“Pur ti miro”, de L’Incoronazione di Poppea, de Monteverdi
L’Incoronazione di Poppea (1643) foi uma das primeiras óperas a trocar os enredos da mitologia greco-romana pela história da Antiguidade Clássica – e uma história pouco edificante, por sinal, uma vez que trata da ascensão de Popeia Sabina, esposa de Otão, a consorte de Nero e imperatriz, o que é conseguido à custa do afastamento de Cláudia Octávia, a primeira esposa de Nero, e da nomeação de Otão para governador da pobre e remota Lusitânia. Popeia e Nero surgem como criaturas sem escrúpulos, que não olham a meios para satisfazer os seus caprichos e ambições, mas, contrariando as convenções morais da ópera daquele tempo, o libreto pune os virtuosos e recompensa os canalhas, pelo que a ópera encerra com o dueto “Pur Ti Miro, Pur Ti Godo”, em que Nero e Popeia, superados os obstáculos e descartados os seus legítimos consortes, celebram o seu amor.
[“Pur Ti Miro, Pur Ti Godo”, pela soprano Danielle de Niese (Poppea) e pelo contratenor Philippe Jaroussky (Nerone), com Les Arts Florissants e o maestro William Christie, ao vivo no Teatro Real de Madrid, em 2010 (DVD Virgin/Erato)]