Por estes tempos, ir jantar a um restaurante da moda, num bairro da moda, é coisa para apanhar uma de três coisas: uma carta de cocktails, uma carta com um toquezinho asiático e uma carta com um lado sul-americano. No Colonial, encontrei-as a todas. Quanto às duas últimas, é verdade que o conceito, diz o site, é inspirado “nas influências portuguesas deixadas pelo mundo, em especial no Brasil, África e Ásia.” E também é verdade que esse tipo de cozinha está em voga em várias capitais europeias. Juntam-se as duas e, à mesa do novo restaurante do Memmo Príncipe Real, damos de caras com uma ementa 70% virada para fora de Portugal, dentro de um hotel onde se ouviu muito estrangeiro ao longo da noite – tudo isto para dizer que fico sempre com pena que muitos deles não cheguem a provar a gastronomia portuguesa, por mais toques autorais que leve.
Quanto à primeira – nada contra cocktails – contribui muitas vezes para disparar a conta, ou, ocorreu-me no Café Colonial pela primeira vez, para empatar os clientes. Passo a explicar. Tinha mesa marcada para as 22.00, cheguei às 22.02, fui recebida com a seguinte frase: “A vossa mesa está pronta, mas acabei de sentar umas pessoas, podem esperar aqui [aponta para uns sofás] ou no bar.” [deixa a carta de bar e a lista de vinhos]. Iria eu esperar cinco minutos? Uma hora? Dez minutos volvidos, fui saber a resposta: “Pode sentar-se já, mas eu não posso tirar já o pedido”, dando a entender que estava relacionado com a chegada de pedidos à cozinha.
Ignorei os cocktails, pedi o vinho que ia beber à refeição e só às 22.25 é que me sentei à mesa. Ora se estivesse uma noite quente, até não me teria importado de ir esperar no terraço com vista rasgada para Lisboa. Ali, por mais caótica que estivesse a chegada de pedidos à cozinha, a espera não foi agradável – até porque o vinho só chegou já quando estava sentada (estão a ver o raciocínio dos cocktails?).
A noite abriu com um trio de manteigas muito bom: tinta de choco, amendoim com sal e kimchee. As três macias, saborosas, na temperatura certa para barrar, as tostas muito fininhas, muito estaladiças. Contrariando as influências coloniais, pedi o escabeche de perdiz do chef (13€). Um prato raras vezes encontrado em ementas lisboetas, aqui muito bem feito, a chegar num frasco, dose XL, a perdiz saborosa, o escabeche fresco, a trazer as mesmas tostas do couvert (obrigada!) e puré de maçã. Já o croquete de rabo de boi (2,50€), caríssimo para o tamanho, tinha um óptimo recheio ainda com a carne a desfiar (mais perto de um pastel de massa tenra), mas numa fritura tosca e oleosa. Não achei também particularmente fresco o chutney de abacaxi com malagueta que vinha a acompanhar. Tinha óptimas memórias de um bom croquete de pato que o chef Vasco Lello fazia no Flores do Bairro (de onde veio) e este ficou aquém.
Muito bom o pato asiático (18,50€), fatias de pato assado tostadas na crosta, rosadas no interior, muito macias, para molhar num cremoso molho hoisin (o do pato à Pequim). Ao lado, aquilo que a carta chama de noodles de legumes, mas na verdade era uma taça generosa (XL, de novo) de noodles de legumes com pato. Uma surpresa, mas uma boa surpresa, este pato ao quadrado. O caril de camarão (18€) tinha tudo para ser vencedor: frescura nos camarões, um molho denso e bem apurado, arroz basmati bem solto, paparis estaladiços, chutney de manga, quiabos, lascas de coco... faltava só sal. Ainda assim, uma vez rectificado, resultou num bom caril.
Demasiado doce o suspiro de frutos tropicais (7€) com gelado de goiaba – o melhor da sobremesa inteira –, merengue e pedaços de manga, maracujá, papaia, kiwi. O conjunto algo trapalhão, com molhos coloridos a atravessar o prato em todas as direcções, a fruta cortada de forma grosseira.
Balançando a coisa, e fora o percalço do início e uma ou outra afinação nos pratos – frituras, temperos, acertar no tamanho das doses, tanto para mais como para menos – o Café Colonial tem tudo para traçar um bom caminho. Bonito já é, boa música já passa, bom ambiente já consegue ter. Chega por um triz às quatro estrelas, mas chega.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.