L’Incoronazione di Poppea, de Monteverdi
Estreia: 1643, Veneza
Contexto histórico: Final da década de 50 d.C. Popeia Sabina casara aos 14 anos com Rúfio Crispino, que era comandante da Guarda Pretoriana. Quando Rúfio foi demitido deste cargo pela imperatriz Agripina, mãe de Nero, Popeia divorciou-se dele e foi em busca de um marido mais adequado às suas ambições: Marco Sálvio Otão, que era um dos amigos mais próximos de Nero, que entretanto chegara a imperador. Popeia e Otão casaram-se (ela por interesse, ele por paixão), mas não tardou que Nero e Popeia se apaixonassem e começassem a maquinar para se desembaraçar dos respectivos cônjuges. Nero acabaria por enviar o “best friend forever” Otão para uma espécie de exílio, ao nomeá-lo governador de uma província distante e pobre – a Lusitânia –, Agripina, que se opunha ao casamento, foi liquidada em 59 d.C. (após vários atentados mal sucedidos) e Nero divorciou-se da sua esposa Octávia (alegando que esta era estéril) e condenou-a ao exílio (alegando, desta vez, adultério) na minúscula ilha de Pandateria (mais tarde, achando que isso não bastava, ordenou que ela se suicidasse). Popeia pôde então casar-se com Nero, tornando-se imperatriz. Em 63 d.C., por ocasião do nascimento do primeiro rebento imperial, Nero conferiu-lhe o título de “Augusta”. Viveram felizes para sempre? Não: quando Popeia estava grávida de um segundo filho, Nero, numa discussão conjugal, matou-a com um pontapé no ventre.
Libreto: Giovanni Francesco Busenello baseado nos historiadores romanos Tácito e Suetónio e numa peça de autor romano anónimo. Foi o primeiro libreto de ópera a inspirar-se em factos históricos – até aí tinha-se recorrido sobretudo à mitologia clássica.
Ópera: Foi a derradeira ópera de Claudio Monteverdi (1567-1643), cujo L’Orfeo, de 1607, fora uma das primeiras óperas da história. L’Incoronazione di Poppea marca uma admirável evolução desde esse ensaio pioneiro e contém elementos que irão definir a progressão da ópera no século e meio seguinte.
[“Dorme l’Incauta Dorme”, por Sandrine Piau (Amore) e Les Talens Lyriques, com direcção de Christophe Rousset, na Nederlandse Opera, Amesterdão, 1994 (DVD Opus Arte)]