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A história vai longa – dois séculos de produção industrial e as duas iniciais portuguesas que, muito provavelmente, mais mundo correram. É verdade que 200 anos de Vista Alegre dão pano para mangas, mas na exposição que esta sexta-feira abre ao público no Palácio Nacional da Ajuda, a capacidade de síntese de dois curadores e de uma consultora foi posta à prova. Numa única sala – oval, por sinal –, a viagem ao passado faz-se através de dezenas de peças dispostas sobre uma linha cronológica.
"O nosso trabalho foi, precisamente, a partir dessa imensidão de peças, pensar numa forma de as colocar numa exposição que representasse exactamente esses 200 anos", começa por assinalar Anísio Franco, director-adjunto do Museu Nacional de Arte Antiga, que assina a curadoria da exposição "Rumo ao Infinito – Vista Alegre, 200 Anos de Criatividade", juntamente com Filipa Oliveira, directora da Casa da Cerca, em Almada. A estes junta-se ainda Filipa Quatorze, directora do Museu Vista Alegre, no papel de consultora.
Se para os curadores, a viagem começou numa visita à fábrica centenária – com Filipa Quatorze a abrir-lhes as portas de um imensurável arquivo –, na Ajuda, esta começa forçosamente em 1824, ano da fundação da fábrica, por José Ferreira Pinto Basto. O que nem toda a gente sabe é que a Vista Alegre nasceu para produzir vidro. A porcelana só veio mais tarde, com a descoberta de uma jazida de caulino – o barro branco – em Vale Rico, concelho de Santa Maria da Feira, nos anos 30 do século XIX. Com a matéria-prima à disposição, a Vista Alegre iniciou-se na produção que viria a marcar todo o seu percurso, até aos dias de hoje – os objectos em porcelana.
A história conta-se a partir daí, acompanhando a evolução das formas, mas também do engenho tecnológico e da própria criação artística que cedo se tornou um dos pilares da marca. Percorrer estes dois séculos torna-se fácil com a ajuda de uma grande estrutura, também ela oval, projectada por Nuno Gusmão do P 06 Studio. Branca por dentro, dourada por fora, assemelha-se a uma grande caixa de jóias, onde a porcelana – habitualmente distante e vista através de vitrines – surge próxima o suficiente para que se vejam detalhes, acabamentos e até erros.
Entre os tesouros expostos na Sala dos Embaixadores – cerca de 400 peças –, encontramos uma das peças produzidas na primeira fornada de porcelana da fábrica, destinada à Infanta D. Isabel Maria, filha de D. João VI. Os meados do século XIX ficaram marcados pelas primeiras encomendas, como a baixela para o Marquês de Abrantes, a primeira a ser personalizada. Anos depois, sairia da fábrica o serviço do casamento de D. Carlos I, que ainda hoje permanece no palácio.
Com as décadas, avançam as modas. Por entre temas românticos, os primeiros traços de Arte Nova surgem 1870. Depois do fascínio pelo Oriente, a egiptomania na viragem do século. A Art Déco espreita logo a seguir e, já nos anos 1930, a escultura entra em força nos ateliers da Vista Alegre. A sobriedade do pós-guerra, a conquista do mercado (e do gosto) norte-americano e a colaboração com mestres como Cruzeiro Seixas, Pomar, Siza e Nery são capítulos que trazem a história até aos dias de hoje.
Numa exposição que quer reflectir passado, presente e futuro, a visita estende-se por outras duas salas. Numa, a marca apresenta uma selecção de peças comercializáveis, onde os visitantes podem inclusive fazer compras. Noutra, olha-se para o futuro através de uma instalação de Clare Twomey. "Apaixonada" pelo processo que envolve a porcelana industrial, a artista plástica britânica apresenta Continuum, uma parede onde a porcelana líquida escorre continuamente. No futuro, tal como no passado, a Vista Alegre vê a sua matéria-prima. É com ela que tudo começa, sempre.
Largo da Ajuda. Qui-Ter 10.00-19.00. Até 25 de Maio de 2025. 7€ (12,50€ com visita ao palácio)
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