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"331 Amoreiras em Metamorfose" é o nome da exposição de longa duração que vai ocupar o Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva durante um ano, em celebração dos seus 30 anos. O número 331 não está aqui por acaso. Foram as amoreiras plantadas para alimentar a Real Fábrica das Sedas, parte do projecto industrial do Marquês de Pombal para esta zona. É nesse edifício que hoje se encontra o Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva.
Para manter a tradição que fez dos 10.º e 20.º aniversários anos de programação especial, o novo director, Nuno Faria, delineou um programa sob o signo da metamorfose, que começa esta quarta-feira, 20 de Novembro, com a inauguração da exposição, num museu já com várias novidades bem visíveis. Durante o período em que o museu esteve fechado ao público – cerca de uma mês e meio –, foi recuperado o amarelo como cor do edifício e a fachada tem agora o nome do museu, já com o lettering de Pedro Falcão, a quem coube redesenhar a identidade gráfica do museu. Lá dentro, vê-se o trabalho de Fernando Brízio, que desenhou a nova loja do museu e convidou Alice Aranha a fazer a intervenção do átrio, uma membrana entre exterior e interior, que integra folhas de árvores do jardim.
Trinta anos, uma exposição, cinco momentos
O ano já seria especial com a grande retrospectiva da obra de Maria Helena Vieira da Silva no Guggenheim de Veneza, que segue depois para Bilbao. Inaugura em Abril de 2025, e para lá vão algumas obras que veremos neste primeiro momento da exposição. Sim, leu bem: primeiro momento – são cinco. A exposição em si estará em metamorfose. São 80 os artistas contemplados, mas uns entram, outros saem, outros ficam permanentemente.
A exposição abre com o plano dos cinco momentos: I O Tecido do Mundo (20 Nov-9 Fev); II Uma Estreita Lacuna (13 Fev-4 Mai); III Histórias de Bichos da Seda (8 Mai-13 Jul); IV Notas Sobre a Melodia das Coisas (17 Jul-28 Set); V Ascensão: Vers la Lumière (2 Out-31 Dez). Ao lado, a primeira obra exposta. É O Regresso de Orfeu, a tela que Vieira da Silva pintou ao longo de seis anos – quando Arpad, o seu Orfeu, morreu –, num processo certamente doloroso desta história de amor entre dois artistas e que a exposição também conta sem palavras. Acompanham-na dois pequenos excertos das Metamorfoses de Ovídio, sobre a morte de Orfeu, precisamente.
É uma poderosa imagem, a da metamorfose, aqui aplicável em múltiplas direcções, desde o ponto de partida do poema de Ovídio, sobre a transfiguração de homens e deuses em animais, árvores, pedras e rios, sobre o contar histórias, à história do edifício do museu e envolvente, ligados à produção da seda a partir dos casulos, e à tecelagem, ela própria uma metáfora do contar histórias, e até ao próprio casal de artistas, em que a metamorfose é uma referência recorrente. É o que se vê num conjunto de obras com duas obras de José Escada e três de Arpad. Numa delas, Maria Helena é representada como uma metamorfose, uma crisálida. Noutros dois, a borboleta é figura central.
A exposição é, nesta sala principal, organizada assim, formando pequenos núcleos de quadros de Arpad ou Vieira da Silva, ou de ambos, em diálogo com outros artistas. “As coisas revelam-se quando estão lado a lado. Não é por acaso que estão lado a lado”, assinala Nuno Faria, na visita de imprensa. O tema árvore vai crescendo ao longo da exposição, começando com Jorge Feijão e chegando a um núcleo com Maria Capelo, Arpad e Vieira da Silva. E Ângelo de Sousa, claro, “que desenhou árvores a vida toda”, e mostra aqui “que um pássaro é uma árvore ao contrário”, brinca o director.
Artistas de diferentes gerações dialogam também, como acontece na sala com obras de início de carreira de Vieira da Silva, anos 30, onde encontramos também duas peças de Belén Uriel. São diferentes os ambientes de sala para sala. À direita, uma sala de grande claridade, com duas peças de grande relevância, dos anos 70, da série New Amesterdam. “É uma exposição muito rica porque há diferentes universos”, diz Nuno Faria, “e mostramos também obras pouco vistas. A colecção é muito rica em desenho de Arpad e vai revelá-lo cada vez mais.”
Um museu com novidades, a começar este fim-de-semana
Nuno Faria vai enunciando os seus desejos-projecto. “Quero que este museu conte histórias” – como a história, com mais de 50 anos, de enamoramento e curiosidade mútua dos dois artistas. “Quero um museu para as pessoas se poderem demorar”, onde não entrem com a obrigação de ver toda a exposição a correr, vejam com calma uma ou duas obras e voltem depois, já que o museu é agora de entrada livre para todos os residentes em Lisboa. “Podem vir um bocadinho à hora de almoço". “Gostava que o museu fosse um lugar inspirador em si mesmo, não só para ver Vieira da Silva e Arpad.”
A visita termina, mantendo o tema da metamorfose: “Gostamos das borboletas nocturnas tanto como das diurnas. A luz da noite é também bonita.” Ou seja, o museu faz agora planos para acolher programação nocturna. A começar já no fim-de-semana de reabertura, 23 e 24 de Novembro, às 21.00, com o concerto-leitura Uma Sucessão de Passos em Metamorfose, do Tomás Cunha Ferreira Quarteto, com Joana Cotrim, João Pereira, Rodrigo Bartolo e Tomás Cunha Ferreira.
Sábado às 18.00 e domingo às 16.00, há a projecção da cópia restaurada de Ma Femme chamada Bicho (1978), de José Álvaro Morais. E visitas guiadas pelo director, Nuno Faria, em ambos os dias, às 11.00, para o público geral no sábado e para famílias no domingo. A entrada é livre todo o fim-de-semana. A inauguração da exposição é esta quarta-feira, 20 de Novembro, das 18.00 às 22.00.
Praça das Amoreiras, 56-58 (Rato). Ter-Dom 10.00-18.00. 7,5€ (entrada livre para residentes em Lisboa e ao domingo para restantes visitantes)
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