Há 40 anos: Outubro de 1981
Na Suécia, nasce o Nordic Mobile Telephone (NMT), o primeiro sistema de telefone celular do mundo. Também na Suécia, nasce Zlatan Ibrahimović. O primeiro-ministro egípcio, Muhammad Anwar Al Sadat, é assassinado enquanto assiste a uma parada militar. Hosni Mubarak é eleito seu sucessor. Em Fraça é finalmente abolida a pena de morte e acaba-se a história da guilhotina. As FP 25 de Abril reclamam a autoria de um atentado à bomba contra um industrial têxtil do Norte e de um assalto ao Banco Fonsecas & Burnay.
Já que andámos de férias, recuemos um pouco mais que Outubro. Durante todo o mês de Agosto e a primeira metade de Setembro, o top nacional foi liderado por “Enola Gay”, dos Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD). Foram sete semanas consecutivas na liderança, mas esse nem foi o feito mais notável da banda britânica. Impressionante mesmo foi a capacidade de criar um exorcismo pop que pôs tanta gente a dançar ao som de uma tragédia. Recordemos. A 6 de agosto de 1945, às oito horas e 15 minutos da manhã (“It's 08.15 / And that's the time that it's always been”), a bomba atómica "Little Boy" foi lançada sobre Hiroshima por um bombardeiro B-29 norte-americano, o Enola Gay, assim baptizado em memória de Enola Gay Tibbets, mãe do piloto da aeronave, o coronel Paul Tibbets (“Enola Gay / Is mother proud of little boy today?"). Cerca de 80 mil pessoas morreram naquele instante, outras 60 mil morreriam das sequelas até ao final do ano (“Ah-ha this kiss you give / It's never ever gonna to fade away”). Está guardado no álbum Organization e foi o segundo single mais vendido desse ano em Portugal. O primeiro foi o que se segue.
Kim Karnes, que no final da Primavera de 2001 já liderara a Billboard norte-americana, por nove semanas consecutivas, com “Bette Davis Eyes”, sucede aos OMD. Contas feitas, o single mais vendido de 1981 haveria de ocupar a liderança do top nacional por 12 semanas e ajudaria a fazer de Mistaken Identity um dos álbuns mais vendidos do ano também (o oitavo, para sermos precisos). A canção é uma espécie de advertência contra os encantos de uma certa femme fatale, que não só tem os olhos de Bette Davies como ainda lhe junta os suspiros altivos de Greta Garbo (“Greta Garbo's standoff sighs”), numa mistura explosiva capaz de desgraçar qualquer homem sério. Se lhe juntarmos “Maneater”, de Daryl Hall & John Oates (1982), e “Easy Lover”, de Phil Collins e Philip Baile (1985), temos uma boa lista temática do género “põe-te a pau com ela” (fica a ideia). Além disso, “Bette Davis Eyes” também ficaria bem na nossa lista de canções que provavelmente não sabe que são covers. É que a canção, na verdade, pertence a Jackie DeShannon, respeitável cantautora norte-americana, e o registo original, de 1975, é assim mais pop-country.