim, em Dezembro a União Soviética ruía por completo e Cavaco conquistava a maioria absoluta. No Verão emergia a World Wide Web e a Jugoslávia mergulhava no fratricídio. Em Abril, tudo parecia mais ou menos suspenso. Portugal inaugurava a Via Verde e assistia aos últimos episódios de Tieta do Agreste, enquanto as palavras finais de Freddie Mercury ressoavam no top de singles. “Innuendo” dava nome ao álbum, que seria o último dos Queen com Mercury, desaparecido em Novembro desse ano. O single liderou o top quase todo o mês, excepto por uma semana em que foi desalojado por “All This Time”, retirado do álbum The Soul Cages, o terceiro a solo de Sting.

No Reino Unido, as três primeiras semanas foram dominadas por “The One And Only”, canção de Chesney Hawkes, uma imberbe criatura de 19 anos, lançada meteoricamente para o sucesso pelo filme juvenil Buddy's Song. No final do mês, foi destronado por Cher com este “The Shoop Shoop Song (It’s In His Kiss)”, canção de que já aqui falámos como um daqueles sucessos que muita gente nem sabe que são um cover. Outros sucessos que não alcançaram o número 1 nesse mês, mas ficaram no top da memória até hoje: “Sit Down”, dos James, e “The Whole of the Moon”, de The Waterboys.

Nos Estados Unidos, a Primavera fazia das suas, chegava o calor, as árvores vestiam-se, as pessoas despiam-se, e o top foi rodando semanalmente por quatro juras de paixão assolapada. Começou com “Coming Out Of The Dark”, de Gloria Estefan, e fechou com “Baby Baby”, de Amy Grant. Pelo meio, o título de single mais pegajoso pertenceu a “You're In Love”, de Wilson Phillips, e a este “I've Been Thinking About You”, dos Londonbeat, que também fez sentir a sua carga viral por cá.

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Há 20 anos: Abril de 2001

Em Abril de 2001 a Holanda legalizava os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Slobodan Milošević era finalmente capturado e os russos davam boleia ao americano Dennis Tito até à estação espacial internacional, fazendo dele o primeiro turista cósmico de sempre.

Em Portugal, a canadiana Lara Fabian estacionava no primeiro lugar do top, e por ali ficaria um terço desse ano com um álbum em nome próprio. De Fevereiro a Maio, esteve 15 semanas em número 1 de vendas – um recorde – e neste mês de Abril ocupava também o top de singles com este “Love by Grace”.

O Reino Unido ainda se despedia das Spice Girls, a sua mais famosa girl band de sempre, quando a “Baby Spice” Emma Bunton trepou ao top sozinha, na sua estreia a solo com o single “What Took You So Long”. E por ali ficou duas semanas até que foi varrida por um hit de outra banda de moças vinda do lado de lá do Atlântico. À boleia deste “Survivor” (que podia bem ter entrado nesta lista de músicas inspiracionais que aqui deixámos há uns tempos), as Destiny’s Child venderam 12 milhões de álbuns, recolheram um Grammy, foram número 1 no Reino Unido e só não passaram da segunda posição nos Estados Unidos por causa da senhora que se segue.

Nos Estados Unidos, em Abril de 2001, não havia como fugir à voz de Janet Jackson, que alugou o trono da Billboard Hot 100 para uma temporada de sete semanas (um recorde desse ano). Foi o décimo e (até à data) último single de Jackson a alcançar o número 1 norte-americano. Em Portugal a coisa foi mais mansa e não foi além do oitavo lugar.

Há 10 anos: Abril de 2011

Em Abril de 2011, Portugal pedia ajuda externa e abria a porta à troika, Fidel Castro retirava-se do poder em Cuba ao fim de 45 anos, e os Estados Unidos registavam um recorde histórico de 758 tornados num só mês.

Em som de fundo, celebrava-se a memória de um havaino. Quase 14 anos depois da sua morte, Israel Kamakawiwo'ole (também conhecido por Bruddah Iz, ou simplesmente Iz) era recordado com um best of da sua carreira e o medley “Somewhere Over The Rainbow / What A Wonderful World”, que em 1993 já tinha feito disparar a venda de ukeleles, regressou como um êxito mundial. Em Portugal, entre 13 de Março a 1 de Maio, apenas a britânica Adele se conseguiu intrometer na liderança, por uma semana, com “Rolling In The Deep”.

Entretanto, no Reino Unido alastrava uma praga de ft. (abreviatura para “featuring”, que é maneira de dizer que o artista principal tem visitas). O top de Abril dividiu-se em quinzenas. Na primeira liderou “On The Floor”, uma lambada de alta voltagem cantada por Jennifer Lopez ft. Pitbull; na segunda foi a vez de “Party Rock Anthem”, single de LMFAO ft. Lauren Bennett e GoonRock.

Nesse ano, Stefani Germanotta tornava-se a primeira artista a alcançar mil milhões de visualizações no Youtube. Para isso contribui também o álbum Born This Way, de onde se retira o single homónimo, que em Abril desse ano alcançaria o top de referência dos Estados Unidos. Porém, apenas uma semana depois, a rapariga que o mundo conhece como Lady Gaga era destronada por outros ft. Nas três semanas seguintes o cume da Billboard Hot 100 seria ocupado por “E.T.”, canção de Katy Perry ft. Kanye West; no final do mês, sucedia “S&M”, canção de Rihanna ft. Britney Spears.

Música para os seus ouvidos

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Por mais anos que passem, os concertos no banho continuarão a ser fenómenos. Isto porque, se pensar bem, há poucas coisas mais hilariantes do que aquele mini concerto à porta fechada que todas as manhãs – ou tardes ou noites, somos inclusivos nos horários – acontece sem pudores.

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