André Henriques
O guitarra, voz e letrista do quarteto lançou-se recentemente a solo.“E De Repente” é o primeiro avanço do disco que será apresentado a 22 de Abril, no Capitólio.
Dedilhares, riffs intercalados a voz, apontamentos suaves na bateria, ajustes a tempos e a deixas e o silêncio do recomeço, ainda a quente. A mecânica dos Linda Martini na pequena sala de ensaios do Haus, o estúdio em Santa Apolónia que serve de laboratório também a Paus, Capitão Fausto ou You Can’t Win Charlie Brown, é semelhante a um Rorschach sem guia; cada pequeno nada serve para construir os momentos que, ao vivo, podem valer tudo. Não há novidade neste movimento entre Hélio Morais (bateria), Cláudia Guerreiro (baixo), André Henriques (voz e guitarra) e Pedro Geraldes (guitarra), ou na relação que daqui levam ao público: íntima, voraz, caótica.
Dezassete anos depois da fundação, há uma clara antítese à primeira linha de ‘Volta’, “há tanto tempo que nada acontece”. Para eles, tudo aconteceu: paternidades, maternidades, projectos paralelos. Mas nada se perdeu. Atritos de um casamento a quatro à parte, estão a chegar novamente a um terreno primaveril e preparam-se para fechar o ciclo do disco homónimo, lançado em 2018, no Coliseu dos Recreios, esta sexta-feira. A caminho há um novo trabalho, de esqueleto delineado, mas ainda sem suporte, que em 2020 chegará à luz.
Têm novo disco planeado. O que é que já está feito?
Hélio Morais: Começámos a trabalhar em estruturas de músicas e apercebemo-nos que já tínhamos um esqueleto bastante aceitável para nos pormos numa residência em breve. Vamos fazer um retiro entre os dois Coliseus [depois de Lisboa, tocam no Porto a 13 de Fevereiro] para estruturar esses esqueletos de forma mais definitiva. Em termos de ideias que se tornem canções, estamos bastante avançados; se calhar nenhuma daquelas ficará no disco mas temos bastante material para definir e fechar.
O Pedro dizia, numa entrevista de 2018, que o Linda Martini é o vosso álbum mais visceral. Depois do que já fizeram, que caminho é que há?
Pedro Geraldes: Estamos à procura. Sentimos que o disco tinha esse lado mais visceral e mais próximo do live pela captação. Pelo trabalho que tivemos com o produtor [Santi Garcia]. Em termos musicais tem muito desse lado, mas o Casa Ocupada provavelmente já tinha. O próximo disco, daquilo que se tem registado, tem muito esse lado pesado. Uma densidade. Mais negro. Menos explosivo.
André Henriques: Se bem que nunca fomos solarengos.
H.M.: O outro é tipo catártico, este é mais mastigado, uma coisa mântrica, quase. É a vibe que nos está a passar.
Que vibe é essa?
P.G.: Depois de tantos discos juntos, percebemos que há um mecanismo que é criado quando estamos a compôr. E estamos a tentar subvertê-lo. Temos as ideias e, para as arrumar, estamos a contar com um método que nos leve a outros caminhos. À medida que a vida avança, vamos tendo filhos, a disponibilidade não é a mesma, e esperamos que isso nos surpreenda no resultado final.
A.H.: É o disco que estamos a encarar de forma distinta dos restantes. Na verdade nunca pensamos muito no que vamos fazer, e desta vez estamos mais concentrados no processo, como o vamos fazer, não tanto no som. É o disco mais discutido antes de arregaçar as mangas. Isso é bom, dá-te pica.
Tendo em conta os outros projectos (Paus, André Henriques, Mão Verde), como é que articulam tudo?
Cláudia Guerreiro: Só o facto de teres menos tempo influencia-te logo. Quando tens cinco minutos para fazer uma coisa, fazes, quando tens uma hora, fazes outra.
A.H.: Todas as coisas em que participamos ou vamos participar, quando são puxadas para dentro do núcleo, enriquecem. Há uma coisa que está na nossa base, que é o facto de termos crescido como músicos juntos. E a grande influência que temos são sempre estas quatro cabeças. É normal viajarem, fazerem outras coisas, mas quando se juntam todas as coisas que se plantaram fora, sabe bem trazer para dentro. Uma coisa que sentimos sempre é que queremos renovar-nos de disco para disco e sentirmos a pica de miúdos.
Em 2016 tocaram pela primeira vez em nome próprio no Coliseu. Numa altura em que cada vez mais artistas actuam naquele palco, há algum peso, ou a experiência banalizou-se?
A.H.: É curioso porque em 2016 não era tão acessível.
H.M.: A ideia que tenho é que antigamente as bandas que chegavam a um auditório muito grande e ficavam mainstream, eram bandas que tinham carreira. Implicava uma construção. Com a internet, tens artistas que de um ano para o outro ficam gigantes. E têm público para encher o Coliseu.
Estão quase nas duas décadas de banda. Ainda acontece sentirem-se como miúdos?
C.G.: Sim, a diferença é que não temos aulas amanhã.
A.H.: Completamente. Ainda hoje, se estou em casa ou estou aqui, e de repente há uma merda qualquer, vou mandar-lhes, dizer-lhes para ouvir, para depois juntarmos. Sei lá, há alguma coisa.
H.M.: O grosso das nossas decisões vai até contra a noção de maturidade, de negócio. Muitas vezes não tomamos decisões que nos favoreceriam desse ponto de vista. Isso também é ser puto.
Cláudia, sentes que as mulheres já têm o protagonismo devido no rock?
C.G.: As mulheres estão habituadas a ter um lugar de protagonismo na música, não há muitas que fiquem atrás. Normalmente têm um papel de destaque ou não têm papel de todo. E no hip-hop é só ela [como figura central]. Não hás-de ter muitas DJs mulheres no hip-hop. É mais uma cena de emcee. Também tens algumas guitarristas. Mas o que tens mais é mulheres a liderar. Se assim não for, não acontece.
De que forma é que este concerto é um final de ciclo?
P.G.: Tivemos dois anos de disco, que foram muito bons, tocámos muito, e agora que já estamos a pensar noutro era uma boa forma de o fechar. De poder, simbolicamente, fazer uma celebração. Dar descanso à cara da Linda Martini [a capa do disco].
H.M.: É o funeral mexicano do disco.
Têm colaborações pensadas para o próximo disco?
A.H.: Não há nada pensado. Mas já aconteceu fazermos convites que por uma razão ou outra bateram na trave.
C.G.: Convidámos o Zé Mário Branco para a “Putos Bons”, do Sirumba, mas ele não quis.
O guitarra, voz e letrista do quarteto lançou-se recentemente a solo.“E De Repente” é o primeiro avanço do disco que será apresentado a 22 de Abril, no Capitólio.
A bateria siamesa de Paus já é uma moldura bem conhecida e Hélio Morais tem uma parte importante da responsabilidade. Yess, o mais recente disco do quarteto, saiu no passado Outubro e recebeu quatro estrelas da Time Out.
A baixista de Linda Martini é também ilustradora e tem estado a trabalhar com o guitarrista Filho da Mãe num concerto ilustrado. Ela não toca, só desenha. A próxima apresentação ainda não tem data.
Está a fazer o 7 Colunas, uma peça com sete temas ainda sem data de estreia. Colabora com Capicua no projecto Mão Verde, de música para crianças, e está a acompanhar Carminho ao vivo.
Não há nada mais entediante do que trabalhar sem uma banda sonora digna, que nos dê aquele empurrão necessário à criatividade, que nos relaxe ou que nos leve a viajar uns minutos para voltarmos ao trabalho. Na Time Out queremos que faça a sua jorna caseira com (algum) entusiasmo e, por isso, damos-lhe 13 músicas para trabalhar em casa.
Vá por nós, prepare o telefone, a coluna, leve a toalha e rode as músicas para cantar no banho.
Dos icónicos Marvin Gaye, Curtis Mayfield e Johnny Mercer, aos contemporâneos A$AP Rocky e Anderson Paak, esta lista é um apanhado de tudo o que nos faz querer sair da cama. Pequenas obsessões, paixões duradouras, coisas de momento. Destape-se com estas músicas para começar bem o dia. Também pode seguir esta playlist no Spotify.
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