Márcia tem aquele talento – mais raro do que se supõe – de partir da sua intimidade para criar objectos de valor universal. E ao quarto álbum, a escritora de canções expõe-se mais do que o costume.
O cantor e compositor britânico Scott Matthews palmilha caminhos folk próximos daqueles por onde Nick Drake – uma influência assumida dele – se moveu. Nesta quarta-feira, apresenta o seu mais recente álbum, The Great Beyond (2018), no Estúdio Time Out. Trocámos dois dedos de conversa antes do concerto.
Editaste os teus últimos discos através da tua própria editora. Preferes trabalhar assim?
Obviamente. Quem me dera ter criado a minha própria editora há anos. Trabalhar assim é libertador e enche-me de alegria, apesar de às vezes ser difícil conseguir os fundos necessários para pagar a gravação e o fabrico dos discos. Estou grato às pessoas que me apoiaram quando comecei, no entanto trabalhar com uma multinacional foi uma experiência da qual não ainda recuperei completamente, mesmo passados 12 anos.
Não te imaginas a voltar a trabalhar com uma grande editora, portanto.
Nunca na vida. Eu aprendo com os meus erros.
O teu novo disco, The Great Untold, soa mais cru. É diferente dos anteriores.
Sim. É quase como um novo começo, porque agora tenho um filho e isso obriga-me a encarar as coisas de outra maneira. Diria que os discos que escrevi antes deste, desde o Passing Stranger ao Home Part 2, fazem parte de um ciclo musical. E este marca o início de um novo ciclo.
A tua vida mudou muito depois do nascimento do teu filho?
Claro. É preciso fazer pequenos sacrifícios. O mais importante para mim, actualmente, é ser o melhor pai possível para o meu filho, o Elliott. Estou muito entusiasmado com o que vem aí, e por ver o mundo pelos olhos dele. Mal posso esperar para ele vir em digressão comigo e com a minha mulher.
Preocupa-te o mundo em que ele vai crescer?
É natural que estejas mais preocupado com o mundo e com o que acontece à tua volta quando tens filhos. Sinto uma grande urgência e vontade de corrigir certas coisas para que o Elliott cresça num mundo melhor. Ainda não sei o que posso fazer, mas, como diria o John Lennon, se “dermos uma hipótese à paz” vai tudo correr pelo melhor.
Como é que encaras o Brexit, por exemplo?
Na verdade ainda não pensei muito no que vem aí (só tenho espaço para o bebé na minha cabeça), ainda assim acho que o Brexit foi um grande disparate. Quero que o meu filho se sinta próximo de outras culturas e abrace outros modos de vida, e nesse sentido o Brexit parece-me um retrocesso civilizacional.